Entrevista:O Estado inteligente

sábado, setembro 06, 2008

Auto-retrato: Jorgen Vig Knudstorp

Jorgen Vig Knudstorp

Divulgação


Nenhum brinquedo é vendido a crianças de tantos países quanto o Lego, blocos de montar criados em 1947 por um carpinteiro dinamarquês. No comando da empresa está Jorgen Vig Knudstorp, 39 anos, a quem é atribuído um feito fundamental para a sobrevivência do negócio: tornar os antigos blocos atrativos para as crianças da era digital. De Billund, na Dinamarca, Knudstorp falou ao repórter Marcos Todeschini.

Como manter um brinquedo inventado há sessenta anos atrativo para as crianças? Quando começaram a surgir videogames e brinquedos eletrônicos, fizemos uma opção puritana: permanecemos fiéis aos velhos blocos de montar. Mas as vendas só caíam. Foi aí que a Lego tomou a dura decisão de criar robôs e acrescentar circuitos elétricos aos blocos. Isso nos manteve vivos. Até as escolas passaram a usá-los na sala de aula.

Com que finalidade? Basicamente, para ensinar princípios de robótica às crianças. Elas próprias montam os robôs e instalam os circuitos. Isso faz mais sucesso nos países asiáticos. Lá, o que mais diverte os alunos é saber quem constrói mais em menos tempo. Depois, eles exibem suas esculturas na internet. A rede sempre entra de algum modo na brincadeira – e as pesquisas confirmam isso.

O que dizem as pesquisas? Elas mostram que a rede proporciona às crianças algo que elas descrevem com imenso prazer: a chance de competir umas com as outras em escala global. No caso dos blocos de montar, o desafio é criar edifícios que impressionem pelo tamanho e pela complexidade. Os adultos participam dos torneios.

Adultos também brincam de Lego? Eles representam 10% das vendas. Em países de inverno rigoroso, onde as pessoas costumam ficar confinadas em casa, os blocos de montar ajudam a aplacar o tédio. Outro grupo compra Lego para construir edificações gigantes com o propósito de impressionar. Ouvi, certa vez, de um dos chefões da revista Wired, orgulhoso de um avião que havia montado: "Isso aqui dá vazão à minha megalomania".

O site da empresa é campeão em acessos entre os fabricantes de brinquedos. O que as pessoas buscam? Dar idéias de novos formatos e acessórios para os blocos. São, em geral, pessoas que já brincavam de Lego décadas atrás. Algumas até colecionam as peças. Por sua familiaridade com o brinquedo, acabamos de contratar seis delas para executar uma única tarefa: a de palpitar.

Ao assumir a presidência da empresa, em 2004, o senhor foi alvo de muitas críticas. Por quê? Precisei demitir 2 000 pessoas, e isso me tornou bastante impopular. Mas não havia outra saída. A empresa acumulava 340 milhões de dólares em dívidas, e coube a mim corrigir erros básicos cometidos por meus antecessores.

Onde a Lego errou? Primeiro, superestimou o valor da marca. Na década de 90, produzíamos brinquedos 25% mais caros do que os concorrentes, acreditando que apenas o nome faria as pessoas optar por eles. Isso não aconteceu – e precisamos aprender a cortar custos de modo a competir num mercado globalizado. Outro erro foi ter apostado na fabricação de relógios e bicicletas.

Por que não deu certo? A empresa entrou em negócios sobre os quais entendia muito pouco. Faltou, sem dúvida, investir em novas tecnologias que pudessem tornar tais produtos mais atraentes – e lucrativos. Descobrimos, com algum sofrimento, que a única coisa que fazemos realmente bem são bloquinhos de montar. E, nisso, ninguém é melhor.

"As crianças usam o computador para competir em escala global"

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