Entrevista:O Estado inteligente

sábado, novembro 15, 2008

Os Estranhos, com Liv Tyler

Pouco se mostra, nada se explica

E é exatamente por isso que Os Estranhos assusta tanto


Isabela Boscov

Divulgação
NEM TENTE FUGIR Alguém (ou algo) persegue Liv: terror com músculos e sem gordura

Os Estranhos (The Strangers, Estados Unidos, 2008), que estréia nesta sexta-feira no país, começa com um anúncio que, embora de praxe, no decorrer do filme se revelará um toque de brilhantismo: em 11 de fevereiro de 2005, os namorados Kristen McKay e James Hoyt saíram de uma festa de casamento para uma isolada casa de verão. Lá, "coisas" aconteceram. O que exatamente, até hoje não estaria esclarecido. Segue-se uma breve cena que dá uma pista de que essas coisas envolveram muito sangue. Daí, o filme muda completamente de assunto: Kristen e James (Liv Tyler e Scott Speedman) tomam banho, trocam de roupa, não sabem o que dizer um para o outro (ele propôs noivado, ela recusou), bebem alguma coisa, ouvem música, enfrentam mais silêncios. A certa altura, uma moça bate à porta e pede para falar com alguém que não mora lá. O casal acha esquisito, porque já é madrugada, mas dá tão pouca importância ao fato que James não vê problema em sair para comprar cigarros e deixar Kristen sozinha. Mesmo quando os acontecimentos começam, eles a princípio vêm tão aos poucos que as vítimas não se dão conta de que – bem, melhor não dizer: aqui, a regra primeira do suspense, de contar ao espectador algo que os protagonistas ignoram e assim criar nele expectativa até o limite do intolerável, é tudo.

Apesar dos atores razoavelmente conhecidos, Os Estranhos foi feito pelo que é hoje uma ninharia – 9 milhões de dólares. A informação é relevante porque, houvesse mais dinheiro em jogo, o diretor estreante Bryan Bertino certamente não se poderia ter aferrado de maneira tão inflexível a essa regra, mostrando muito pouco e explicando menos ainda. O filme é tão enxuto que seu único defeito é ter uma frase além do que deveria. Só umazinha – a resposta dos algozes à pergunta de uma das vítimas, "por quê?". Ela é o que se imagina, mas ouvi-la rouba algo de seu poder. Para quem pensar em levar os letreiros iniciais a sério, porém, um aviso. Como bom cineasta de terror, Bertino adora enganar a platéia. Esses supostos fatos reais existem só na sua imaginação. Ou em um outro filme, o francês Eles, de 2006, com o qual Os Estranhos tem várias semelhanças e uma diferença: este aqui realmente dá medo.

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