A pressão desses competidores será exercida - e os primeiros sinais já são sensíveis - tanto fora quanto dentro do Brasil. A disputa dos mercados mais desenvolvidos, agora em recessão, deverá ser muito mais trabalhosa, por causa da redução da demanda. Com menor perspectiva de ampliar os negócios nos Estados Unidos e na Europa, chineses e outros exportadores da Ásia deverão buscar outros alvos. A América Latina já foi selecionada como um deles. Os países latino-americanos têm sido um dos principais campos de atuação dos exportadores brasileiros de manufaturados. Seu trabalho ficará muito mais complicado, no futuro próximo, se os chineses, como se espera, desviarem seus esforços para essa área. Mas o próprio mercado brasileiro ficará mais vulnerável à competição, depois da concessão de novos incentivos fiscais à indústria chinesa.
Medidas protecionistas, portanto, não resolverão o problema, ou servirão para atenuar apenas uma pequena parte das novas dificuldades, porque a competição será mais acentuada em todos os mercados. Políticas defensivas serão pouco eficientes para impedir uma grave deterioração do saldo comercial brasileiro. O superávit na conta de mercadorias continua a diminuir com rapidez. Neste ano, até a primeira semana de novembro, o saldo acumulado ficou em US$ 21,32 bilhões e foi 39,9% menor que o de igual período do ano passado, considerando-se a média por dia útil. Pelo mesmo critério, as exportações, US$ 173,54 bilhões, foram 27,2% maiores que as de um ano antes, mas o valor das importações cresceu muito mais: 50,7%.
Ao mesmo tempo, cresceu o déficit na conta de serviços. Vários fatores contribuíram para isso e o mais importante foi o aumento da remessa de lucros e dividendos de filiais de empresas estrangeiras, tendência facilmente compreensível diante da piora de resultados financeiros das matrizes. No conjunto, o saldo acumulado em 12 meses na conta corrente do balanço de pagamentos passou de um superávit de US$ 1,71 bilhão em dezembro de 2007 para um déficit de US$ 25,17 bilhões em setembro deste ano, com tendência de piora. Em abril do ano passado, o superávit havia chegado a US$ 13,92 bilhões. Em apenas 17 meses, portanto, houve uma redução de US$ 39 bilhões no saldo da conta corrente.
O dado preocupante, neste momento, não é o saldo atual dessa conta. É a deterioração veloz do balanço de pagamentos, porque o investimento direto necessário para fechar o rombo tende a diminuir. Descuidar desse problema é assumir o risco de jogar o Brasil, mais uma vez, numa crise cambial.
Enquanto o quadro piora, o exportador brasileiro continua batalhando com o excesso de impostos e a escassez de financiamentos. Embora o Banco Central tenha tomado medidas para restabelecer o Adiantamento de Contrato de Câmbio (ACC), o financiamento mais usado pelo exportador, a oferta de recursos continuou escassa no começo do mês. Na primeira semana de novembro, a média diária das operações foi 51,3% menor que a de outubro e 67,2% inferior à de setembro.
O estímulo à exportação é a maneira mais saudável de enfrentar a crise internacional, porque serve ao mesmo tempo para reduzir a vulnerabilidade externa e para fortalecer a atividade interna. O governo brasileiro parece ter dificuldade para reconhecer esses dados.