Entrevista:O Estado inteligente

sábado, setembro 13, 2008

Kassab e Alckmin brigam para enfrentar Marta

Kassab entra na briga

O prefeito paulistano Gilberto Kassab empata
com Geraldo Alckmin e pode ficar com a vaga
para enfrentar Marta Suplicy no segundo turno


Fábio Portela

Luiz Guadagnoli/Secom/Divulgação
NO CENTRO DO RINGUE
Kassab iniciou a campanha com poucos
votos, montou uma estratégia matadora
e já está perto do round derradeiro


Na eleição de São Paulo, o prefeito Gilberto Kassab, do DEM, pode levar Geraldo Alckmin, do PSDB, às cordas. O tucano continua de pé, mas acusa os golpes. Segundo a mais recente pesquisa do Ibope, Kassab empatou com Alckmin no segundo lugar na disputa pela prefeitura paulistana, com 21% das intenções de voto. A petista Marta Suplicy perdeu 4 pontos porcentuais em relação ao último levantamento, mas mantém a liderança com a preferência de 35% dos eleitores. Kassab tem bons motivos para se animar com os números do Ibope. Desde o início do horário político, há um mês, seus índices de votação, que eram baixíssimos, praticamente triplicaram. O candidato tucano, por seu turno, engatou uma trajetória de queda. O comando da campanha kassabista avalia que as duas tendências serão mantidas até 5 de outubro, data da eleição.

A ascensão de Kassab nas pesquisas vem sendo creditada ao plano executado pelo seu marqueteiro, Luiz González. Sua primeira providência foi martelar na cabeça dos eleitores as realizações do atual prefeito nos últimos dois anos e meio. Kassab está à frente de uma gestão bem avaliada desde que José Serra deixou o cargo para se eleger governador, em março de 2006. Segundo o instituto Datafolha, 45% dos paulistanos consideram a administração do democrata boa ou ótima. Apesar do resultado, Kassab não conseguia associar sua imagem a esse sucesso pelo fato de ser pouco conhecido. A propaganda eleitoral no rádio e na TV está sanando o problema. González aposta que a estratégia pode levar Kassab a conquistar os votos de até 60% dos que estão satisfeitos com a prefeitura. "Nosso potencial é grande. Podemos chegar a 27% dos votos no primeiro turno", calcula o marqueteiro.

A evolução de Kassab também está relacionada à sua reconhecida capacidade de montar estratégias políticas eficientes. Para esta eleição, o prefeito ignorou em seu programa a candidatura de Geraldo Alckmin, o adversário mais próximo nas pesquisas, e passou a dirigir críticas à líder, Marta Suplicy. O PT mordeu a isca e revidou os ataques. Com isso, Alckmin saiu do centro do debate. "A eleição se tornou uma comparação entre a gestão de Kassab, que a população conhece, e a administração da Marta, que a população também conhece. Alckmin, assim, foi escanteado", diz o cientista político Bolívar Lamounier. A última vertente do plano kassabista era a mais simples: alardear sua ligação com o governador José Serra, que conta com alto índice de aprovação na capital paulista. Serra é do mesmo partido que Alckmin, mas até os patos do Parque do Ibirapuera sabem que o candidato do coração do governador é mesmo Kassab. Além das afinidades pessoais, Serra quer mantê-lo ao seu lado até pelo menos 2010, quando espera ter o apoio do DEM para disputar a Presidência da República.

J. F. Diorio/AE

QUE ANIMAÇÃO!
Alckmin sorri, entre Serra e FHC. Desde o início da campanha, o tucano perdeu um caminhão de votos e assistiu à degola de seu marqueteiro

