Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, agosto 08, 2008

Celso Ming - O nome da coisa




O Estado de S. Paulo
8/8/2008

Ontem, foi a vez do presidente do Banco Central Europeu (BCE), Jean-Claude Trichet, reconhecer que o fogo produtivo está fraquejando na área do euro.

Nas duas vezes anteriores em que o BCE tomou a decisão sobre os juros, em junho e julho, Trichet apontou o dedo para a inflação, para ele o perigo maior. Os fatos não lhe tiraram razão. Em julho, depois do aperto nos juros de 0,25 ponto porcentual, a inflação do euro avançou para 4,1% ao ano, mais do que o dobro da meta.

Ontem, apesar do problemão inflacionário, o BCE manteve os juros nos 4,25% ao ano, como estava na maioria das apostas. No pronunciamento feito logo depois da decisão, Trichet ainda sustentou que a prioridade da política monetária continua sendo o combate implacável à inflação, mas a ênfase desta vez ele pôs no outro prato da balança: “O crescimento real do PIB para meados de 2008 será substancialmente mais fraco do que no primeiro trimestre”, avisou.

E não precisou se alongar demais para que ficasse entendido que, na percepção dos dirigentes da política monetária do euro, o sistema produtivo europeu está ferido por ter sido atingido pelo estouro da bolha das hipotecas de alto risco ocorrido há um ano nos Estados Unidos. E, de fato, grandes bancos europeus perderam muito dinheiro no desastre em prejuízos e baixas contábeis. O fluxo do crédito funciona precariamente, o mercado imobiliário está fraquejando, a produção industrial em junho caiu a seu nível mais baixo dos últimos cinco anos e os analistas vão refazendo, para menos, suas projeções de crescimento.

Ao contrário do que acontece nos Estados Unidos, o mercado europeu sente a coisa, mas evita usar a palavra recessão para designá-la. Mas é exatamente isso o que passa pela cabeça dos especialistas. Os relatórios diários dos bancos e das grandes empresas estão recheados de previsões com essas insinuações.

O mercado está mostrando que, apesar da gravidade da crise hipotecária nos Estados Unidos, o euro já não consegue mostrar o mesmo vigor muscular de semanas atrás e vai cedendo terreno diante do dólar. Em apenas cinco semanas, perdeu 3%, como mostra o gráfico do Confira.

O tom de Trichet evidencia que não é só o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) que está engessado pela crise. Entre atacar a inflação como se deve e impedir o aprofundamento da recessão, o BCE também parece inclinado à segunda opção.

Como acontece com Ben Bernanke, presidente do Fed, Trichet deve estar contando também com certa queda da inflação, como simples efeito da redução dos preços do petróleo e dos alimentos.

A redução da atividade econômica nos Estados Unidos, na Europa e no Japão terá impacto sobre os países emergentes, entre eles o Brasil, porque as exportações ficarão mais fracas.

Mas não se pode deixar de levar em conta que os emergentes asiáticos dependem menos de suas exportações do que no passado. No caso da China, a demanda externa acrescentou apenas 2,5 pontos porcentuais no crescimento do PIB que, no ano passado, foi de 11,9%. A produção deste ano ainda deverá avançar cerca de 10%, graças à expansão do seu mercado interno.

Confira
Voltou a força - Há semanas, os analistas diziam que o dólar só se valorizaria quando o Fed (o banco central americano) aumentasse os juros. Pois eles estão em 2,0% ao ano desde abril e, desde junho, o dólar se valoriza diante das moedas fortes.

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