Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, novembro 13, 2008

Perto do bolso Miriam Leitão

O que pode afetar mesmo a economia é a dificuldade das empresas em pagar o 13osalário e este é o temor que a CNI tem, segundo o economista Flávio Castelo Branco. Ele admite que muitas empresas estão com problemas de acesso a capital de giro. A Associação Brasileira da Indústria Têxtil tem o mesmo receio e, por isso, pede “políticas horizontais”, e não só para setores específicos.

Segundo Flávio Castelo Branco, economista-chefe da Confederação Nacional da Indústria (CNI), as indústrias precisam de capital de giro para fechar contas e pagar a fornecedores e o 13osalário dos funcionários.

Ele acha que o governo deveria se antecipar ao problema, “que todos sabem que existe”.

— Para pagar o 13osalário aos empregados, as empresas precisam ter dinheiro.

Com o aperto do crédito, as empresas estão com problemas de capital de giro. Se não conseguirem capital, há receio de atrasar o pagamento de suas obrigações.

Entre as obrigações estão tributos federais, que impactam menos financeiramente e por mais que as empresas entrem em alguma lista de devedores, conseguem sair depois. Para o economista da CNI, não pagar o 13osalário vai frustrar o consumo que o próprio governo prevê para o fim do ano.

— Não depositando o 13o a empresa cria uma situação difícil para ela, frustra os trabalhadores, que são consumidores e não teriam dinheiro para pagar contas e compras de Natal, e, com isso, frustra o consumo para o fim do ano.

Neste ano, a Caixa Econômica Federal está oferecendo R$ 1,5 bilhão para o financiamento de 13osalário de empresas, sendo R$ 1,2 bilhão para as micro e pequenas.

No ano passado, a Caixa emprestou R$ 800 milhões.

Já o Banco do Brasil emprestou, até agora, R$ 190 milhões para o pagamento do 13oa micro e pequenas empresas. A meta é superar R$ 600 milhões. Ou seja, já existe dinheiro circulando.

As empresas acham que não é o suficiente.

— O sistema bancário conhece essa necessidade de crédito, pode colocar taxas maiores. O governo deveria pensar numa ação específica para o 13osalário, antecipandose ao problema.

As medidas para liberar capital de giro, como os dias a mais para o pagamento dos tributos federais, foram anunciadas, mas ainda não houve nenhuma ação concreta para implantá-las — diz Castelo Branco.

A posição é a mesma do diretor-superintendente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit), Fernando Pimentel. Segundo ele, deveria haver “políticas mais horizontais”, em vez de socorro a setores específicos, como tem sido feito com a indústria automobilística.

— As empresas estão sofrendo com a liquidez. Assim como tem uma linha de financiamento para automóveis, e ela pode existir, deveria ter uma linha de financiamento do 13º .

A indústria têxtil tem muitas micro, pequenas e médias empresas. Na área de confecção, de 80% a 90% são de empresas menores. Na área têxtil, elas são mais ou menos a metade. Só na confecção, segundo a Abit, são gerados cerca de 1,6 milhão de empregos diretos e outros 6 milhões indiretos. A saída, para Pimentel, seria ter ações do governo que atendessem a todos os tamanhos e modalidades de negócios.

— O crédito está mais curto, caro e seletivo. É importante criar mecanismos mais horizontais, para folgar a todos, principalmente as micro e pequenas empresas, para que elas possam ter capital de giro com mais facilidade — defende ele.

Por enquanto, a crise internacional não afetou muito o consumo brasileiro. Os setores têm tido quedas apenas na margem, porque, em geral, as vendas terminarão positivas no ano. A redução das vendas começou a acontecer apenas em outubro, quando a crise chegou ao Brasil. Mas o país tem sido afetado por ondas, e elas estão se espalhando. Já fomos afetados pela queda forte da bolsa, pela restrição forte do crédito a partir da quebra do Lehman Brothers, pelos assustadores episódios de prejuízos nas empresas que aplicaram em derivativos cambiais. Se a restrição de crédito prejudicar o pagamento do 13osalário, a crise vai atingir diretamente o bolso do consumidor e afetar as compras de Natal.

Perto de outros países, o Brasil está relativamente bem. A Rússia perdeu US$ 100 bilhões de reservas — 80% disso foi fuga de capitais do país a partir do episódio da guerra contra a Geórgia, que trouxe de volta o fantasma da velha Rússia. A Argentina está uma lástima em todos os pontos de vista, um país que diariamente erode um pouco mais sua credibilidade.

O México depende do preço do petróleo e da capacidade de demanda da sociedade americana.

Mas não estamos tão bem quanto pensam as autoridades.

O caso da Petrobras é um exemplo. Divulgou um belo lucro e as ações despencaram.

Antes, o que o mercado não via, agora está vendo com lupa. Os analistas perceberam no balanço da empresa que os custos operacionais estão altos demais. Só de overhead a empresa gastou US$ 853 milhões, isto é 22% maior do que no trimestre anterior.

Não será mais possível esconder um problema com uma boa maquiagem, mas o que realmente preocupa é afetar de forma disseminada o bolso do consumidor, com um problema como o da dificuldade de pagamento do 13º.

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