As tropas federais chegaram ao Rio de Janeiro na quinta-feira para proteger o eleitor e assegurar o direito de ir e vir dos candidatos nos locais onde o crime organizou seus redutos eleitorais para fins de infiltração no aparelho de Estado mediante a conquista de mandatos públicos.
E o que se viu no primeiro dia? Moradores com medo dos soldados e candidatos resistentes a entrar nas áreas de vigilância por receio da “repercussão negativa” junto aos eleitores.
De duas, uma: ou a história está mal contada ou o envio das Forças Armadas para contrapor o peso do poder público à ação da marginalidade acaba de revelar a vitória da ótica da marginalidade sobre a lógica da legalidade.
Da população refém da bandidagem aceitam-se as manifestações de desagrado até como estratégia de defesa. Afinal, os soldados estão de passagem enquanto traficantes e milicianos estão enfronhados no dia-a-dia das pessoas impondo a lei da selva. Mas, bem ou mal, é a lei que as comunidades conhecem.
Agora, no tocante à conduta dos candidatos, é impossível qualquer interpretação que exclua a premissa da entrega dos pontos. Seja por excesso de conhecimento sobre aquela realidade, seja por carência de entendimento a respeito de seu significado para a democracia e para a segurança nacional.
O prefeito Cesar Maia seguramente percebeu o espírito da coisa quando resolveu despachar sua candidata Solange Amaral para dar uma volta na Cidade de Deus a fim de “tranqüilizar os moradores”. A deputada, na verdade, foi lá marcar uma presença em contraposição ao recolhimento geral.
Retraimento movido não a covardia, mas a rendição. Traduzida na justificativa da vereadora Andréa Gouveia Vieira: “Não vou entregar santinho a alguém que vai se sentir ameaçado no dia seguinte, quando o Exército sair”.
Ela disse tudo. Numa frase, falou sobre a inocuidade de uma operação nos moldes em que foi concebida - como gesto de publicidade, não como ato de combate; falou sobre o abandono daquela gente; falou sobre o receio de provocar a ira dos bandidos e deixar a conta do castigo para os moradores pagarem; falou sobre o conformismo diante da situação que fala também a respeito da ausência de percepção sobre o panorama futuro.
Quando o Tribunal Superior Eleitoral concluiu pela necessidade de envio de tropas ao Rio, percebeu que algo precisava ser feito para barrar o projeto já em marcha do aumento das bancadas parlamentares direta ou indiretamente ligadas ao mundo do crime.
Os políticos não entenderam ou se fizeram de desentendidos. O vice-governador inicialmente protestou, mas calou-se assim que o governador Sérgio Cabral adotou a tática da composição politicamente mais conveniente: pediu ele mesmo o envio de tropas, saudou a presença do Exército pedindo até que fosse contínua e mais não discutiu.
Imaginava-se que fosse um parceiro da operação. Mas seu candidato, o ex-deputado Eduardo Paes, foi dos primeiros a anunciar prudente distância das áreas escolhidas como passíveis de temporária - e muito tênue - intervenção.
O episódio deixa mais do que clara a razão das Forças Armadas em participar de operações de combate ao crime: a total indisposição para o papel de protagonista em atuações burlescas.
Como autoridades e candidatos insistem em subtrair da atuação eleitoral dos bandidos o merecido peso, a tropa atua sem respaldo, exposta sozinha na linha de frente.
Não é o presidente da República nem o governador que estão lá pedindo licença para compatibilizar suas atividades com a agenda do crime. São as Forças Armadas que, no caso, não recebem as reverências e o respeito ora devidos às quadrilhas.
Multiplex
Se Dilma Rousseff será mesmo candidata à Presidência da República em 2010 são quinhentos outros a serem devidamente contabilizados ao longo de 2009 de acordo com as circunstâncias.
Independentemente do que vier a ser, Dilma já cumpre várias tarefas no papel de candidata “lançada”: evita que um presidente popular como Lula tenha seu prestígio abalado por não ter candidato à própria sucessão, enquanto a oposição tem dois; estanca o debate sobre o terceiro mandato; restringe a movimentação explícita de ambições dentro do PT; cria para o governo um ambiente de expectativa de poder na segunda metade do último mandato legalmente permitido.
Na campanha municipal Dilma ganhou também a missão de enviada especial do presidente a áreas francamente dominadas pela possibilidade de derrota.
Lula prometeu ir a Natal dar uma ajuda à candidata do PT, batida nas pesquisas pela oponente patrocinada por uma aliança entre o DEM e o PV, e mandou Dilma para “ajudar” a governista.
Neste aspecto, o presidente não ultrapassou os limites da solidariedade respeitados por todos os políticos e que se localiza na fronteira entre a evidência do ganho quase certo e a hipótese de perda irrecuperável.
