Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, março 04, 2011

Luiz Garcia Mais uma

O Globo - 04/03/2011


O jornal registra, com visível e talvez inevitável indignação, o fato de que a recém-criada comissão especial de reforma política da Câmara dos Deputados, incumbida de produzir projetos de lei para balizar o financiamento público de campanhas, inclui parlamentares da bancada dos fichas-sujas.

O grupo é formado por políticos que foram ou estão sendo investigados por mau comportamento coletivo ou individual, diretamente associado à carreira política de cada um. Teria seu presidente de honra - que essa palavra pudesse ser usada sem provocar amargas gargalhadas na arquibancada - na figura impar de um velho conhecido de nós todos: Paulo Maluf, do PP. Do seu prontuário recente consta uma condenação por uma câmara do Tribunal de Justiça de São Paulo por improbidade administrativa quando prefeito de São Paulo. Chegou a ser enquadrado na Lei da Ficha Limpa, mas o tribunal reviu a decisão.

Outros 40 fichas-sujas respondem ao famoso processo do mensalão, provocado por denúncia de Roberto Jefferson, então presidente do PTB. Eram parlamentares de diversos partidos que receberiam uma mesada para apoiar o Governo Lula, então no primeiro mandato. O processo começou em 2005, a Procuradoria Geral da República apresentou denúncia em abril de 2006, tudo deve terminar pontualmente SLQ - ou seja, sabe-se lá quando.

Antes disso, os fichas-sujas são obviamente intocáveis. Mas não deixa de ser um gesto de humor negro por parte dos comandos das bancadas incluir esse time no grupo incumbido de criar leis que disciplinarão questões éticas de grande importância. Alguns diriam que é algo parecido como convidar a raposa para escolher o aramado do galinheiro. Mas sempre se pode argumentar que raposas - por interesse próprio, naturalmente - entendem à beça de galinheiros.

Note-se, a propósito, que a bancada dos fichas-turvas (neologismo um pouco mais generoso: tem gente que até pode achar elogio) é multipartidária, incluindo representantes de PP, PR, PT, PSDB e outros. E, finalmente, um argumento talvez decisivo para devolver o sorriso a eleitores entristecidos pode ser o fato de que esta é a apenas mais uma na série de tentativas de reformas políticas estudadas no Congresso. Nenhuma das precedentes teve vida longa. Esta - oremos - pode ser apenas mais uma.

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