O Estado de S. Paulo - 04/03/2011
O governo teve lá suas razões para ser ambíguo ao avaliar o avanço do Produto Interno Bruto (PIB) de 2010. O PIB é o tamanho da renda nacional no período de um ano. Como cresceu 7,5%, o maior avanço desde o Plano Cruzado (1986), enquanto quase todo o mundo rico permaneceu prostrado na crise, haveria muito a comemorar.
O ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, que ocupou no governo Lula a Pasta do Planejamento, não economizou foguetório: "É um pibão de verdade, um resultado extraordinariamente positivo". A ministra do Planejamento, Miriam Belchior, acompanhou a mesma música: "É espetacular!".
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, elogiou o crescimento do consumo, de 10,3% ao ano: "Há muito a população não tinha um PIB tão grande". Mas acrescentou que a trajetória sustentada é uma elevação do PIB contida nos 4,5% a 5,0%. Ou seja, reconheceu que a economia a uma velocidade de 7,5% estava superaquecida. Assim, não há tanto o que comemorar. E nisso ele tem razão.
Um forte crescimento econômico obtido com excessivas despesas públicas, como as que foram feitas em 2010 para financiar os objetivos eleitorais do governo, não pode ser aplaudido como sugeriram alguns ministros. É desempenho obtido com uso de doping. A presidente Dilma Rousseff foi mais contida: "Esse PIB é um número bem razoável".
Mantega observou que a prioridade agora não é manter esse ritmo de crescimento da produção, mas combater a inflação, o efeito mais perverso do superaquecimento - e nisso foi realista.
Os indicadores do investimento foram os mais positivos das Contas Nacionais. A Formação Bruta de Capital Fixo (nome técnico do investimento) cresceu 21,8% e atingiu a magnitude de 18,4% do PIB. Como uma coisa leva a outra, o Brasil investe pouco porque poupa pouco (menos de 17% do PIB - veja gráfico) e consome muito (82%). Apenas para comparar, a China poupa 52% da renda e consome 48%.
Esses números são importantes na medida em que revelam que uma das fragilidades estruturais da economia brasileira teve um comportamento melhor do que nos anos anteriores. Investimento hoje é produção amanhã. O passo não pode ser superior ao tamanho das pernas. Sem um bom ritmo de investimento, não há como dar sustentabilidade ao crescimento econômico. A esse ritmo dos investimentos, o Brasil não conseguirá crescer mais do que 5% ao ano sem produzir inflação. E é o que está acontecendo agora.
Mesmo levando em conta o desempenho melhor do investimento, é preciso ponderar que cerca de 38% dele pouco melhora a capacidade de produção futura na medida em que corresponde à expansão da construção civil. Quando a construção civil diz respeito a fábricas, pontes e estradas elas ajudam a produção futura, mas a parcela dela ocupada pela expansão habitacional pouco ajuda nisso.
Para crescer 5% ao ano sem produzir superaquecimento de preços e outras distorções nas contas externas, o investimento teria de ser equivalente a um quarto da renda (25%) e não apenas a esses 18%. Até agora, nada autoriza dizer que o Brasil prepara esse pulo do gato. Poupança e investimento continuarão insatisfatórios para o quanto o País quer crescer.
Entrevista:O Estado inteligente
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