É elétrica, é vibrante, brilha no escuro.
Nada se compara à cor da turmalina Paraíba.
Problema: aqui, as minas já secaram
Juliana Linhares
Fotos divulgação |
EXÓTICA E RARA |
A jóia na foto acima é uma peça única: um broche em formato de camélia estilizada no qual o ouro branco, os mais de 1 000 diamantes e o esmalte se contorcem sinuosamente em torno da atração principal. A pedra que parece hipnotizar quem a contempla é uma turmalina Paraíba de 37,5 quilates. Olhe de novo, porque você dificilmente verá coisa igual – o broche, batizado de Camélia Paraíba e executado pelos joalheiros da Chanel em homenagem à flor-símbolo da célebre grife, já sumiu do mercado, comprado assim que foi colocado à venda. Não estranhe se nunca tiver ouvido falar no nome da pedra de um azul que oscila entre o turquesa e o piscina, tão intenso e elétrico que é chamado de neon. Uma especialista como a diretora artística da divisão de joalheria da Dior, Victoire de Castellane, só começou a usar há pouco mais de um ano a gema extraída de apenas cinco minas no mundo, sendo três delas no Brasil, a mais importante no estado que lhe dá nome. "Ela se encantou com o exotismo da pedra", diz Rosangela Lyra, diretora-geral da Dior no Brasil. Cultora de um estilo altamente rebuscado, Victoire foi uma das primeiras a produzir jóias que misturam a turmalina azul com outras pedras preciosas coloridas. Agora, acaba de lançar uma linha que reproduz plantas carnívoras, com quatro peças contendo a turmalina Paraíba: anel, colar e um par de intrincados brincos nos quais rebrilham as pedrinhas azuis. Os preços das jóias, que não são vendidas no Brasil, vão de 55 000 a 250 000 reais. Por causa da cor e da raridade, a turmalina Paraíba é uma das pedras mais caras do mundo: 1 quilate (0,2 grama) custa em média 30 000 dólares, mas pode chegar a 100 000, dependendo das características da gema.
Poucas joalherias brasileiras produzem peças com ela. "Além da dificuldade em comprar as gemas, devido à sua baixa produção, o preço final das jóias é alto demais para o consumidor brasileiro", diz Daniel Sauer, diretor da Amsterdam Sauer. "Não temos mais do que dez peças com essa pedra." Na H.Stern, um colar com uma única e resplandecente Paraíba custa 3,07 milhões de reais. "Quem procura a turmalina é alguém que já tem todas as outras pedras importantes, como diamantes e rubis", explica Christian Hallot, relações-públicas da joalheria. A turmalina Paraíba tem esse nome porque foi encontrada pela primeira vez no distrito de São José da Batalha, no interior pobre e escaldante da Paraíba. O Brasil é rico em turmalinas, mas a variedade de um azul único surgiu da obstinação típica dos caçadores de pedras. Informado da ocorrência de gemas no subsolo paraibano, no começo dos anos 80 o mineiro Heitor Dimas Barbosa decidiu garimpar na região. Com licença do governo federal, escavou durante sete anos. Em 1989, achou um punhado de turmalinas, estranhou a cor e mandou para análise no maior laboratório de gemas do mundo, o Gemological Institute of America (GIA). A resposta chegou em poucos dias: eram pedras únicas no planeta. O GIA ficou tão impressionado que publicou uma reportagem de nove páginas em sua revista, e assim a turmalina Paraíba se tornou conhecida no meio dos aficionados, por profissão ou paixão, das pedras preciosas. O preço do grama na ocasião pulou de 60 para 20 000 dólares. "Dez pistoleiros tentaram matar meu pai para tomar as terras", conta Sérgio Barbosa, filho de Heitor, hoje com 75 anos. Depois de muita briga, os Barbosa dividiram a mina da Batalha em três pedaços e exploram um deles. O auge da produção das turmalinas na mina da Batalha se deu entre 1990 e 1992. Desde então, a incidência de gemas caiu progressivamente e há dez anos a mina não produz uma pedra sequer. "Continuamos escavando. Temos esperança de encontrar outros bolsões", diz Sérgio.
Fotos divulgação e Rodrigo Lopes |
CANSOU DOS DIAMANTES? APROVEITE |
Enquanto a mina da Batalha entrava em declínio, as turmalinas foram achadas em três outros locais: duas minas no Rio Grande do Norte, uma em Moçambique e outra na Nigéria. Criou-se, então, o tipo de discussão que faz ferver o sangue dos especialistas: poderiam ser chamadas de turmalina Paraíba? Alguns gemólogos acham que não – as pedras da Batalha têm um azul incomparavelmente intenso. Sob o ponto de vista dos elementos que as compõem, no entanto, brasileiras e africanas são iguais. "Todas elas têm a mesma composição química, cujos principais elementos são o manganês e o cobre – este, o responsável pelo tom azul", explica a gemóloga Jane Gama, do Instituto Brasileiro de Gemas e Metais Preciosos. "A diferença só existe por uma questão comercial. Como a pedra da Batalha foi a primeira a ser encontrada, o mercado dá mais valor a ela", diz Odúlio Moura, gerente de uma das minas do Rio Grande do Norte. Estas, aliás, também estão secas: uma foi desativada em maio e a outra não produz praticamente nada há dois anos. Nos últimos tempos, todas as turmalinas Paraíba colocadas à venda em estado bruto vieram da África, e mesmo assim em produção limitada. Mais abundantes, as pedras que pendem para o verde são menos valorizadas. Ter uma turmalina Paraíba, seja ela brasileira, seja ela africana, continua a ser um privilégio. A quem não tem, resta encantar-se com as imagens reproduzidas. Ou ficar azul de inveja.