Entrevista:O Estado inteligente

sábado, agosto 16, 2008

GUSTAVO FRANCO Maldição ou bonança?

HÁ MUITA incerteza sobre a real dimensão da descoberta de lençóis petrolíferos no chamado "pré-sal". Mas o fato é que o país se vê dividido entre dois sentimentos polares: o de que ganhamos um bilhete de loteria e o de que estamos diante de uma maldição.
E é bem possível que os dois sentimentos sejam procedentes em alguma medida, o que nos leva impreterivelmente a um terceiro: o de que esse assunto é muito mais difícil do que parece.
Os que falam sobre maldição e desindustrialização, como a ministra Dilma Rousseff, têm como fundamento o debate que começou faz tempo sobre os efeitos da valorização cambial sobre a indústria. É no contexto dessas querelas que se ouve falar, vez por outra, de uma experiência nacional mais relevante para o assunto do pré-sal: a da descoberta de gás natural em abundância no subsolo dos Países Baixos nos anos 1960. O termo "Doença Holandesa" foi usado pela primeira vez pela revista "The Economist", em 1977, para descrever o que se passou com a indústria daquele país após o início da exploração da nova jazida por meio da maior parceria pública privada até então implementada no planeta.
Muita coisa foi escrita sobre este assunto desde então; os técnicos do governo devem estar lendo um bocado para mostrar ao presidente os diferentes ângulos do problema.
Independentemente disso, a discussão sobre a formação de uma nova estatal, em lugar da Petrobras, para a exploração do petróleo do pré-sal, e também a palpitaria sobre o destino dos recursos, parece compor a "tempestade perfeita" em matéria de polêmica econômica. Em um só conjunto de decisões vamos juntar todas as encrencas sobre valorização do câmbio, proteção à indústria, vulnerabilidade externa, regime de exploração do subsolo, vinculação de receita tributária e privatização. E isso para não falar em redenção das mazelas nacionais através de dádivas da nossa terra, até então ignoradas, assim invocando as tintas fortes de um nacionalismo mineralógico que não se via assim desenvolto desde a privatização da Vale.
E não esquecer que o assunto é petróleo, o mitológico "ouro negro", a seiva de todas as conspirações. São muitos os que sempre acreditaram que ele existia; outros tantos, mais inocentes, pensavam que era nosso. Mas não se pode confiar em mais ninguém, até a Petrobras, quem diria, é tida como uma empresa estrangeira e globalizada.
Diante de todos esses elementos, e diante da complexidade do assunto, será surpreendente se não tomarmos decisões rápidas, contundentes, emocionais e erradas.

gh.franco@uol.com.br

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