Parece que os planos chineses estão funcionando. A Olimpíada vai muito bem no terreno esportivo, a infra-estrutura técnica é de primeiro mundo, recordes são quebrados, surgem os heróis.
Mais importante ainda para o governo chinês, seus atletas ganham mais medalhas de ouro do que os americanos.
Tudo somando, a China apresenta-se ao mundo como potência.
Os americanos sentiram o baque. Tanto que, por alguns dias, a imprensa americana apresentava a classificação utilizando apenas o critério do total de medalhas, no qual os EUA levavam vantagem.
Mais ainda, a imprensa americana dedicou algum esforço tentando demonstrar que há muitos atletas americanos concorrendo por outros países.
Exemplo? O nosso César Cielo — que vive, treina nos EUA e disputa os campeonatos locais. É um produto da natação americana, tal a tese, que relaciona outros vários nadadores, nomes do atletismo e mesmo jogadores de esporte coletivo, como a legião de atletas de vários nacionalidades que atuam na liga profissional dos EUA, aí incluído um dos maiores ídolos da China. O que se pretende provar? A superioridade do esporte praticado nos EUA, de qualidade e penetração global.
Esportes sempre tiveram um viés político, no bom e no mau sentido. No lado bom, pode-se colocar o patriotismo, o sentimento de bem-estar de que todos participam quando “um dos nossos” levanta uma medalha. No lado negativo, a pretensão dos governos de, via medalhas, demonstrar a superioridade nacional, com objetivos externos — exibir-se como potência — e internos, ganhar o apoio do povo.
O exemplo que vem logo é o da Olimpíada de Berlim promovida por Hitler. Mas, guardadas as proporções históricas, a China está claramente no lado negativo. Seu objetivo não é apenas mostrar-se como potência, mas como potência no modelo chinês político e econômico.
Esse modelo ora é apresentado como caminho chinês para o socialismo, para fins internos, de modo a justificar a história comunista, ora como economia socialista de mercado, para dizer aos investidores estrangeiros que o socialismo é político, mas a economia, de mercado.
Os chineses são mestres na simulação de linguagem. Já chamaram privatização de “devolver as empresas ao povo”. Descontado isso, de que se trata? Uma ditadura política com capitalismo na fase da acumulação que se diria selvagem. Vai aqui uma combinação de salários baixos com pesado investimento em infra-estrutura e bens de capital, isso obtido com uma rigorosa poupança, em boa parte forçada pela falta de uma rede de proteção social.
Por exemplo: quase não há aposentadoria pública e o sistema de ensino é pago nas fases média e superior.
Em 1995, o salário médio na indústria chinesa era de um dólar a hora. No ano passado, alcançou pouco mais de três dólares, o triplo, mas ainda menos da metade do salário médio das regiões metropolitanas brasileiras. Nos EUA, o salário hora era de 17 dólares em 2007.
Além disso, trata-se do crescimento a qualquer custo social e ambiental.
Cidades inteiras são deslocadas para a instalação de usinas ou de aeroportos.
Desenha-se uma estrada pela sua conveniência econômica, não importa por onde passe.
Como é possível manter as coisas assim? Com a polícia política, a imprensa controlada, a censura, a eliminação das eleições livres.
E bem vistas as coisas, todos esses elementos estiveram presentes na preparação e realização da festa olímpica.
Por pressão do Comitê Olímpico, os jornalistas estrangeiros tiveram acesso ampliado à internet, mas só nos centros de imprensa dos Jogos e com claros limites.
Digita-se Tibet e, nada.
Mesmo incidentes menores, como um acrobata que se machucou, foi escondido pelas autoridades. Manifestantes foram presos e o governo chegou ao ridículo de designar praças para protestos, desde que solicitados com antecedência, revelando-se o tema da reclamação.
Também bem vistas as coisas, as medalhas chinesas vêm do mesmo processo.
O modo de formação dos atletas, como uma política de Estado, só é possível numa ditadura. Os jovens selecionados pelo seu potencial entram em regime militar, internados em casas de treinamento como se fossem quartéis.
Dependem de autorização dos chefes para tudo. Quem quiser parar ou cometer falta política, é punido como se fosse um criminoso, tanto quanto um dissidente político.
São medalhas manchadas.
Entrevista:O Estado inteligente
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