O Estado de S. Paulo |
22/8/2008 |
Os poderosos, ainda mais quando populares, são excelentes avalistas da norma segundo a qual quem tem padrinho não morre pagão. É um fato, mas não tão absoluto e comprovado que justifique a relação de causa e efeito que candidatos a prefeito estabelecem entre a companhia de seus patronos nas campanhas e o milagre da multiplicação de votos. Evidentemente, um fiador do porte do presidente Luiz Inácio da Silva tem o seu papel. A presença dele no palanque real ou virtual ajuda. Em alguns casos pode ser decisiva no tira-teima. Mas, como ainda está para ser inventada a fórmula infalível de condução da vontade alheia, o resultado da eleição depende muito mais das idiossincrasias do eleitorado que das ações do fiador da ocasião. A ingerência das grandes figuras ameniza, mas por si só não cura o mal da rejeição. O raciocínio vale também no sentido inverso: esconder o correligionário, se é um governante desgastado, não produz necessariamente um ambiente de aceitação ao candidato. O governador de São Paulo, José Serra, por exemplo, de quem os tucanos cobram presença ao lado do candidato do PSDB à prefeitura da cidade, Geraldo Alckmin, vive na carne a experiência. Em 2002, poderia ter perdido para Lula de qualquer jeito, mas a opção estratégica de se distanciar da fadiga de material dos oito anos de governo Fernando Henrique certamente não lhe rendeu um voto. E pode ter tirado, já que no caso de identificações consolidadas, como a de Serra e FH, o distanciamento soa falso ao eleitor e, pior, traiçoeiro. Voltando a 2008, São Paulo, capital: por que Alckmin subiria no conceito do eleitor por obra e graça de uma adesão explícita do governador, se está cansado de saber que Serra não o considera o melhor candidato? Ora, ainda que eleição hoje seja um jogo de aparências e construção de emoções ligeiras, as coisas precisam ter um mínimo de verossimilhança. Pode inspirar confiabilidade o uso da imagem do presidente Lula por cinco candidatos diferentes, como ocorre no Rio? É preciso muita alienação para acreditar que representam todos ao mesmo tempo a encarnação de Lula aos pés do Redentor. Isso sem falar dos candidatos de partidos de oposição que hoje reivindicam Lula nos palanques, mas quando o tempo fechou para o lado dele, nos escândalos de 2005, só o chamavam de tudo, menos de bonitinho. Como dizia aquele slogan da época em que era mais fácil protestar contra emissora de televisão que enfrentar os urros da ditadura: o povo não é bobo. Superlativo Quando estende aos três Poderes a proibição do nepotismo, o Supremo Tribunal ajuda. Mas quando os ministros exageram na avaliação dos efeitos da decisão, atrapalham a compreensão da realidade. O veto a contratações de parentes para cargos de confiança do segundo escalão para baixo da administração pública não extinguiu o uso do Q.I. (quem indica) como critério de ocupação de cargos, como crê o ministro Ricardo Lewandowski. Tampouco revogou o conceito de que “tomar posse no cargo” equivale a “tomar posse do cargo, como uma propriedade privada”, como disse o ministro Ayres Britto. A contratação de parentes é apenas uma das muitas mazelas do patrimonialismo que nos preside desde os idos de Cabral. As indicações mediante outros interesses que não os familiares são infinitamente mais numerosas, danosas e não raro criminosas. Desafinados O governador Aécio Neves e o prefeito Fernando Pimentel vinham jogando direito. Os dois optaram por candidato único para a Prefeitura de Belo Horizonte; montaram uma aliança PT-PSDB cheia de simbolismos futuros; sustentaram a coligação “informal” na marra, já que o PT vetou e o PSDB só queria se fosse de papel passado. Populares - Aécio tem mais de 80% de aprovação e Pimentel vai além dos 70% -, se escoraram na soberania da vontade popular e nas pesquisas de apoio quase unânime à aliança. Tudo nos conformes até perderem a noção de limite. Uma coisa é o político privilegiar o desejo do cidadão em detrimento da decisão partidária nas ações do cotidiano e mesmo nas práticas de campanha. Isso não autoriza dois governantes a oficializarem ato de ilegalidade explícita. Como donos absolutos do território, passaram o seguinte recado: se a lei veda a presença de políticos de partidos não coligados no horário eleitoral, para eles tanto faz. Pode parecer uma infração menor. Não é. Quando se manda às favas a lei é porque para lá já foram enviados os escrúpulos. Gente fina Diante do sinônimo chulo para “boboca” usado por Lula para insultar os críticos do ProUni, os aposentados precoces chamados de “vagabundos” por Fernando Henrique podem se sentir elogiados. Bem como os “fracassomaníacos”. |
Entrevista:O Estado inteligente
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sexta-feira, agosto 22, 2008
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