Alckmin, ao contrário, acumulou equívocos. O principal foi não se posicionar nem como de situação nem como de oposição. Trata-se de um vício de origem. O ex-governador saiu candidato contra a vontade de parte de seu próprio partido, especialmente da ala liderada por Serra. Muitos tucanos trabalham em postos-chave da prefeitura e queriam que a agremiação apoiasse a reeleição de Kassab. Argumentavam que, como o PSDB faz parte da administração municipal, não faria sentido o partido se lançar contra o prefeito. Alckmin insistiu em sua candidatura, mas encontra dificuldades em justificá-la ao eleitor. Com um discurso confuso, passou a perder votos quando o horário político começou. Acuado, avaliou que estancaria a sangria se partisse para o ataque, mas errou o alvo. Em vez de tentar desconstruir a imagem da petista Marta Suplicy – que pertence ao partido ao qual o PSDB faz oposição –, passou a atacar a gestão de Kassab. Com isso, irritou Serra e seus aliados e vitaminou Kassab, ao colocá-lo em evidência quando ele ainda estava em terceiro lugar e lutava para subir alguns degraus na preferência popular.

O resultado foi uma crise na campanha do ex-governador. Tucanos exigiram uma guinada radical na propaganda de TV de Alckmin e pediram a cabeça de seu marqueteiro, Lucas Pacheco. Na última terça-feira, Pacheco descobriu que outros profissionais já eram sondados para seu lugar. Demitiu-se. Na saída, aumentou a temperatura do imbróglio ao declarar à Folha de S.Paulo que os serristas sabotavam Alckmin. Foi substituído por Raul Cruz Lima, um publicitário com pouca experiência em marketing político. Seu trabalho de maior relevo foi a vitoriosa campanha do "não" no referendo do desarmamento de 2005. Sua missão é, além de interromper a perda de votos, reconquistar eleitores perdidos. O tucano pode estar abalado, mas ainda tem chance de se recuperar. Alckmin, porém, já avisou que não abrirá mão dos ataques a Kassab, ou de "apontar as falhas da prefeitura", no eufemismo criado por seus assessores. Sua única concessão será reservar alguns cascudos para Marta Suplicy.

José Luis da Conceição/AE

O PT AINDA ESTÁ EM FESTA
Marta caiu na última pesquisa, mas parece que seu lugar está assegurado no próximo turno. Ela se beneficia do poderoso apoio de Lula

A petista foi quem teve a vida mais tranqüila até agora. Ela é sustentada pelo grande eleitorado do partido em São Paulo – desde 2000, o PT assegura, no mínimo, 30% dos votos na cidade, independentemente do candidato – e vinha sendo anabolizada pelos excelentes índices de popularidade do principal fiador de sua candidatura, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Marta chegou a ter 41% das intenções, mas, desde que Kassab começou a despontar nas pesquisas, a petista – a exemplo de Alckmin – viu parte de seu eleitorado evaporar. Apesar disso, ela ainda parece ser a única com vaga assegurada no segundo turno, quando espera contar com ajuda extra de Lula. "O presidente gravou um vídeo de apoio, participou de uma carreata e liberou cinco ministros para apoiar Marta. Já ajudou muito, mas ele mesmo disse que no segundo turno é que vai se jogar de corpo e alma na disputa", afirma o coordenador da campanha petista, Carlos Zarattini.

A vitória de Marta é peça importante no projeto de Lula de eleger seu sucessor em 2010. "São Paulo tem quase 7% do eleitorado nacional e atrai a atenção da mídia brasileira. As notícias sobre a eleição paulistana são acompanhadas por cidadãos de todos os estados – e muitos deles têm um parente ou conhecido que mora em São Paulo. Como é o centro cultural e intelectual do país, irradia idéias para outras regiões. Por fim, é a cidade mais rica do Brasil, onde os interesses dos grupos econômicos se exprimem primeiro", explica o sociólogo Antônio Lavareda. Por causa desses fatores, a influência de São Paulo transcende os limites do município. Lula sabe que, se Marta ganhar, ele também será visto como vencedor. Embalada pelo presidente, a ex-prefeita perde força, porém, diante de seu alto índice de rejeição, o que pode lhe trazer problemas no segundo turno. Segundo o Datafolha, 32% dos paulistanos não votariam nela nem amarrados. Kassab e Alckmin têm índices mais baixos, 24% e 17%, respectivamente. Qualquer um dos dois que avançar na disputa vai bater forte em Marta para explorar essa fragilidade. Só no derradeiro round, portanto, é que a petista entrará no ringue para valer.

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