FOLHA DE SÃO PAULO - 01/08/10
A censura está voltando e é como gravidez: nenhuma mulher pode estar mais ou menos grávida
QUER DIZER QUE não se pode mais brincar com a figura dos candidatos? Não entendi bem: os programas humorísticos de rádio e televisão não podem, mas a imprensa escrita pode, ou também não pode?
Mesmo aos que escrevem coisas sempre sérias acontece, um dia, de soltar sua veia humorística; a franga, como se diz. Uma frase, uma palavra, qualquer coisa que tenha ocorrido e que dê vontade de fazer uma brincadeira, mesmo sem dizer os nomes.
Mas gostaria de saber, por exemplo: se eu disser que uma determinada candidata faz parte da tribo dos bichos-grilo, posso ir presa? E se escrever que um dos candidatos tem as olheiras mais sexy do país, irei para o tribunal, algemada? E se disser que uma outra candidata parece um sargentão autoritário, daqueles que dão medo, será que tenho que pedir asilo em alguma embaixada?
A censura está voltando, gente, e censura é como gravidez: nenhuma mulher pode estar mais ou menos grávida. Ou está, ou não está. Com a censura, é igual: ela existe, ou não. Que saudades dos tempos em que o Brasil era uma democracia.
Daqui a pouco vão dizer o que devemos e podemos comer, para ter uma vida saudável, e nunca terá havido, no mundo, um país com hábitos alimentares tão perfeitos. Lula tem certeza de ser Deus, e acha que, olhando nos olhos, pode mudar o universo. Se ele não fingisse que ignora os escândalos que acontecem em seu governo, já estaria mais do que bom, mas vamos nos preparando para dar ótimas risadas depois das eleições, com o "Casseta & Planeta", "Pânico na TV" e "CQC"; eles não vão deixar barato, a não ser que o humor seja definitivamente proibido no país - o que não é impossível, dependendo do resultado da eleição. Lula não sabe perder, e foi um papelão não ter ido ao encerramento da Copa. Se o Brasil tivesse ganho, seria ele o grande vencedor, e não quero nem pensar no que íamos ter que aturar.
Por falar em futebol, é claro que deve haver ordem dentro de um estádio, mas não adianta fazer leis para regulamentar as torcidas, se não houver quem as faça serem cumpridas. Vai ser assim: se houver um tumulto a menos de 5 km do estádio, é crime, mas um tumulto a 8 km, tudo bem.
Estão se metendo demais em nossas vidas; devagarzinho, de mansinho, vamos acabar monitorados, dentro de nossas próprias casas. Nem uma palmadinha se pode dar -sob as penas da lei. E fala sério: entre uma palmadinha no bum-bum, um lugar onde praticamente não se sente dor, e uma palavra raivosa ou um tapa, na hora da raiva, há uma enorme diferença.
O Brasil corre o risco de se transformar em um imenso Big Brother, com câmeras de TV em cada cômodo de cada casa, espionando a relação entre pais e filhos -e eu acho que já ouvi falar disso. Não teria sido no livro "1984"?
Se ainda estivesse na moda, seria o caso de fazer uma sonoterapia até o dia da eleição, para ignorar os desrespeitos que estão sendo feitos à legislação eleitoral, sem que nada aconteça. Os exemplos de falta de ética que estão sendo dados ao país vão durar por muitos e muitos anos, pois se o presidente faz, por que razão um garoto não vai poder fazer igual?
Esse é o pior legado que um governo pode deixar; e é o que a era Lula vai deixar.
Oito anos é muito tempo.
Entrevista:O Estado inteligente
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