7/8/2008 |
O ministro da Justiça, Tarso Genro, está empenhado em fazer da Lei da Anistia letra morta. Como sabe que a revogação pura e simples da lei está além de sua competência como ministro, patrocina uma interpretação enviesada do texto que contribuiu decisivamente para a pacificação política do País, abrindo caminho para a redemocratização. Quer que os “torturadores” - e inclui nessa categoria apenas agentes do Estado - sejam levados à Justiça e punidos. “A partir do momento em que o agente do Estado pega o prisioneiro e o tortura num porão, ele sai da legalidade do próprio regime militar e se torna um criminoso comum. Não foi um ato político. Ele violou a ordem jurídica da própria ditadura e tem de ser responsabilizado”, afirmou ele em audiência pública organizada pelo seu Ministério. Leve-se essa interpretação a sério, e ninguém - da “subversão” ou da “repressão” - terá sido anistiado, uma vez que os governos militares mantiveram intacto o arcabouço jurídico do País, em especial o Código Penal, embora criando regras de exceção - como a prisão sem mandado e a incomunicabilidade. E, assim, nada seria crime por motivação política, e tudo seria vulgar infração da legislação penal. Essa, aliás, foi uma das características da chamada Revolução. Depois do discurso de 13 de março do presidente Jango Goulart, anunciando o seu projeto de República Popular Democrática, com o golpe de 31 de março instalou-se um governo de força, mas o governante de turno exercia mandato com data certa para terminar e o Congresso e o Judiciário continuaram funcionando. O regime de exceção se manifestava no poder de cassar mandatos eletivos e de suspender os direitos da cidadania. Nos países sul-americanos onde os militares tomaram o poder, na época, a ruptura institucional foi completa. A repressão foi brutal e sistemática. No Uruguai, por exemplo, além dos mortos e desaparecidos, mais de 1 milhão de pessoas tiveram de buscar asilo no exterior, temendo pela própria segurança. Na Argentina e no Chile, os mortos se contaram às dezenas de milhares antes mesmo que os opositores do regime militar se organizassem na resistência armada. No Brasil, os torturados, mortos e desaparecidos, durante as duas décadas de regime militar, não chegaram a 400 - e todos os casos foram documentados pela comissão coordenada pelo arcebispo d. Paulo Evaristo Arns e pelo reverendo Jaime Wright. O ministro Tarso Genro e o secretário de Direitos Humanos, Paulo Vanucci, apóiam as organizações que exigem que a Corte Interamericana de Direitos Humanos declare sem efeitos a Lei da Anistia. A Corte já adotou tal procedimento em alguns casos, mas nenhum deles tem semelhança com o caso brasileiro. Naqueles países, a anistia foi considerada derrogada porque foi concedida por um grupo que queria se proteger - os militares que deixavam o poder -, exclusivamente para seu benefício. No Brasil, como observou o ministro Celso de Mello, do STF, a lei teve caráter geral, abrangendo todas as pessoas que praticaram excessos em decorrência da existência do regime ditatorial. Destinou-se não a inocentar torturadores da direita ou da esquerda - que estes também existiram -, mas a permitir que a Nação construísse o seu futuro em harmonia. É claro que a Lei da Anistia não tem o condão de provocar amnésia - e é bom que seja assim. De tempos em tempos, é salutar que uma nação reflita sobre seus períodos negros para que eles não se repitam. Também não se pode esperar que as pessoas e famílias diretamente atingidas pela brutalidade não queiram satisfações. Algumas buscaram as reparações financeiras que o Estado tem concedido generosamente. Outras entraram na Justiça contra pessoas que denunciam como torturadores, a despeito de a Lei da Anistia estar em vigor. Nesses casos, a Justiça saberá o que fazer. O que não é admissível é que duas autoridades, ocupando elevados cargos no Executivo - o ministro da Justiça e o secretário de Direitos Humanos -, liderem uma campanha de aberta contestação à Lei da Anistia. Com sua atitude, já eriçaram as Forças Armadas e dividiram o governo - haja vista a reação do ministro Nelson Jobim. Se não forem contidos pelo presidente Lula, acabarão reabrindo cicatrizes e fazendo o País retroceder três décadas. |
Entrevista:O Estado inteligente
- Índice atual:www.indicedeartigosetc.blogspot.com.br/
- INDICE ANTERIOR a Setembro 28, 2008
quinta-feira, agosto 07, 2008
A Lei da Anistia editorial O Estado de S. Paulo
Arquivo do blog
-
▼
2008
(5781)
-
▼
agosto
(540)
- DRAUZIO VARELLA Fumantes passivos
- FERREIRA GULLAR
- DANUZA LEÃO
- Petropopulismo
- Demétrio Magnoli,Fragmentos de socialismo
- A força da gente Miriam Leitão
- O urso não deve ser provocado LUIZ FELIPE LAMPREIA
- O troco republicano Merval Pereira
- A solas con Néstor Kirchner Por Joaquín Morales Solá
- El cambio que quieren los Kirchner Por Mariano Gr...
