O preço do petróleo registrou novamente uma forte queda e levou consigo as commodities agrícolas, atenuando as pressões inflacionárias. O petróleo já recuou 21% desde o seu recorde de US$ 147 em julho e as commodities agrícolas, 10,2% na semana.
São decisivos no cálculo da inflação e esse recuo dá mais espaço aos bancos centrais americano e europeu para não serem obrigados a elevar a taxa básica de juros, o que seria altamente danoso para o ainda frágil crescimento e o abalado mercado financeiro.
FESTA NA BOLSA
Quanto à bolsa americana, de cujo desempenho depende muito as demais, nem falar. Sustentou as altas dos últimos dias e os índices fecharam, na sexta-feira, em 2,7%, em média. Nem o prejuízo da Fannie Mae preocupou o mercado, aliviado também pela manutenção do juro nos Estados Unidos e na zona do euro. São sinais de que o aperto monetário foi adiado por mais algumas semanas.
MAS NÃO AQUI...
Ao contrário do que aconteceu em outros mercados, a queda do petróleo e das commodities agrícolas e minerais, não beneficiou a Bolsa de São Paulo, muito concentrada em ações da Petrobrás, da Vale e de poucas grandes empresas. Nesse sentido, a nossa bolsa descolou-se da americana e está sentindo, também, a saída de investidores estrangeiros que vendem posições aqui para cobrir prejuízos no exterior.
ECONOMIA GANHA FÔLEGO
A grande notícia desta semana é que, com o petróleo e os alimentos recuando, a economia mundial ganha novo fôlego para enfrentar o maior desafio, uma inflação. Ainda aqui, as notícias são auspiciosas. Os grandes exportadores agrícolas, entre eles o Brasil, com posição de destaque, estão anunciando grande produção. O Departamento de Agricultura dos EUA, na terça-feira, reafirmou a previsão de boa safra, principalmente de grãos. Dessa forma, será possível renovar estoques e abastecer a demanda mundial sem pressão sobre os preços. Pode até haver recorde na produção mundial de trigo.
CONSUMO NÃO EXPLODE MAIS
Ao mesmo tempo, há a sensação de que a demanda mundial por alimentos chegou ao seu ponto máximo com a entrada anual de 200 mil novos consumidores urbanos. Haverá sempre aumento da procura de alimentos, sim, mas provavelmente não no mesmo ritmo dos últimos anos. Mas há também a certeza de que a fome na África e nas regiões mais pobres da Ásia está longe de ser superada. A FAO reafirma que só com grandes recursos para compra de alimentos, para incentivo e educação agrícola, a fome poderá ser atenuada nos próximos anos. Tudo indica, porém, que os países ricos da Europa, do Oriente Médio e os Estados Unidos sensibilizaram-se para enfrentar esse terrível desafio humano, agora mais fácil de ser tratado com o aumento mundial da produção agrícola e animal.
ATÉ O DÓLAR AJUDOU
Nesta semana, a moeda americana se valorizou com um empurrãozinho de Ben Bernanke (presidente do banco central americano). Isso ajudou a reduzir as pressões sobre o preço do petróleo, comercializado em dólar. Quase sempre quando o dólar recuava, o preço do petróleo aumentava (é verdade que dependia também de outros fatores), gerando pressão sobre a inflação mundial e o crescimento econômico.
OTIMISMO, MAS COM CAUTELA
Essa alegre sensação de alívio no mercado financeiro e na economia mundial foi recebida, porém, com alguma cautela pelos analistas. Na verdade, diziam eles, esses bons resultados continuam na dependência de dois fatores isolados, mas que influenciam mutuamente os preços do petróleo e das commodities agrícolas. Ou, para simplificar, as condições climáticas nas lavouras e geopolíticas, no petróleo. Havia ainda, nesta semana, dúvida se a queda da cotação do petróleo indicava um novo nível de preço recuando para perto de US$ 100. Há muitos fatores imponderáveis quanto a prever, nesse momento, o futuro do preço do petróleo.
PARA NÓS, AJUDA, MAS...
O recuo ou estabilização dos preços dos alimentos favorece o Brasil na luta contra a inflação - já estamos vendo recuo de alguns preços -, mas reduz a receita das exportações. O nosso já retraído e agora imensamente necessário superávit comercial depende essencialmente das vendas agrícolas e do agronegócio. No entanto, como a prioridade é conter a inflação, podemos dizer que este é um bom cenário para o Brasil, embora menos confortável para o comércio exterior. Mesmo assim, o quadro que se desenha a partir desta semana no mercado financeiro e na economia mundial pode ser considerado favorável ao Brasil. Nós e o mundo estamos conseguindo superar bem a dupla crise, financeira e crescimento, embora haja ainda um caminho acidentado a percorrer. Um caminho de pedras, sim, mas não de precipícios, como tantos apregoavam em Londres e em Nova York.
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