O Estado de S.Paulo - 19/07/2011
As cotações das ações dos bancos europeus mergulharam ontem nas bolsas, como reação à divulgação de testes de estresse.
Em vez de tranquilizar o mercado, os resultados obtidos causaram o contrário. Provocaram ainda mais desconfiança, porque não despertaram credibilidade. O que teria de ser um estudo sobre a capacidade dos bancos de enfrentar uma onda de calotes e de corrida a seus depósitos, foi apenas mais uma encenação mal executada. É outra demonstração de falta de vontade política dos dirigentes de enfrentar a vida como ela é.
O primeiro teste de estresse, no ano passado, não serviu para nada. Os cenários aplicados nas simulações foram indisfarçadamente otimistas demais. Como ninguém acreditou, a Autoridade Bancária Europeia (EBA, na sigla em inglês) entendeu que deveria organizar um segundo exame, mais apertado. Mas, também dessa vez, essas avaliações ficaram devendo credibilidade, com consequências provavelmente mais funestas do que as que haveria, caso os testes não tivessem sido aplicados.
Ontem, o Credit Suisse divulgou um estudo demolidor. Lá ficou dito que, feitos os cálculos pelo que realmente valem (a mercado) os títulos que compõem a carteira dos bancos, não pelo valor atribuído pelos operadores dos testes, os bancos europeus precisariam de um capital extra de 82 bilhões de euros (US$ 115 bilhões), e não de somente 2,5 bilhões de euros (US$ 3,5 bilhões), como foi divulgado na sexta-feira.
Conclui-se que a situação dos bancos europeus não está nem um pouco tranquila como os resultados dos testes tentaram apresentar. Como a EBA trabalhou com números irreais, é natural que o mercado fique apreensivo, perguntando-se o que, afinal, esses relatórios pretendem esconder.
Essa é mais uma demonstração do tamanho da perplexidade e paralisia que toma conta das autoridades europeias. Lidam com a crise da dívida como roscas espanadas: giram, giram e não saem do lugar.
Há pouco mais de uma semana, os ministros de Finanças da área do euro (Ecofin), reunidos em Bruxelas, passaram a estudar a proposta de que, a partir de 2013, o Mecanismo Europeu de Estabilidade (ESM, na sigla inglesa) recompre a dívida da Grécia (e, eventualmente, também a de Portugal) a valor de mercado, ou seja, com forte deságio.
Fica difícil entender como um projeto assim chega a ser avaliado pelo Ecofin. Qualquer principiante em Finanças sabe que, se uma instituição de porte do ESM passar a recomprar os títulos micados nas praças, os preços de mercado subirão imediatamente. É uma enorme instituição, antes fora do mercado, que passa a integrá-lo.
Nesta quinta-feira os chefes de Estado da zona do euro estarão reunidos em Bruxelas para mais um encontro de cúpula destinado a encaminhar uma "solução definitiva" para o problema.
Desta vez, circula a proposta de instituição de um imposto sobre os bancos para ajudar a pagar essa conta. Não está claro do que se trata. Mas o presidente da França, Nicolas Sarkozy, não esconde que defende a criação de um imposto sobre movimentação financeira, uma espécie de CPMF europeia. A conferir.
Confira
Saldo gordo
O Banco Central começou este ano projetando um saldo de apenas US$ 11 bilhões na balança comercial (exportações menos importações). O mercado foi ainda mais pessimista: a primeira pesquisa Focus apontava um superávit comercial de somente US$ 8,8 bilhões. Tanto o Banco Central como o mercado erraram feio. Nem bem virou o semestre e o resultado acumulado na balança comercial já é de US$ 15,7 bilhões. É altamente provável que, ao final do ano, o superávit ultrapasse os US$ 35 bilhões.
É o real valorizado
Esse desempenho acontece com o dólar em torno de R$ 1,58, ou seja, com o real valorizado em 30% a 40%, dependendo de como se faz essa conta.
O que ferra o quê?
O discurso recorrente é o de que esse câmbio, baixo demais, está ferrando as exportações. Dá para dizer o contrário: com esse resultado, são as exportações que estão ferrando o câmbio, na medida em que contribuem para uma oferta ainda maior de dólares.
Entrevista:O Estado inteligente
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