Entrevista:O Estado inteligente

sábado, novembro 15, 2008

O Big Brother do vício


Um programa mostra o difícil trabalho dos
interventores – terapeutas que confrontam quem
tem problemas com álcool, drogas ou jogos


Marcelo Marthe

Confronto
Em Intervenção, a família convence um viciado a se internar


VEJA TAMBÉM
Nesta edição
A luta de Fábio

Atração do canal pago A&E, o reality show americano Intervenção oferece uma visão da luta contra o vício. A cada episódio, aborda-se um drama real. A pessoa é informada de que uma equipe de TV vai à sua casa para gravar sua participação num documentário sobre o tema. Na verdade, o programa foi contatado por parentes e amigos que buscam uma forma de arrancar o doente do vício. Invariavelmente, a situação é desesperadora. As pessoas estão a tal ponto enredadas que não se contêm nem diante das câmeras, nos cinco dias em que seus passos são acompanhados. Uma violinista adolescente consome speedball, mistura de heroína e cocaína, enquanto coça as erupções purulentas provocadas pela substância em sua pele. Um lenhador usa uma droga não menos destrutiva, a metanfetamina – e arrisca a própria pele derrubando imensos pinheiros, totalmente fora de si. O clímax de cada episódio é a "intervenção". A pessoa é confrontada pela família e por um terapeuta, empenhados em convencê-la a se internar numa clínica.

Intervenção está em sua quinta temporada e é o programa mais visto do A&E nos Estados Unidos (na TV paga brasileira, pode-se acompanhá-lo nos fins de tarde de sábado, pelo mesmo canal). Seus bons índices de audiência deram origem a um fenômeno mórbido: outros programas transformaram a guerra contra o vício em entretenimento. Numa era em que clínicas de reabilitação – rehab, na forma simplificada em inglês – ganharam visibilidade pelo entra-e-sai de famosos, o Celebrity Rehab (sem previsão de ser exibido no Brasil), do canal VH1, enfoca os esforços de gente como a loira dinamarquesa Brigitte Nielsen, ex de Sylvester Stallone e presença constante em reality shows, para largar o álcool e as drogas. O próprio A&E investiu numa versão ficcional de Intervenção. No ar no Brasil há um mês, a série The Cleaner traz Benjamin Bratt no papel de um "interventor".

Os interventores são treinados para lidar com o vício em sua forma mais pesada. O episódio que mostrou o drama do lenhador viciado em metanfetamina expôs o ponto de tensão a que a coisa pode chegar: acuado, por pouco ele não explodiu. Só com muita lábia Candy Finnigan, uma das três interventoras do programa, o acalmou. Candy, de 61 anos, é uma ex-alcoólatra (leia entrevista abaixo). Diz ela: "Faz 23 anos que parei de beber e ainda vivo minha recuperação a cada dia".

"Estou sóbria há 23 anos"

Divulgação

VIGILÂNCIA SEM FIM
Candy Finnigan: a luta contra o vício é por toda a vida


Candy Finnigan, terapeuta do programa Intervenção, falou a VEJA sobre seu trabalho:

A senhora foi viciada. Está recuperada?
Não, nem nunca estarei. Se eu me desse alta, seria como uma permissão para voltar ao vício. Comecei devagar, em festas e jantares, e aos 38 anos estava dependente e acabada. Só depois de quase perder a guarda de meus dois filhos procurei ajuda.

Intervenção aborda do vício em jogo e em drogas à anorexia. Existem moléstias mais fáceis ou difíceis de tratar?
As desordens alimentares são as mais tristes. Quem sofre de anorexia tem pouca noção do mal que está se fazendo. São necessários ao menos dois anos de tratamento para a recuperação se esboçar.

Qual é a taxa de sucesso das intervenções do programa?
De 103 casos, apenas cinco foram malsucedidos. Mas não é uma luta simples. Metade dos que largaram o vício teve recaída mais tarde.

Os interventores da vida real agem como o protagonista da série The Cleaner?
De modo algum. Nenhum profissional doparia um viciado para interná-lo. Sei que se trata de ficção, mas não se deve mandar a mensagem errada às pessoas.

Arquivo do blog