Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, novembro 14, 2008

PACs de fachada O GLOBO EDITORIAL,

Quando a polícia fluminense executou aquela maciça operação no Complexo do Alemão parecia uma chance especial de o Estado recuperar o controle desta conflagrada área da cidade. Foi utilizado um grande contingente na ocupação do local, onde trincheiras construídas pela bandidagem acabaram removidas, e se esboçou um plano de ações de cunho social para consolidar o avanço raro conseguido pelo poder público sobre a criminalidade.

Além da imperiosa necessidade de o Estado ter de fato o monopólio da força, não só no Alemão mas em todo o território nacional, aquela operação se justificava também para permitir a execução de uma série de obras colocadas sob o guarda-chuva do PAC, marca registrada do governo Lula, programadas não apenas para o Alemão, como também para Manguinhos, Rocinha e Pavão-Pavãozinho.

As obras começaram, mas já há algum tempo está evidente que o Alemão continua sob o jugo das quadrilhas, pois não se tratou de ocupar definitivamente o território.

Recentemente, em Manguinhos, o desvio do tráfego na Avenida Leopoldo Bulhões, por exigência das obras do PAC local, teve de ser adiado por problemas de segurança, também por causa da mesma gritante falha.

Na quarta-feira, foi a vez do PavãoPavãozinho-Cantagalo, teatro de mais uma batalha entre policiais e traficantes. Sugestivamente, travada em torno do escritório da empreiteira que tenta executar as benfeitorias previstas por outro PAC.

Traficantes chegaram a usar o imóvel como trincheira.

Falta, agora, uma batalha na Rocinha, também escolhida para receber esses investimentos cantados em loas nos palanques das últimas eleições, para se fechar o cerco em torno desses projetos, vendidos à sociedade como o marco zero da libertação dessas favelas do controle de bandidos.

Os acontecimentos de anteontem no complexo de favelas entre Ipanema e Copacabana não infundem otimismo. Os PACs, marco da aliança entre Sérgio Cabral e Lula, algo positivo para o Rio, o estado e a cidade, caminham para repetir o enredo do Favela Bairro e de todos os outros projetos do tipo, que se resumiram a embelezar a fachada de favelas, sem livrá-las da ditadura do crime organizado, e tampouco conter seu crescimento. De nada adiantará construir centros comunitários, postos de saúde, o que seja, se o Estado de fato não ocupar e controlar definitivamente esses territórios.

Não nos enganemos.

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