Entrevista:O Estado inteligente
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domingo, novembro 16, 2008
Augusto Nunes Sete Dias
Os rufiões dos anos de chumbo
Caso se interessassem pelo fu- turo do Brasil, o ministro da Justiça e o secretário nacional dos Direitos Humanos estariam exibindo as olheiras superlativas dos inconformados com a institucionalização da tortura no sistema carcerário. Tanto o ministro Tarso Genro quanto o secretário Paulo de Tarso Vannuchi sabem que, neste momento, centenas de presos comuns estão sendo seviciados por policiais que preferem o choque elétrico à investigação ou por integrantes dos bandos criminosos que governam as cadeias. Como só se interessam pelo próprio futuro político, os dois ordenanças vencidos na guerra suja esquecem os carrascos do presente para acertar contas com torturadores do passado. Nas capitanias confiadas à dupla, problemas é o que não falta. Mas os companheiros resolveram que não existe urgência mais urgentíssima que a revisão da Lei de Anistia decretada em 1979. Seria "ampla, geral e irrestrita", combinaram os negociadores do documento, ao fim de conversas especialmente delicadas. Nem tanto, descobriram quase 30 anos depois os parceiros ansiosos pela vingança. Quem olha por espelhos retrovisores caminho à margem do penhasco é forte candidato ao título de homem sem visão do ano. Quem olha só pelo retrovisor direito, garimpando imagens de torturadores aposentados, é um cretino fundamental. Para os tarsos, a anistia que livrou Genro do medo crônico e Vannuchi da cadeia não se estende aos porões da ditadura. "A lei se aplica tanto aos adversários do regime militar quanto aos agentes do poder público que eventualmente praticaram torturas contra presos políticos", discordou José Antonio Toffoli, advogado-geral da União. "Tortura é crime imprescritível", replicaram em coro os tarsos. "Terrorismo também é", avisou Gilmar Mendes, presidente do STF, amparado no artigo 43 da Constituição. Foi a senha para o desembarque na frente de batalha dos heróis de araque, sempre fantasiados de credores da imensa maioria que nada lhes deve. É um absurdo chamar de terroristas os que, por falta de opções, lutaram contra a ditadura de armas na mão, viajaram de novo os rufiões dos anos de chumbo. Havia opção, sim, deveriam berrar milhões de brasileiros que resistiram até que a liberdade abrisse as asas sobre nós e restaurasse a democracia. Anos a fio, a resistência democrática suportou a arrogância dos extremistas de esquerda e a prepotência dos direitistas radicais. Uns menosprezavam os "pequeno-burgueses a serviço do capitalismo". Outros tentavam conter a cólera provocada pela parvoíce dos "inocentes úteis a serviço dos comunistas". Enquanto o delírio durou, os devotos da luta armada não fizeram reparos ao manual da guerrilha redigido por Carlos Marighela. "A ação terrorista deve ser executada com muita calma, decisão e sangue frio", ensina um trecho. "O terrorismo é uma arma que o revolucionário não pode abandonar". Só agora os guerrilheiros cismaram que o estigma foi invenção da ditadura. A anistia não será revogada, mas nada impede escavações históricas amplas, gerais e irrestritas. Ex-torturadores merecem ser tratados como figuras abjetas. Ex-terroristas, também.
A conversão
da candidata
A ministra acredita em Deus?, perguntaram os jornalistas ao fim do encontro entre Dilma Rousseff e o papa. "Eu me equilibro bem nessa questão. Será que há? Será que não há? Eu me equilibro nela", respondeu a ex-camarada de armas de José Dirceu. Diante dos olhares de espanto, engatou uma segunda: "Tenho toda formação religiosa que uma pessoa de minha geração teve no Brasil. Fiquei durante muito tempo meio descrente. Acredito que as diferentes religiosidades são fundamentais para as pessoas viverem. A gente não pode achar que só existe aquele seu Deus". Tudo esclarecido.
Com o Brasil
ninguém pode
A folhinha de 2009 informa que, dos 13 feriados nacionais, oito caem na segunda ou na sexta-feira (feriadão obrigatório) e quatro na terça ou na quinta (feriadão facultativo, mas respeitado em toda a nação). Os paulistas com o 9 de julho numa quinta e os cariocas com o 20 de janeiro numa terça foram brindados com mais uma folga de quatro dias. Somados os feriados oficiais, os enforcados, os sábados e os domingos, serão 152 dias de descanso. Sobram 213 (58,35% do ano) para o trabalho. Tremendo calendário. Com crise ou sem, 2009 será lembrado com carinho por milhões de brasileiros.
Um estadista contempla a tempestade
"Bush, meu filho, resolve o problema da crise, porque não vou deixar que ela atravesse o Atlântico", preveniu Lula em 27 de março, repetindo o recado enviado em setembro de 2007. Dado o aviso, esqueceu o assunto por seis meses, para retomá-lo em ritmo de encontro em motel: anda falando tanto que o país não sabe direito o que pensa o presidente.
Releiam:
Setembro, 17:"Que crise?
Pergunta pro Bush".
Setembro, 18: "O Brasil vive
um momento mágico".
Setembro, 22:"Até agora, gra-
ças a Deus, a crise americana não atravessou o Atlântico".
Setembro, 29: "O Brasil, se
tiver que passar por um aperto, será muito pequeno".
Setembro, 30: "A crise é tão
séria e profunda que nem sa- bemos o tamanho. Talvez seja a maior na História mundial".
Outubro, 4: "Lá, a crise é um
tsunâmi. Aqui, se chegar, vai ser uma marolinha, que não dá nem para esquiar".
Outubro, 5: "Queremos que
esse tema da crise mundial seja levado ao Congresso".
Novembro, 8: "Ninguém está
a salvo, todos os países serão atingidos pela crise".
Novembro, 10: Toda crise
tem solução. A única que eu pensei que não tivesse jeito era a crise do Corinthians". Se ouviu o palavrório, nem a crise sabe o que ocorrerá enquanto ficar por aqui. Só sabe que Lula anda meio doidão.
Os punguistas
atacam de novo
Ocupados com cambalhotas aritméticas que reduzam as despesas domésticas, os brasileiros nem notaram que o governo estava, de novo, enfiando a mão no bolso da nação. A tunga rendeu, no mínimo, mais de R$ 2 bilhões, preço do buraco aberto pela espantosa medida provisória que anistiou milhares de "entidades filantrópicas" enredadas em delinqüências e gatunagens. Zerada a conta, o Planalto promete que vai investigar criteriosamente caso por caso. É como esvaziar todos os presídios do país e, com a turma em liberdade, apurar quem merece cadeia. É o Brasil.
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