- João Ubaldo Ribeiro
- Daniel Piza
- DORA KRAMER Polícia de boa vizinhança
- Boas notícias e desafios para o Brasil Alberto Ta...
- ''A riqueza do pré-sal depende do tamanho dos inve...
- A maldição do petróleo Maílson da Nóbrega
- A química ruim de Yunus Suely Caldas*
- McCainomics Celso Ming
- Os estragos do câmbio
- Privatização em São Paulo
- Linha direta entre Lula e FHC evitou pedido de imp...
- Augusto Nunes-SETE DIAS
- INVASÃO DE PRIVACIDADE
- China: medalhas e exportações
- Custo do pré-sal pode passar de US$ 1 tri
- RUY CASTRO Do noticiário
- Miriam Leitão Sonho americano
- Merval Pereira - Uma disputa estratégica
- Celso Ming,Melhor do que o previsto
- Dora Kramer Virtudes democráticas
- São Paulo acessível Mauro Chaves
- Meta fiscal versus meta de inflação
- O risco Argentina
- Preconceito no caminho de Obama
- VEJA Carta ao leitor
- VEJA Entrevista: James Roberts
- Diogo Mainardi O Eddie Murphy político
- Lya Luft O que valem as medalhas?
- Radar
- Gustavo Ioschpe
- J.R. Guzzo
- MILLÔR
- Especial Dilema eterno da humanidade: perdão ou ...
- A desforra via internet
- Memória Olavo Setubal
- Os efeitos da insônia na saúde dos adolescentes
- Traje motorizado permite a paraplégicos andar
- Tecnologia O Brasil ficou para trás em inovação
- EUA Barack Obama é aclamado candidato à Presidência
- Aborto A interrupção da gravidez de anencéfalos ...
- Petróleo O início da exploração das reservas do ...
- Espionagem A prova de que Gilmar Mendes foi gram...
- Tomara que ela acerte
- As dicas dos campeões do vestibular
- O brasileiro adere em massa às motocicletas
- O rei do chocolate
- Os esquecidos da bossa nova
- Hellboy II, de Guillermo del Toro
- Linha de Passe, de Walter Salles e Daniela Thomas
- Livros Dois autores israelenses contemporâneos
- O momento de Beatriz Milhazes
- VEJA Recomenda
- A reforma política de Lula editorial O Estado de ...
- Índio não quer mais só apito - João Mellão Neto
- Celso Ming - Cadê a recessão?
- Dora Kramer - Trocando em miúdos
- Míriam Leitão - A conta do estouro
- Merval Pereira - Sem novidades na AL (O Globo)
- Clipping 29/08/2008
- OS bons selvagens exploram garimpo ilegal? Estou c...
- JOÊNIA MORENA, JOÊNIA, VOCÊ SE PINTOU...
- clipping de 28/08/20008
- Resultados fiscais e reforma contábil editorial O...
- Perigosa recaída O GLOBO EDITORIAL
- Outro mundo EDITORIAL O Globo
- A soberania em juízo editorial O Estado de S. Paulo
- A despolitização da tortura
- Valdo Cruz - Tentações
- Míriam Leitão - Ajuste de contas
- Merval Pereira - Razão x emoção
- Dora Kramer - Uso do cachimbo
- Clóvis Rossi - Eleição x coroação
- Celso Ming - Despencou
- Alberto Tamer - Depois da festa, a economia
- RAPOSA SERRA DO SOL: ENTRE A REALIDADE E A MISTIFI...
- Twenty-Two Years in Castro's Gulag
- Míriam Leitão - Hora do ataque
- Merval Pereira - A raça como pano de fundo
- Dora Kramer - Desde a tenra infância
- Celso Ming - Até onde vai este rali
- Mais a sério- Ruy Castro
- Garibaldi foi à forra- Villas-Bôas Corrêa
- Porque Obama parece vulnerável
- Pré-sal trouxe até agora muito calor e pouca luz
- O Congresso na 'extrema-unção' editorial O Estado...
- Mais confusão no pré-sal editorial O Estado de S....
- Clipping do dia 27/08/2008
- Clipping do dia 26/08/2008
- Ruim é o gasto, não a conta
- MIRIAM LEITÃO - O mal já feito
-
▼
agosto
(540)
- Blog do Lampreia
- Caio Blinder
- Adriano Pires
- Democracia Politica e novo reformismo
- Blog do VILLA
- Augusto Nunes
- Reinaldo Azevedo
- Conteudo Livre
- Indice anterior a 4 dezembro de 2005
- Google News
- INDICE ATUALIZADO
- INDICE ATE4 DEZEMBRO 2005
- Blog Noblat
- e-agora
- CLIPPING DE NOTICIAS
- truthout
- BLOG JOSIAS DE SOUZA