Quedas exageradas
Os números sobre o crescimento da economia brasileira no segundo trimestre deste ano vieram muito bem, melhores do que o esperado.
Muita gente estará perguntando: se a economia vem bem, como a Bolsa, onde estão ações das empresas que fazem esse crescimento, pode estar tão mal? De um lado, se poderia dizer que os números do PIB mostram o passado. Mostram o que aconteceu até o primeiro semestre, e já estamos no final do terceiro trimestre. A economia pode já estar desacelerando, como sugeriu o desempenho da produção e vendas de automóvel em agosto. E a Bolsa age com base nas expectativas, não pelo passado.
Tudo bem, mas os dados do PIB mostram um desempenho bastante sólido, inclusive com expansão dos investimentos, que aumentam a capacidade de produção e distribuição. Mostram ainda boa produção industrial, consumo forte. Simplesmente, não é possível que tudo isso se dissolva no ar.
Ou seja, há exagero, sim, na queda da Bolsa e no nervosismo no mercado financeiro.
O que se fez até aqui já garante um bom crescimento neste ano. Em linha com o mundo, a economia brasileira estará desacelerando nos próximos meses, inclusive por causa da alta dos juros do Banco Central, mas vem de um patamar alto e de um ritmo forte.
Haverá problemas, como a volta do déficit nas contas externas, a alta do dólar (e seus efeitos inflacionários), mas, de novo, a estrutura macroeconômica do país é hoje muito mais sólida e organizada do que em crises e desacelerações anteriores.
Resumo da ópera: não morremos no final.
Em tempo: convém, portanto, evitar tanto a tese governista (está tudo bem, somos uma ilha de prosperidade) quanto a derrotista (vai dar tudo errado). E registrar que o país veio bem, passará por problemas que podem ser administrados e ainda enfrenta obstáculos para crescer mais.
Por exemplo, está longe do ideal nesse quesito de investimentos. Chegaram a 18,7% do PIB no segundo trimestre, quase um ponto acima do nível de 2007, bom avanço, mas para um crescimento acelerado seriam necessários de 22% a 23%.
Enquanto isso...
Quando o preço do petróleo encostou nos US$ 150 o barril, saíram vários relatórios dizendo que poderia chegar a 200 dólares.
Agora que o preço se aproxima dos 100, relatórios dizem que pode chegar a 75 dólares.
Os investidores se comportam do mesmo modo. Quando percebem que o preço está subindo, compram na expectativa de que a alta vai continuar. E inversamente.
Vale para todos os mercados. Quando a situação brasileira parecia muito boa e a Bovespa passou dos 70 mil pontos, relatórios dos principais bancos e corretoras diziam que a Bolsa chegaria ao final deste ano nos 80 mil pontos.
Agora, vai tudo para baixo.
Há aí uma mistura de fundamentos e especulação.
Tome-se o petróleo. Em 2006, o consumo mundial foi de 85 milhões de barris/dia, só um pouco abaixo da produção de 85,4 milhões.
Em 2007, o consumo saltou para 85,8 milhões de barris/dia e a produção aumentou só um pouquinho, para 85,6 milhões.
Ou seja, já houve mais consumo do que produção, sendo parte da demanda atendida por reservas.
Nesse período todo, houve problemas com a produção em diversos países e os custos de exploração encareceram.
Ora, em 2008, com o mundo crescendo e aumentando o consumo de petróleo para algo 87,5 milhões de barris (projeção do FMI), tudo indicava preço em alta. Aí entra a especulação.
Investidores compram petróleo, porque é mercadoria escassa e valiosa.
Assim, o preço foi de 60 dólares o barril (janeiro de 2007) para os quase 150 verificados em julho último.
Foi então que começou a cair a ficha de que o mundo vai crescer bem menos neste ano e no próximo. A primeira coisa que cai é o excesso que a especulação acrescentara ao preço. O negócio é se desfazer de uma mercadoria ou um papel que está se desvalorizando.
Leva algum tempo para que as coisas se equilibrem. Ou seja, o petróleo não vale 150 dólares (como a Bovespa não valia 73 mil pontos), mas também vale mais que 70 (como provavelmente a Bovespa vale mais de 40 mil pontos).
O mundo está crescendo menos e tem mais inflação. Isso significa que haverá menos consumo e investimento. Pelas estimativas do FMI, o mundo cresce 4% neste ano e 3,7% no próximo, contra os extraordinários 5% de 2006 e 2007.
O comércio mundial de bens e serviços, que cresceu 9,2% em 2006 e 6,8% em 2007, deve desacelerar para expansão de 5,6% neste e no próximo ano.
Acabou o período excepcionalmente brilhante de 2003 a 2007. Mas não se prevê uma hecatombe.
Entrevista:O Estado inteligente
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