PHOENIX - Mesmo sem a diferença de cinco horas entre Phoenix e São Paulo, seria difícil analisar hoje o resultado definitivo da complexa eleição de ontem nos EUA. A apuração entraria noite adentro.
O processo norte-americano é diferente em cada um dos 50 Estados do país. Não há órgão centralizador, como o TSE brasileiro. As cédulas nunca são as mesmas. Vota-se também neste ano, entre outros assuntos, sobre a legalização do aborto e até a respeito de gaiolas para confinar animais em cativeiro. Os norte-americanos elegem diretores de parques, xerifes, promotores, juízes. Ao todo, cerca de 545 mil pessoas são escolhidas para ocupar cargos públicos pelo voto direto (não todas ontem), conforme a última conta do cientista político David King, de Harvard. "Nós gostamos de votar", diz ele.
No Brasil, são eleitos apenas vereadores, prefeitos, deputados (estaduais e federais), senadores, governadores e presidente. Ao todo, perto de 53 mil cargos públicos são preenchidos pelo voto direto -menos de 10% do número da peculiar democracia norte-americana.
Como nos EUA o princípio federativo existe de verdade, cada Estado faz sua eleição do jeito que bem entender. Seria inconstitucional o Congresso tentar padronizar.
Há, de fato, atrasos na apuração.
Além de uma incapacidade crônica para atender aos eleitores com rapidez. Mas talvez seja um equívoco considerar a democracia daqui defeituosa por causa da lentidão no escrutínio. Os norte-americanos muitas vezes vão dormir sem saber quem elegeram. É verdade. Estão nesse mesmo passo há mais de 200 anos. Produziram assim, pelo menos até agora, a nação mais próspera da história da humanidade.
"O sr. perdeu a eleição?", ouviu McCain dos repórteres ontem, aqui em Phoenix. Ele franziu a testa, ficou em silêncio e foi embora.