Celso Ming, celso.ming@grupoestado.com.br
Deixou para trás as aplicações financeiras conservadoras e voltou com apetite ao risco. O dólar se desvalorizou em quase todos os mercados, as bolsas viveram um dia de altas generalizadas, os preços das commodities se recuperaram, a remuneração dos títulos de renda fixa subiu por redução do interesse dos aplicadores. Enfim, tudo se passou como se essa crise já estivesse sendo revertida.
Esses movimentos não foram motivados por nenhum fato econômico novo relevante. Apenas reagiram antecipadamente à escolha do novo presidente do mais importante país do mundo, os Estados Unidos. Esse pode ter sido, então, o primeiro impacto econômico positivo desse acontecimento cuja natureza é político-eleitoral.
Embora as pesquisas tenham apontado a vitória do candidato democrata, Barack Obama, a reação de ontem dos mercados, que foi chamada talvez prematuramente de "Efeito Obama", pode não ser comemoração antecipada da vitória. Talvez seja demonstração de que até mesmo a escolha do candidato republicano seria substancialmente mais efetiva para a futura reversão do jogo do que tudo o que tem feito - e não foi pouco - o governo americano nesse resto de mandato.
O novo presidente herda um país prostrado pela recessão, pela perda de patrimônio financeiro e imobiliário, pelo medo do futuro, pela falta de confiança e pelo desvanecimento de alguns dos sonhos americanos: a casa própria, o emprego digno, a aposentadoria tranqüila, o futuro promissor para os filhos.
No jargão político inglês, o presidente George Bush não passa de um pato manco (lame duck). Está lá no Salão Oval, ainda tem mandato, mas não passa credibilidade nem consegue mobilizar a população para o contra-ataque à crise.
Ele bem que tentou. Nos dias de maior pânico, Bush foi à TV para tentar injetar confiança e pedir serenidade, mas tudo o que obteve foi indiferença.
Tantas foram as lambanças produzidas por sua administração que o chefe de Estado do país mais poderoso do mundo não consegue mais impor liderança.
Outras autoridades globais tentaram preencher o vácuo de poder. Uma delas foi o presidente da França, Nicolas Sarkozy; outra, o primeiro-ministro da Inglaterra, Gordon Brown, que fez o melhor diagnóstico da crise e foi o primeiro a atacar o incêndio de forma correta: injetando capital nos bancos.
Mas o resultado dessas tentativas de surfe político foi limitado porque a solução econômica da crise está irremediavelmente condicionada à renovação da liderança nos Estados Unidos.
A posse do novo presidente será só no dia 20 de janeiro, mas já nos próximos dias estará instalada a equipe de transição encarregada de preparar a transferência de poder.
E, na semana que vem, o novo presidente integrará a reunião de cúpula de chefes de Estado encarregada de encaminhar as mudanças no sistema financeiro global. Será a primeira oportunidade para se saber como o novo presidente americano lidará com as atuais mazelas da economia mundial.
Confira
Para cima - Não foi só a expectativa do surgimento de nova liderança nos Estados Unidos que puxou os preços das ações em todo o mundo. Parte da reação pode ser creditada à procura por pechinchas.