Entrevista:O Estado inteligente

sábado, agosto 02, 2008

A indústria puxa o PIB Celso Ming

Se não chega a ser extraordinário, o desempenho da indústria brasileira é, no mínimo, muito bom.

No primeiro semestre cresceu nada menos que 6,3% em comparação com o primeiro semestre do ano passado, conforme apontaram os últimos números do IBGE. É ritmo mais forte do que o do avanço do PIB, que está ao redor dos 5,0% ao ano.

Mais do que isso, com esse resultado, será preciso corrigir as projeções em curso de que o PIB deste ano ficará substancialmente mais magro do que o projetado no início do ano. Apesar da retração da atividade econômica no exterior, não há mais tempo para derrubar a produção no País a ponto de empurrar a economia para baixo. Muito provavelmente, o PIB ficará mais próximo dos 5,0% do que dos 4,5%.

E o bom resultado é obtido em condições inegavelmente adversas: dólar barato demais, que tira competitividade do produto industrial brasileiro; juros muito altos, enorme carga tributária interna e forte alta dos preços das matérias-primas - que aumentam os custos internos; e, em muitos casos, concorrência predatória do produto asiático.

Por aí se vê que a indústria se revela mais dinâmica do que a força dos seus obstáculos. Vai até mesmo tirando proveito deles.

São inúmeras as indicações de que as importações mais baratas estão ajudando a aumentar a capacidade de produção industrial, graças às encomendas de máquinas no exterior. A importação de bens de capital cresceu nos primeiros sete meses deste ano nada menos que 49,9%.

A indústria aproveita a boa fase também para financiar as importações a juros mais baixos no exterior, de forma a poupar levantamento de capital de giro interno, a custos muito mais altos.

Não dá para ignorar que alguns setores estão mais apanhando do que ganhando o jogo. São os de sempre: calçados, têxteis e transformação de madeira. Mas, no geral, o setor está bem na foto.

Segue-se que não se confirma a velha obsessão dos dirigentes da Fiesp: a de que está em curso um rápido e inexorável processo de desindustrialização no Brasil.

Não dá para sustentar essa tese se o setor de bens de capital (máquinas) cresce 17,1%; o de bens de consumo duráveis, 13,9%; e o de transformação, 6,3%. As exportações de manufaturados, segmento em princípio mais sensível ao câmbio baixo, vai crescendo 13,9%.

Admita-se: quem só foca o presente sem considerar a ação dos ventos contrários talvez não tenha clareza sobre as tempestades em formação. É o argumento ainda prevalecente entre os dirigentes da indústria. Para eles, a boa temporada será ultrapassada pelos problemas provocados pelo câmbio ruim e juros escorchantes.

Mas o presente já foi futuro lá atrás e, no entanto, desde que o dólar resvalou os R$ 3, os líderes do setor cantam a catástrofe iminente que não dá o menor indício de estar para acontecer.

O crédito continua se expandindo mais de 30% e a força das vendas de bens de capital sugere que o aumento da capacidade instalada segue vigoroso. Ainda é pouco porque os investimentos no País não passam de 17% do PIB e é preciso que cheguem a 22% para garantir o crescimento sustentado da economia. Mas há o que comemorar.

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