Entrevista:O Estado inteligente

sábado, agosto 02, 2008

O risco Bolívia

O GLOBO EDITORIAL,
O presidente da Bolívia, Evo Morales, é discípulo dileto de Hugo Chávez, da Venezuela. Foi o primeiro a adotar o “kit bolivariano” do caudilho de Caracas, que consiste basicamente na realização de referendos para, com alto apoio popular, mudar radicalmente o arcabouço institucional do país. É a chamada democracia plebiscitária, que permite manipular a opinião pública a favor dos desejos do mandatário.

E tanto os de Chávez quanto os de Morales apontam para a atrofia democrática.

Ocorre que a Bolívia não é a Venezuela.

E Morales não tem sido um bom aluno. Ele não levou em conta que a população pobre e indígena do país, grande e importante, não é única. Suas políticas socialistas encontraram forte oposição na região oriental, onde ficam os departamentos (estados) mais desenvolvidos, como Santa Cruz. E eles lançaram mão da arma de Chávez/Morales: o referendo. A população dos quatro estados votou a favor da autonomia.

Desde então, o país vive em impasse.

O presidente avança ou recua de acordo com o maior ou menor risco de ruptura. Numa tentativa de se fortalecer, propôs, e o Congresso aprovou, a realização de um referendo revogatório no dia 10.

O governante (presidente, vice e governadores) tem de obter, para seguir no cargo, no mínimo a votação com que foi eleito. No caso do presidente, são 53,7% (sua votação em 2005) mais um. A aposta de Morales é ganhar e afastar alguns governadores de oposição. O objetivo final ainda é adotar uma Constituição que reforça o poder do Executivo, aumentando também a autonomia de comunidades indígenas.

O texto foi aprovado numa sessão da Assembléia Constituinte que, diante de choques entre manifestantes contra e a favor do governo, se realizou num quartel em Sucre, sob boicote da oposição.

O risco de o impasse continuar após o referendo é grande, já que Santa Cruz decidiu não realizá-lo e continuará se opondo a Morales.

Apesar de alguns indicadores favoráveis — a economia cresceu 6% no primeiro trimestre — o descontentamento se espalha. A Central Operária Boliviana (COB) comanda marchas de protesto em La Paz; há bloqueios de estradas; e organizações de oposição convocaram greves de forme amanhã em Santa Cruz, Bení, Pando e Tarija.

Morales está na metade do mandato.

Se for confirmado no cargo, deveria inverter as expectativas e trocar as políticas divisivas pelas de inclusão. Os estados demonstram disposição para negociar, se o presidente passar a governar para todos os bolivianos. Esta é a única saída para o país.

Arquivo do blog