Entrevista:O Estado inteligente
- Índice atual:www.indicedeartigosetc.blogspot.com.br/
- INDICE ANTERIOR a Setembro 28, 2008
Arquivo do blog
-
▼
2008
(5781)
-
▼
setembro
(500)
- Carlos Alberto Sardenberg
- do BLOG MIRIAM LEITÃO,
- Clipping do dia 30/09/2008
- Proer blindou o sistema bancário brasileiro
- O telefonema das 3h da manhã Paul Krugman
- Na contramão EDITORIAL O Globo
- Melhor prevenir EDITORIAL O Globo
- A segunda-feira negra
- Míriam Leitão - País sem governo
- Merval Pereira - A revolta dos conservadores
- Dora Kramer - Conversa de mudos
- Luiz Garcia - Dois chatos:McCain e Obama.
- Celso Ming - Prevaleceu o eleitoreiro
- Gustavo Loyola, "Voltamos para a estaca zero"
- Está tudo errado, diz Fernandes
- A grande mentira - Reinaldo Azevedo
- Crescer não é mais prioridade, diz Armínio
- Plano de ajuda não passa: um erro brutal nos EUA
- BRASIL JÁ PAGA A CONTA DA CRISE
- Alex, Fátima e a crise americana
- Clipping do dia 29/09/2008
- Clipping do dia 28/09/2008
- Clipping do dia 27/09/2008
- Vítimas Denis Lerrer Rosenfield
- Tempo perdido EDITORIAL O Globo
- Poucos arranhões - George Vidor
- Brincar com fogo Editorial Correio Braziliense
- A volta a Keynes e a insanidade dos mercados
- A febre demarcatória editorial O Estado de S. Paulo
- Folha ENTREVISTA - GILMAR MENDES
- A popularidade é um engodo (Giulio Sanmartini)
- Congresso dos Estados Unidos muda pacote para prot...
- Equador: Correa a caminho da ditadura
- Folha ENTREVISTA HENRIQUE MEIRELLES
- MARCOS LISBOA A crise e a reação
- FERREIRA GULLAR
- DANUZA LEÃO
- Nós e as crises Miriam Leitão
- Erro de prioridade
- Sabor de derrota Merval Pereira
- Mariano Grondona El largo viaje de la emulación al...
- Joaquín Morales Solá | Tejer y destejer en Nueva York
- João Ubaldo Ribeiro Não somos todos burros
- Daniel Piza
- Remover escombros Celso Ming
- Sindicatos ricos e fracos Suely Caldas*
- ''Caros amigos do Iraque, acordem!''Thomas F. Frie...
- Desempate vale o tri Dora Kramer
- O aumento da arrecadação federal
- O tiroteio na batalha final Gaudêncio Torquato
- A federalização do ensino básico Paulo Renato Souza
- Oportunidade na crise
- Putin se serve de Chávez
- Augusto Nunes-SETE DIAS
- Política é o caminho das águas - Antonio Carlos Ri...
- Lula e o escrivão -Ruy FABIANO
- Erros do pacote Miriam Leitão
- À beira do precipício Merval Pereira
- O que vem antes do pré-sal
- O pré-sal, a riqueza nacional e o PIB Paulo R. Ha...
- Capital para a Petrobrás Celso Ming
- O peso do contrapeso Dora Kramer
- VEJA Carta ao leitor
- VEJA Entrevista Joyce Pascowitch
- Diogo Mainardi Os americanos sempre ganham
- J.R. Guzzo
- LYA LUFT
- MIllÔR
- RADAR
- Gustavo Ioschpe
- Crise: o pacote salvador do governo americano
- Especial-Entrevista: Dominique Strauss-Kahn
- Dicionário da crise
- O novo papel do estado e a falta de liderança
- Agências de risco erraram feio
- Famílias perdem o teto
- A crise chegou ao luxo
- Nassim Taleb: contra a futurologia
- As escutas telefônicas da PF
- Recife Favorito é acusado de abuso de poder
- Porto Alegre Três mulheres contra o prefeito
- O governo contra a liberdade de imprensa
- Direitos humanos Entrevista com José Miguel Vivanco
- O populismo dos vizinhos inconvenientes
- De onde vem a inspiração dos assassinos
- África do Sul Lideranças decadentes
- Aids: a infecção entre jovens
- Washington Olivetto e o primeiro sutiã
- Gente
- A volta do coque
- O celular do Google
- O Brasil começa a levar a sério a força eólica
- Os benefícios da ioga para as crianças
- A vida festeira da família Dellal
- O bê-á-bá dos rankings
- A escolha da escola: faça as perguntas certas
- As melhores universidades
- Le Carré e o serviço secreto britânico
- Uma mostra fabulosa de Van Gogh
- Lua Nova, de Stephenie Meyer
-
▼
setembro
(500)
- Blog do Lampreia
- Caio Blinder
- Adriano Pires
- Democracia Politica e novo reformismo
- Blog do VILLA
- Augusto Nunes
- Reinaldo Azevedo
- Conteudo Livre
- Indice anterior a 4 dezembro de 2005
- Google News
- INDICE ATUALIZADO
- INDICE ATE4 DEZEMBRO 2005
- Blog Noblat
- e-agora
- CLIPPING DE NOTICIAS
- truthout
- BLOG JOSIAS DE SOUZA