O GLOBO - 19/07/11
A cena internacional recomenda ao Copom uma parada na elevação das taxas de juros; a taxa de inflação acumulada em 12 meses e os riscos à frente recomendam mais elevação de juros. A comparação dos juros do Brasil com os de outros países mostra que as taxas daqui estão altas demais; o sistema de metas determina novo aperto da política monetária.
Provavelmente, os juros vão subir, porque o Banco Central vai olhar para a cena interna, onde há vários riscos. As taxas mensais do atual trimestre estão baixas, mas a inflação acumulada em 12 meses até julho está indo para 6,8% no IPCA-15 que será divulgado amanhã. Se fosse só o passado, o BC não precisaria se preocupar tanto, afinal, ele tem de olhar de 12 a 18 meses à frente para tomar suas decisões. O problema é este horizonte: a inflação está alta; a de serviços, persistentemente alta; o combustível é um problema; o mercado de trabalho está aquecido; o crédito, abundante; e o ano que vem começará com um choque forte nas contas públicas pela elevação do salário mínimo.
Cada um desses eventos sozinho não seria problema; todos juntos, eles mostram que a taxa de inflação poderá continuar alta. O combustível pressionou as taxas no começo deste ano, apesar de a Petrobras manter congelado o que cobra das distribuidoras. Os preços subiram para o consumidor por causa do álcool. O País está produzindo menos álcool nesta safra, o que indica que o período de baixa será mais curto, e o de preços em alta poderá ser mais forte.
Para o ano que vem, está decidido um aumento real forte do salário mínimo, o que vai impactar as contas públicas, principalmente da Previdência. O Banco Central tinha expectativa de que o governo manteria a mesma meta de superávit primário; o que significa que a elevação dos gastos previdenciários iria induzir um corte em outras despesas. O Ministério da Fazenda está dando sinais de que defenderá a tese de que, diante das circunstâncias, o melhor é ter um superávit primário menor. Isso é uma política fiscal de acomodação, o que manterá a pressão sobre os preços.
A cena internacional é uma incerteza só, com os EUA vivendo uma situação impensável de conflito político em torno da elevação do teto do endividamento. Seja qual for o resultado, o certo é que serão feitos cortes fortes nos gastos ou o governo elevará os impostos; ou ambos. Isso significa que a economia americana será mais lenta na recuperação. Na Europa, também o cenário é de baixo crescimento; no Japão, nem se fala. Mas o pior não é o clima de recessão em algumas economias, mas sim a incerteza.
Ninguém sabe ao certo como será a evolução da conjuntura europeia antes de se saber como será resolvido o problema das dívidas dos governos. Em relação aos Estados Unidos, o pior cenário não é levado a sério porque ele é tão ruim que vale aquele bordão de que o país é grande demais para ter um colapso da dívida.
Nesse cenário de sinais contraditórios é que o Copom vai se reunir novamente. De novo, as apostas mais frequentes são de elevação das taxas de juros, que estão no nível inacreditável de 12,25%. É um patamar totalmente estranho à conjuntura atual de juros baixos no mundo.
Os economistas de vez em quando apresentam as notícias boas pelo seu avesso. Emprego é bom, é isso que o mundo inteiro procura. Mas, no Brasil, as notícias sobre emprego crescente, como as que devem ser divulgadas hoje pelo IBGE e Ministério do Trabalho, são apresentadas como risco de encarecimento do trabalho, um dos custos de produção; além do mais, seria mais uma pressão de demanda.
Se o governo tivesse pelo menos um plano de zerar o déficit público, elevando o superávit primário, ele estaria permitindo um aumento do consumo privado.
O governo tem gastado tanto que até alguns investimentos podem trazer só a parte ruim da despesa pública. Como o leilão do trem-bala fracassou, o governo decidiu que vai elevar ainda mais a montanha de dinheiro que já embarcou nesse trem.
Não será fácil a vida do Banco Central se ele optar por subir novamente os juros. O BC vem dando sinais frequentes de que está preocupado com o nível de endividamento. Ontem, exigiu maior reserva dos bancos que oferecem crédito através do cartão consignado. Toda hora, o BC inventa mais uma trava no crédito, aperta mais um parafuso. Isso só pode ter uma leitura: ele acha que as famílias estão se endividando demais. Enquanto o mercado de trabalho estiver aquecido e os salários estiverem subindo, nenhum problema. Mas qualquer freada mais forte pode produzir um aumento da inadimplência.
O BC terá que ter destreza para reduzir os excessos sem reverter o quadro de mercado de trabalho aquecido. Do contrário, pode ocorrer uma aumento da inadimplência. Tem que elevar os juros, apesar de o cenário internacional estar tão imprevisível. Tem que torcer para que a política fiscal não seja de acomodação com a elevação das despesas, apesar de não poder dar palpite sobre isso, sob risco de recriar o clima de conflito Fazenda-BC. Diante de todos esses dilemas, o Banco Central se reúne a partir de hoje.
Entrevista:O Estado inteligente
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