A primavera está chegando e, com ela, chegam as chuvas que anunciam o plantio da safra.
A previsão do Ministério da Agricultura é de uma produção de pelo menos 151 milhões de toneladas de grãos, ou 5% acima do colhido na safra anterior.
O agricultor parece animado, mas enfrenta perspectivas de sinais trocados. De um lado, os preços das commodities agrícolas caem no mercado internacional, os dos insumos (fertilizantes e defensivos) estão em alta e isso tende a tirar renda do produtor. De outro, as cotações do dólar, moeda em que são fixados os preços da maioria dos produtos agrícolas, se inverteram e sobem no câmbio interno, o que pode neutralizar ao menos parte das perdas do agricultor. Falta saber qual será o aumento da produtividade. E, quando se fala nela, é preciso analisar sementes, fertilizantes, defensivos e maquinário.
Dados da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) mostram que o PIB do setor agropecuário cresceu 4,96% nos primeiros cinco meses do ano, mas o PIB dos insumos agrícolas cresceu mais do que o dobro disso: 10,37%. Para a analista da Tendências Consultoria, Amaryllis Romano, isso não quer dizer que o produtor esteja ganhando mais: “Como a margem está reduzida, ele pode investir menos em fertilizantes nessa safra.”
Ywao Miyamoto, presidente da Associação Brasileira de Sementes e Mudas (Abrasem), lembra que as sementes pesam apenas de 5% a 6% no custo de uma plantação, mas garantem, a um só tempo, maior produtividade e menor despesa com defensivos.
Pelos seus cálculos, foram negociados até agora cerca de 80% das sementes para esta safra. A produção, que foi de 1,8 milhão de toneladas na safra passada, deve atingir 2 milhões de toneladas na atual. Hoje, cerca de 60% das sementes utilizadas no Brasil são legais e 40% são piratas.
Os preços dos fertilizantes, vilões do produtor, atingiram patamares ainda mais elevados. Levantamento da Scot Consultoria mostra que, de janeiro a setembro, subiram 65%. Em 12 meses, a alta chegou a 90%, apesar de ligeiro recuo em julho e em setembro.
No primeiro semestre, o consumo aparente de fertilizantes aumentou 20% em comparação ao mesmo período de 2007. E, como no Brasil o seu suprimento depende em 75% das importações, elas avançaram 12,5%, e a produção interna, 5%, de acordo com a Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda).
Dados do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Agrícola (Sindag) indicam que o comércio de defensivos cresceu 40% de janeiro a julho, totalizando R$ 5,14 bilhões. Herbicidas e fungicidas concentraram 50% e 43% dos negócios, respectivamente.
E o comércio de máquinas agrícolas, embora tenha tido ligeira queda em julho, continua aquecido. Os números da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) indicam alta de 47,8% nas vendas internas de janeiro a agosto, com 35,5 mil unidades.
O produtor pode encontrar dificuldades para driblar os preços dos fertilizantes, mas tudo indica que, se for mantido o atual ritmo de vendas de insumos agrícolas e o tempo ajudar, a próxima safra não decepcionará as expectativas.