O Estado de S.Paulo - 28/07/11
Dizer que há mal-estar no PMDB em relação a atitudes da presidente Dilma Rousseff, digamos que não seja notícia nova nem que se configure fato passível de produzir riscos de peso à coalizão governamental.
A saúde da aliança segue preservada, a despeito de alguns abalos e do inconformismo com a perda de espaço, de prestígio e de importância dos cargos destinados ao partido em relação ao governo Lula.
Mas digamos também que a insatisfação no PMDB seja um fator de tensão perfeitamente percebido pelo Palácio do Planalto e, quando necessário, utilizado pelos dirigentes do partido para impor um alto lá.
Há um caso desses em curso e diz respeito ao que os pemedebistas identificam internamente como uma ofensiva do governo de se aproveitar da má fama dos políticos para acrescentar pontos positivos à imagem de "paladina" da luta contra a corrupção que Dilma vem conquistando desde que iniciou a série de demissões no Ministério dos Transportes.
A desconfiança que suscitou o mais recente curto-circuito surgiu no fim da semana passada, quando circularam na imprensa declarações atribuídas a ministros e auxiliares próximos de Dilma dando conta de que ela seria "cautelosa" no exame de denúncias que porventura envolvessem o PMDB.
Davam a entender que o partido seria poupado do procedimento reservado ao PR, por conta de seu peso e poder específicos. Receberia do Planalto um tratamento diferenciado como uma forma reverência.
Se de um lado esse tipo de manifestação, se confirmado, deixasse o governo mal, porque indicaria a existência de pesos diferenciados para o combate à corrupção, de outro as antenas do PMDB captaram a mensagem como tentativa de acusar o partido pela via da insinuação e resolveu reagir.
Na segunda-feira alguns ministros e dirigentes se reuniram com o vice-presidente Michel Temer e redigiram uma nota afirmando que a apuração de irregularidades não é uma questão política e, portanto, os "órgãos de controle" deveriam estar à vontade para cumprir sua obrigação de fiscalizar sem o receio de reações.
Inicialmente o documento sairia ontem, como iniciativa dos ocupantes de cargos federais. Como a notícia saiu horas antes de a nota ser divulgada, Temer resolveu submeter o texto à Executiva do PMDB explicando que a intenção não é de ataque, mas de defesa, o que seria feito na próxima segunda-feira.
Se houver discordância quanto à oportunidade de oficializar a posição em nota, nem por isso se perde a essência do que está escrito porque é exatamente o que vem sendo dito pelo partido. Em tradução livre: devagar com o andor, que há muitos santos de barro.
Pelas beiradas. Assim como quem não quer nada e querendo tudo, o senador Aécio Neves evolui no cenário como candidato a presidente em 2014, em fase de evidente "agregação de valores".
No Senado, aproxima-se sem alarde dos colegas governistas; no movimento sindical, articula conquista de apoio junto a centrais; no mundo artístico circula com desenvoltura.
O lance mais recente é a concessão do título de cidadã honorária de Minas Gerais à ex-senadora Marina Silva. E assim segue Aécio estreitando relações, a fim de construir uma candidatura que mais adiante, no momento adequado, o encaixe com suavidade na moldura de um nome "natural".
Noção das coisas. O ministro do Supremo Tribunal Federal José Antonio Toffoli silencia sobre a ida dele ao casamento do criminalista Roberto Podval na Itália, com despesas de hotel pagas pelo noivo, mas não deveria. Aliás, nem poderia se o Judiciário precisasse de fato prestar contas a alguma instância eficaz de controle.
Podval não é um amigo como qualquer outro, como quer fazer crer Toffoli ao se recusar a dar satisfação de seus atos. Podval é um advogado que atua junto ao Supremo e isso marca toda a diferença entre o público e o privado. Preceito constitucional que integrantes da corte têm - ou deveriam ter - o dever de resguardar.
Entrevista:O Estado inteligente
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