O Estado de S.Paulo - 18/07/11
É salutar que o governo esteja pensando em levar ao Legislativo projeto de lei relativo à compra de terras por estrangeiros, pois o País não pode conviver com pareceres distintos da Advocacia-Geral da União que alteram o que se entende por empresa nacional de capital estrangeiro: ora é equiparada à empresa nacionais de capital brasileiro, como na legislação anterior, ora é objeto de tratamento diferente. A insegurança jurídica torna-se, assim, a regra, travando o investimento dessas empresas e, certamente, prejudicando o desenvolvimento nacional.
O capital estrangeiro tem contribuído, e muito, para o crescimento do País, não apenas no setor rural, mas também no industrial e no de serviços. É notório que o Brasil carece desses capitais e seu investimento produtivo tem sido decisivo nos últimos anos. Mas agora empresas que estavam em pleno processo de investimento nele põem freio, pois não mais sabem o que pode acontecer. De repente, devem dar uma marcha à ré, no aguardo de maior esclarecimento do que podem ou não fazer. Projetos ficam inconclusos, prejudicando, na verdade, todos nós.
Nesse contexto, a elaboração e a aprovação de uma lei que estabeleça parâmetros claros podem ser uma contribuição decisiva a esse processo. Essa é, ressaltemos, a própria função da Câmara e do Senado.
No imediato, porém, devemos ter claro que o Brasil de hoje - e o mundo - é globalizado, não cabendo nenhum preconceito contra o capital estrangeiro, em defesa de um nacionalismo estreito, que produziu efeitos tão nocivos no passado. Eis a nova realidade. A discussão a respeito deve ser técnica, não ideológica, voltada para o enfrentamento de alguns problemas reais. O País, frise-se, necessita de capitais e tecnologia estrangeiros.
Nesse sentido, a soberania nacional não pode ser confundida com uma defesa do capital nacional como se houvesse oposição irredutível ao capital externo, pois o que importa, de empresas nacionais ou internacionais, é que as leis sejam cumpridas. Aqui vale a soberania das leis. Se uma empresa nacional de capital estrangeiro cumpre as leis do País, só deve ser bem-vinda e, mesmo, apoiada.
É bem verdade que nos últimos anos a opinião pública nacional e internacional veio a perceber os recursos do planeta e dos países como finitos. Mesmo que se possa questionar se essa percepção da finitude corresponde ou não à realidade, o fato é que ela, hoje, é predominante e os governantes devem certamente levá-la em consideração. Surgem, a partir dela, formas de defesa de interesses nacionais que devem ser levados em conta.
Vejamos alguns pontos que, em nosso entender, deveriam (ou não) ser contemplados nesse novo projeto de lei:
O País carece de um sistema de informações confiável sobre sua base fundiária, principalmente, no caso, no que diz respeito à propriedade de terras por estrangeiros. Trata-se de uma base cadastral que ofereça transparência a essas propriedades, sem nenhum preconceito, por exemplo, contra empresas brasileiras de capital estrangeiro. Isso vale para minérios, silvicultura, agricultura e pecuária. A regra aqui é a transparência, a predominância do público.
Os investimentos estrangeiros devem ser distinguidos entre interesses propriamente produtivos e interesses especulativos, apostando estes últimos apenas no preço das terras, sem nenhuma preocupação quanto ao seu uso. Uns devem ser incentivados, os outros, restringidos.
Empresas brasileiras de capital estrangeiro devem ser distinguidas de empresas estrangeiras de propriedade estatal, pois, neste caso, elas tendem a fazer o jogo dos interesses de seus países de origem, investindo de acordo com os interesses de outros Estados. Aqui poderia surgir um problema de soberania nacional.
Talvez se deva igualmente pensar num tratamento diferenciado para empresas dos países do Mercosul e, de modo mais geral, da América do Sul, favorecendo a integração do continente, dada a natural liderança do País, por sua extensão territorial e sua pujança. Se o País aspira a uma grande cooperação sul-americana, mecanismos devem ser criados de favorecimento aos investimentos empresariais, sem distinção da origem dos capitais.
