Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, agosto 07, 2008

O que Lula fez e o que não fará



Artigo - Sérgio Malbergier
Folha de S. Paulo
7/8/2008

A ADESÃO , mesmo que tardia, do presidente Lula ao consenso econômico liberal destravou empresários brasileiros e investidores estrangeiros num momento da conjuntura global extremamente favorável ao Brasil.
Os resultados são incontestáveis.
A renda média e o emprego formal crescem há anos, a indústria bate recordes de produção e faturamento, as empresas lucram como nunca, a vital concessão de crédito se expande e se alonga, a corrente de comércio do país com o mundo, apesar e por causa do real valorizado, atinge picos jamais vistos, o PIB é puxado por investimentos, sinal de confiança no futuro.
O mercado interno finalmente se avoluma, assim como as reservas internacionais, dois colchões fundamentais para a segurança econômica. Milhões de pobres ascendem socialmente enquanto o número de milionários explode, prova de que as classes não competem entre si pelas riquezas do país, mas enriquecem juntas.
A principal explicação para os superlativos econômicos é simples: estabilidade. São já 15 anos de adesão às regras mais básicas do capitalismo, com o mínimo de contenção fiscal assegurado em lei e o respeito a regras do mercado garantidas hoje pelo líder inconteste da esquerda brasileira, o que barrou no país o populismo esquerdista que afunda os vizinhos argentinos, venezuelanos e bolivianos.
Pai dos pobres, mãe dos ricos, Lula é até aqui a ponte possível entre os extremos do Brasil. Sua instintiva insistência em aumentos vigorosos do salário mínimo e dos programas assistenciais contribuiu para reduzir desigualdades e fortalecer o mercado nacional.
Mas, se sua liderança foi importante para a evolução econômica, sua condução da grande política (aquela acima da disputa partidário-eleitoral) é um fracasso desolador. Seu silêncio sobre a corrupção e o assalto ao Estado orquestrados por máfias historicamente embutidas nos Três Poderes reforça a impunidade geral que as operações da Polícia Federal, por mais espetaculares que sejam, só arranham.
Os escândalos chegam assustadoramente perto do Planalto. Ministros de primeira grandeza caíram sob suspeitas gravíssimas. Não é criação de Lula nem do PT a corrupção geral e irrestrita, com origens tão antigas quanto nossas raízes ibéricas. O padrão do PT parece o mesmo de espúrias coalizões políticas anteriores, costuradas sob o falso pretexto da governabilidade, quando são guiadas apenas por fisiologismo e corrupção.
Lula seria maior que Lula se, do alto de sua aprovação popular e das conquistas econômicas, enfrentasse a praga corruptora que nos sufoca e nos atrasa. Mas ele é parte desse sistema político tosco e imaturo que jamais se auto-reformará.
Contra ele, Lula nada fará.

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