Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, novembro 13, 2008

Celso Ming - Maldades e bondades

A discussão da hora é se o governo deve ou não adotar políticas anticíclicas.

Trata-se de decisões de política econômica contra a paradeira da economia. A idéia é: se tudo vai bem, é melhor aplicar políticas de austeridade para equilibrar as finanças públicas. Se vai mal, é preciso gastar mais para ajudar na recuperação do sistema produtivo.

O Fundo Monetário Internacional, que sempre se bateu pelo rigor fiscal, agora recomenda o aumento das despesas públicas para ajudar a enfrentar a recessão que vem vindo braba.

Aqui essas políticas são mais conhecidas como sacos de maldades ou de bondades. O que se pede agora é que o governo despeje o conteúdo de sacos de bondades. Essas coisas estão chegando mais com propósitos eleitorais do que técnicos. O horizonte das manobras são as eleições presidenciais de 2010. E o quadro de fundo é o de que o presidente Lula não tem candidato vendável ao eleitor enquanto a oposição tem pelo menos dois nomes.

Isso posto, o governo Lula mandou que a Caixa Econômica Federal despejasse R$ 3 bilhões para reforçar o capital de giro das imobiliárias e que o Banco do Brasil (BB) enfiasse outros R$ 4 bilhões no crédito para compra de veículos.

Mas tanto o governador de São Paulo, José Serra, como o de Minas, Aécio Neves, ambos do PSDB, estão empenhados em mostrar serviço em escala nacional. As bondades de Serra prevêem R$ 4 bilhões da Nossa Caixa para financiar veículos.

E aí vai um lance especial de esperteza de Serra, que faz cumprimentos com chapéu alheio. Se o dinheiro é da Nossa Caixa, que será repassada ao BB, fica óbvio que os financiamentos acabarão sendo ativos do BB, com prazo de vencimento superior a dois anos.

O pacote de Aécio é mais modesto, de R$ 470 milhões, a serem distribuídos pelo Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais para ajudar o setor produtivo a enfrentar a crise.

Boa pergunta consiste em saber se a paradeira das vendas da indústria automobilística é devida à falta de financiamento ou a certo esgotamento do mercado. Há boas razões para acreditar que é falta de mercado.

Em 2007, as vendas de automóveis cresceram 28% e, neste ano até outubro, 23%, avanços tão fantásticos como insustentáveis. Na maior parte desse período, os financiamentos foram feitos por mais de 36 meses. No início do ano, chegaram a ultrapassar 90 meses, o que levou o ministro Mantega a anunciar a intenção de intervir para reduzir os prazos. Isso significa que uma larga fatia do mercado parece atendida. O consumidor ainda está pagando seu carro e não pretende voltar tão cedo à concessionária.

Além disso, o estancamento do crédito ocorrido há cerca de um mês não se deveu a problemas nos bancos, como aconteceu no exterior. Apareceu com o estouro das operações com derivativos de câmbio, que lançaram dúvidas sobre a capacidade de pagamento de muitas empresas. Como o problema já está equacionado, o fluxo do crédito começa a ser restabelecido.

Dentro de algumas semanas saberemos até que ponto mais crédito à compra de veículos será suficiente para a retomada da produção. E, se for para combater a recessão que vem vindo aí, convém perguntar se o segmento a ser atendido prioritariamente é o de veículos.

Confira

Erro de foco - Vai ser difícil para o secretário do Tesouro americano, Henry Paulson, livrar-se da pecha de incompetente.

Há menos de um mês, praticamente chantageou o Congresso para que aprovasse o pacote de US$ 750 bilhões, mas ontem reconheceu que o pacote não está funcionando. Ele quer agora mudar o foco e passar a financiar o consumo.

O problema é que as demandas estão aumentando: é o resgate das hipotecas, o socorro à indústria de veículos, a capitalização dos bancos, a recessão fazendo estrago... E o governo Bush com sua credibilidade quase zero.

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