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quinta-feira, julho 14, 2011

Europa pensa o impensável VINÍCIUS TORRES FREIRE

FOLHA DE SP - 13/07/11

A elita política e econômica da União Europeia começa a pensar em medidas de guerra contra o risco iminente de colapso. A feia necessidade levou o impensável para a mesa do debate sobre como evitar um calote desordenado.

Note-se que muita ideia impensável era apenas preconceito liberaloide ou defesa de interesse político-eleitoral. Note-se ainda que, já a partir de meados dos anos 2000, governos da União Europeia começaram a jogar no lixo o pacto fundador da união monetária, os limites de deficit e dívida públicos.

Isto posto, note-se agora o tamanho do desespero europeu.

A elite da União Europeia começou a perder a face em maio do ano passado, na primeira rodada de implosão da Grécia. Num certo dia de mercado em pânico, o BCE (Banco Central Europeu) disse que não compraria títulos da dívida de países semiquebrados, sem crédito no mercado, ou não os aceitaria como garantia para empréstimos.

Dois dias depois, com tumulto na praça, engoliu o que disse. Começou, na prática, a financiar a dívida desses países e/ou a ajudar a reduzir os juros que o mercado deles cobrava. O BCE agora está cheio de papel podre em sua caixinha.

Ontem, o colapso ameaçava a dívida de Itália e Espanha, com os juros indo à lua no mercado secundário. Era dia também de venda de títulos italianos, belgas e gregos (isto é, esses governos estavam pegando emprestado uns trocados na praça). Para evitar juros estratosféricos ou coisa pior, "alguém" ajudou o mercado a comprar dívida italiana, belga e grega. Houve o boato de que teria sido o BCE. E/ou a China.

Mas o impensável mesmo é discutido no comitê de salvação pública, a reunião quase permanente dos ministros de economia europeus, e em outros fóruns da União Europeia.

Primeiro, admitiu-se que o fundo para cobrir calotes da União Europeia possa ser usado para recomprar dívida grega no mercado, onde vale uns 50% do valor de face, "original". A dívida seria reduzida, os credores engoliriam perdas.

Isso não é fácil de fazer e até pode ser considerado "calote" por agências privadas de classificação de risco. Mas significa que a Europa assume parte da dívida grega.

É como se um devedor com bom crédito, a União Europeia, tomasse dinheiro a juro barato e emprestasse a um primo com o nome sujo na praça (Grécia, Portugal, Irlanda). Seria o início de uma união fiscal.

E se as agências ou credores reclamarem? Este é o segundo impensável: dane-se. Há gente dizendo que é preciso enquadrar as agências e ignorar o que elas dizem sobre governos em situação difícil, mas que recebem "ajuda". "Caloteiros" ou não, na concepção das agências, a dívida desses países quebrados seria aceita nos negócios oficiais daUnião Europeia.

Terceiro: na sexta-feira sai o resultado do "teste de estresse" dos maiores bancos europeus. Isto é, uma avaliação sobre a suficiência de capital desses bancos. Se der chabu, se os bancos estiverem descapitalizados, a Europa avisa que vai logo cobrir rombos e "insuficiências" ou dar um outro jeito, "se não houver solução de mercado".

Nada disso foi decidido, claro. Está uma confusão horrível entre países e instâncias diferentes do "governo europeu". Mas bateu o desespero. "A imaginação está no poder."

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