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segunda-feira, setembro 03, 2012
Economia sem músculos - EDITORIAL O ESTADÃO
O Estado de S.Paulo - 03/09
A economia brasileira cresceu apenas 0,4% no segundo trimestre, mas essa foi apenas a segunda pior notícia embutida nas contas nacionais divulgadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A mais preocupante refere-se tanto ao futuro quanto ao passado recente. Entre abril e junho, o investimento em máquinas, equipamentos e obras foi 0,7% menor que nos três meses anteriores e 3,7% inferior ao realizado no mesmo trimestre de 2011. A fraca expansão do Produto Interno Bruto (PIB) pertence ao passado. Já o baixo investimento compromete o futuro, porque limita o potencial de crescimento da produção, da criação de empregos e da melhora das condições de vida dos brasileiros.
Para crescer pelo menos 5% ao ano de forma segura, sem risco de inflação ou de crise nas contas externas, o Brasil precisa investir o equivalente a uns 24% do PIB, segundo cálculos geralmente aceitos. Nos últimos 20 anos, as maiores taxas foram pouco superiores a 19% - e isso ocorreu apenas três vezes. Na semana passada, o governo reduziu de 20,4% para 19,1% do PIB o investimento previsto para 2012.
Hoje, até essa projeção parece otimista. No trimestre passado, a taxa ficou em 17,9%. Descontada a inflação, o valor investido foi 3,7% inferior ao de um ano antes. No primeiro trimestre, o valor aplicado havia sido 2,1% menor que o de janeiro a março de 2011. Entre abril e junho a poupança ficou em 16,9% do PIB. O ingresso de capital permitiu investir pouco mais que isso.
Há poucos dias o ministro da Fazenda, Guido Mantega, voltou a falar sobre a importância de aumentar as aplicações em máquinas, equipamentos, instalações e obras de infraestrutura e mencionou a meta de 24%. Mas é preciso fazer muito mais para elevar o investimento privado e o investimento público.
A redução dos juros é apenas uma das medidas necessárias. Taxas menores foram insuficientes para induzir os empresários a aplicar mais capital em meios de produção. Por que investiriam, se a produção estava empacada, a expectativa de retorno era baixa e os problemas de competitividade iam muito além da capacidade produtiva de cada fábrica?
O consumo interno jamais deixou de crescer, desde o recrudescimento da crise, mas nem por isso a produção industrial avançou. O resultado foi o oposto. No primeiro semestre, a indústria de transformação produziu 4% menos que um ano antes. O cenário piora quando se considera apenas o segundo trimestre, com produção 5,3% inferior à de abril-junho de 2011.
O aumento do consumo, estimulado pela expansão do crédito e facilitado pela manutenção de elevado nível de emprego, resultou em crescimento das importações. A indústria nacional aproveitou só em parte a boa disposição dos consumidores. Incapaz de enfrentar a concorrência estrangeira, foi batida no mercado externo e também no interno. Nem a desvalorização do real foi suficiente para tornar a disputa mais equilibrada.
O governo demorou, mas acabou anunciando medidas para atenuar problemas estruturais. Foi lançado um plano de investimentos em transportes, com participação do setor privado, e, além disso, a presidente Dilma Rousseff prometeu reduzir o custo da eletricidade. O Ministério do Planejamento reservou R$ 15,2 bilhões na proposta orçamentária do próximo ano para cobrir novas desonerações.
As autoridades ainda atribuem boa parte dos atuais problemas brasileiros à piora do quadro externo. O cenário global é ruim, de fato, mas os principais obstáculos ao crescimento nacional são made in Brazil. O produtor brasileiro enfrenta custos muito maiores que os suportados pelos concorrentes estrangeiros. A produtividade geral do País é baixa e a maior parte dos problemas está fora das fábricas e das fazendas. Um dos mais graves é a ineficiência governamental, evidenciada pela baixa qualidade dos serviços e pela incapacidade de elaboração e execução de projetos. Erros de diagnóstico e de prescrição de terapias têm atrasado a remoção dos entraves. A estagnação já dura um ano e meio e evidencia o alcance cada vez menor das políticas centradas no estímulo ao consumo e a indústrias selecionadas. Mas o governo demora a mudar de rumo.
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