Pouco mais de um século e meio atrás, o americano Henry David Thoreau ficou famoso por defender a tese de que o governo não tinha o direito de se meter na vida dos cidadãos.
Nem de leve.
Ele escreveu bastante, amargou um bom tempo de cadeia e morreu relativamente jovem. Não fez escola.
Pois Thoreau bateria palmas para o nosso Sindicato dos Guardadores Autônomos, que assumiu — com sucesso — uma posição parecida com as suas idéias.
A prefeitura do Rio tinha aberto concorrência para guardadores na Zona Sul, o filé-mignon do setor, com mais de nove mil vagas entusiasticamente disputadas todas as horas de todos os dias. Ganhou a firma Embrapark, que botou seus funcionários nas ruas esta semana.
A concorrência foi uma iniciativa peculiar. Que se soubesse, a situação dos estacionamentos na área não apresentava qualquer problema especial. Por que, de uma hora para outra, jogar no desemprego os guardadores sindicalizados, criando um problema social de conseqüências imprevisíveis? Mas o prefeito Cesar Maia partiu para a mudança como se fosse algo de considerável e urgente interesse público. Foi praticamente a última iniciativa importante de sua passagem pela prefeitura. Difícil de entender.
Os guardadores teoricamente jogados para escanteio anunciaram que continuariam trabalhando, e sozinhos. Mostraram um desrespeito pela autoridade do poder público digno de admiradores de Thoreau. Nos primeiros dias, ganharam a parada: nenhum guardador da Embrapark conseguiu controlar sequer a vaga de um velocípede pequeno.
É claro que se trata de situação potencialmente explosiva — e só não houve brigas feias nos estacionamentos porque os novos guardadores não precisavam desafiar os rivais: ganham seus salários de qualquer jeito.
Por outro lado, os seus empregadores na Embrapark não tiveram sucesso em pedidos de ajuda à Polícia Militar e à Guarda Municipal. A PM anunciou que só se mexeria em caso de distúrbios ou agressões. E a Guarda informou que não tinha obrigação de fiscalizar estacionamentos.
Isso sugere uma situação potencialmente explosiva. Quer dizer, caso a Embrapark tenha vida longa, o que não parece garantido: anteontem, o Tribunal de Contas do Município suspendeu a validade da concorrência até que diversas e sérias dúvidas sejam explicadas.
Vai daí que a Câmara dos Vereadores pode entrar na discussão: é prudente, portanto, considerar o assunto estacionado (perdão!) por prazo imprevisível.
De qualquer maneira, não parece má idéia a investigação do Tribunal de Contas sobre essa e qualquer outra concorrência aberta em fim de governo para mexer numa situação sem qualquer sintoma preocupante e urgente.
Quem sabe, talvez nada disso aconteceria se os guardadores autônomos não se rebelassem espontaneamente contra uma decisão do poder público que — na opinião deles — interferia indevida e cruelmente em suas vidas. Sem saber, mostraramse perfeitos discípulos do esquecido Henry Thoreau, que ninguém lê há décadas.
Entrevista:O Estado inteligente
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