É crime ou é só castigo?
Prisão do número 2 da Polícia Federal expõe
o acirramento de uma perigosa disputa entre
grupos rivais dentro da instituição
Alexandre Oltramari
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INIMIGO ÍNTIMO |
Folha Imagem |
O delegado Romero Menezes, o número 2 da Polícia Federal, assistiu na semana passada a uma ação policial de um ângulo diferente. "Tchê, tenho péssimas notícias", ouviu ele do diretor-geral da PF, Luiz Fernando Corrêa, antes de ser informado de que estava sendo preso por ordem da Justiça Federal do Amapá. Aos 52 anos, 32 deles na PF, Menezes é suspeito de ter praticado os crimes de advocacia administrativa, concussão, prevaricação e quebra de sigilo funcional. Ele é investigado sob a acusação de usar o cargo para beneficiar um irmão, dono de uma empresa que presta serviços ao bilionário empresário Eike Batista, dentro da PF. Também é suspeito de ter informado ao empresário que ele seria alvo de uma ofensiva policial, há dois meses. A investigação acabou sendo prejudicada pelo vazamento da informação. A prisão do número 2 da PF foi determinada pela Justiça Federal diante do argumento de que, solto, ele poderia interferir na operação que apreendeu computadores, agendas e pen drives em sua casa e em seu gabinete funcional. O delegado foi libertado por decisão do Tribunal Regional Federal, quinze horas depois de ser detido.
O já tradicional prende-e-solta, aliado ao ambiente de guerrilha instalado na PF entre a turma do diretor-geral Luiz Fernando Corrêa e a de seu antecessor, Paulo Lacerda, por causa do caso da parceria clandestina entre a PF e a Abin, causou um clima de desconfiança em torno da prisão. "É uma canalhice. Isso é produto de um delegado mal informado e de um procurador precipitado", reagiu Romero Menezes. O delegado Anderson Rui Fontel, que comanda a PF no Amapá, é responsável pela investigação contra Menezes. Além de desafeto do suspeito, ele deve o cargo a Paulo Lacerda, inimigo do grupo a quem Menezes auxiliava na condição de número 2 da instituição. O procurador Douglas Santos Araújo, autor do pedido de prisão, garante que a contenda interna na PF não tem relação alguma com o cerco ao delegado Menezes. "Sou muito cauteloso. Mas há indícios bastante consistentes de que, entre outras coisas, ele vazou uma operação sigilosa", diz Araújo. O ministro Tarso Genro, da Justiça, considerou a prisão desnecessária: "Sendo ele dirigente da PF, bastava o juiz pedir seu afastamento para não influenciar na coleta de provas".