Deve ser descartada a ideia, como teria sido cogitado, de o Estado brasileiro ter uma golden share, uma participação acionária nessas empresas com direito a veto, pois tal mecanismo seria uma ingerência governamental no funcionamento delas, podendo ditar seus rumos. O Estado invadiria esse setor privado, burocratizando suas decisões. Imaginem o tipo de negociação que poderia ter lugar.
Poderia ser estabelecido o princípio da reciprocidade, aliás, vigente nas relações internacionais. O Brasil daria a empresas estrangeiras o mesmo tratamento que as empresas brasileiras recebem nos países onde investem. Por exemplo, um país que imponha restrições ao investimento estrangeiro receberia o mesmo tratamento aqui, não podendo ter a expectativa de tratamento diferente. Exceções seriam tratadas como tais, em função do interesse nacional.
A proposta de criação de um Conselho Nacional de Terras (Conater), que estaria sendo cogitado pelo governo. Seria o órgão encarregado de implementar essa política, segundo critérios claros, técnicos, sem nenhuma conotação ideológica contra o capital estrangeiro. É fundamental, por exemplo, que vários Ministérios nele estejam representados, como Casa Civil, Agricultura, Desenvolvimento Agrário, Defesa, Planejamento, Desenvolvimento econômico e Justiça. Agilidade e rapidez são fundamentais, pois uma empresa não pode ficar esperando indefinidamente uma resposta, o que pode ser um sério entrave para o desenvolvimento nacional.
Regras e mecanismos claros devem tomar o lugar da insegurança jurídica.
Entrevista:O Estado inteligente
- Índice atual:www.indicedeartigosetc.blogspot.com.br/
- INDICE ANTERIOR a Setembro 28, 2008
Arquivo do blog
-
▼
2011
(2527)
-
▼
julho
(245)
- DILMA: OS ENORMES RISCOS DA ESTRATÉGIA DE IMAGEM! ...
- O poder pelo poder GAUDÊNCIO TORQUATO
- A nova era na roda do chope JOÃO UBALDO RIBEIRO
- Teatro do absurdo MÍRIAM LEITÃO
- Foco errado CELSO MING
- As marcas do atraso JANIO DE FREITAS
- Uns craseiam, outros ganham fama FERREIRA GULLAR
- Chapa quente DORA KRAMER
- Corrupção - cortar o mal pela raiz SUELY CALDAS
- Liberdade, oh, liberdade DANUZA LEÃO
- Como Dilma está dirigindo? VINICIUS TORRES FREIRE
- Prévias? Não no meu partido MARCO ANTONIO VILLA
- Dilma se mostra Merval Pereira
- A reforma tributaria possível. Ives Gandra da Sil...
- Um plano para o calote Celso Ming
- O ''PAC'' que funciona EDITORIAL ESTADÃO
- Mudança de enfoque - Merval Pereira
- Dilma e as sofríveis escolhas ALOISIO DE TOLEDO CÉSAR
- Refrescar a indústria Míriam Leitão
- Míriam Leitão O dragão na porta
- Prévias da discórdia Merval Pereira
- O governo e a batalha do câmbio Luiz Carlos Mendon...
- Coragem e generosidade Nelson Motta
- O discreto charme da incompetência Josef Barat
- O que pensa a classe média? João Mellão Neto
- Mensagem ambígua Celso Ming
- Um boné na soleira Dora Kramer
- O sucesso de um modelo ALON FEUERWER KE
- Merval Pereira Bom sinal
- IVES GANDRA DA SILVA MARTINS - A velhice dos tempo...
- VINÍCIUS TORRES FREIRE - Dólar, bomba e tiro n"água
- A Copa não vale tudo isso EDITORIAL O ESTADÃO
- ALBERTO TAMER - Mais investimentos. Onde?
- CELSO MING - O dólar na mira, outra vez
- DORA KRAMER - Jogo das carapuças
- Dólar e juros MÍRIAM LEITÃO
- Ética flexível Merval Pereira
- Roubar, não pode mais EDITORIAL O Estado de S.Paulo
- Da crise financeira à fiscal e política Sergio Amaral
- Ficção científica nos EUA Vinicius Torres Freire
- Dólar, o que fazer? Míriam Leitão
- Lá se vão os anéis Dora Kramer
- Mundo que vai, mundo que volta Roberto de Pompeu ...
- Desembarque dos capitais Celso Ming
- E se não for o que parece? José Paulo Kupfer
- Economia Criativa em números Lidia Goldenstein
- A inundação continua Rolf Kuntz
- Abaixo a democracia! Reinaldo Azevedo
- Veja Edição 2227 • 27 de julho de 2011
- Faxina seletiva MERVAL PEREIRA
- Eles não falam ararês MÍRIAM LEITÃO
- O impasse continua - Celso Ming
- Insensata opção Dora Kramer
- O Brasil e a América Latina Rubens Barbosa
- Justiça, corrupção e impunidade Marco Antonio Villa
- Agronegócio familiar Xico Graziano
- Ruy Fabiano - A criminalização do Poder
- Imprensa, crime e castigo - Carlos Alberto Di Franco
- Quando o absurdo se torna realidade Antonio Pentea...
- Vale-tudo ideológico EDITORIAL O Globo
- O bagrinho Igor Gielow
- Com o dinheiro do povo Carlos Alberto Sardenberg
- Questão de fé RICARDO NOBLAT
- Celso Ming O que muda no emprego
- Alberto Tamer E aquela crise não veio
- João Ubaldo Ribeiro A corrupção democrática
- Danuza Leão Alguma coisa está errada
- Janio de Freitas Escândalos exemplares
- Merval Pereira Dilma e seus desafios
- Dora Kramer Vícios na origem
- Ferreira GullarTemos ou não temos presidente?
- Roberto Romano Segredo e bandalheira
- Agência Nacional da Propina-Revista Época
- Presidencialismo de transação:: Marco Antonio Villa
- Dilma e sua armadilha Merval Pereira
- Guerra fiscal sem controle Ricardo Brand
- A Pequena Depressão Paul Krugman
- Longo caminho Míriam Leitão
- De quintal a reserva legal KÁTIA ABREU
- O que vem agora? Celso Ming
- Marco Aurélio Nogueira O turismo globalizado
- Os perigos de 2012 Editorial O Estado de S. Paulo
- Guerra de dossiês Eliane Cantanhêde
- Sinais de alerta Merval Pereira
- União reforçada Miriam Leitão
- Pagar, doar, contribuir NELSON MOTTA
- Roncos da reação DORA KRAMER
- Festa cara para o contribuinte EDITORIAL O Estado ...
- Em torno da indignação FERNANDO GABEIRA
- Brasil esnobou os EUA. Errou - Alberto Tamer
- O baixo risco de ser corrupto no Brasil Leonardo A...
- Triste papel Merval Pereira
- Financiamento da energia elétrica - Adriano Pires ...
- O partido do euro - Demétrio Magnoli
- Trem-bala de grosso calibre - Roberto Macedo
- A cruz e a espada - Dora Kramer
- O grande arranjo - Celso Ming
- À luz do dia ELIANE CANTANHÊDE
- Entrevista: Maílson da Nóbrega
- Arminio Fraga "Europa entre o despreparo e a perpl...
-
▼
julho
(245)
- Blog do Lampreia
- Caio Blinder
- Adriano Pires
- Democracia Politica e novo reformismo
- Blog do VILLA
- Augusto Nunes
- Reinaldo Azevedo
- Conteudo Livre
- Indice anterior a 4 dezembro de 2005
- Google News
- INDICE ATUALIZADO
- INDICE ATE4 DEZEMBRO 2005
- Blog Noblat
- e-agora
- CLIPPING DE NOTICIAS
- truthout
- BLOG JOSIAS DE SOUZA