Consumo crescendo mais do que o PIB, como agora, é um perigo. E é sério.
Isso nada tem a ver com sermões dos dirigentes do Banco Central e não pretende buscar remédio para a inflação.
Nesta semana, dois renomados economistas brasileiros, de tendências diferentes, alertaram para os risco de que, com mais petróleo, a economia brasileira afunde no consumo e se descuide da poupança. São eles: Luciano Coutinho, presidente do BNDES, e Ilan Goldfajn, ex-diretor do Banco Central e professor da PUC carioca.
No discurso que proferiu segunda-feira ao ser homenageado como Economista do Ano pelo Conselho Regional de Economia (Corecon), Coutinho advertiu que o consumo das famílias não pode continuar a crescer ao ritmo de 6% ao ano e o do governo a outros 5% ao ano. "O déficit em conta corrente (contas externas) seguiria trajetória explosiva." Avisou, também, que, se a renda do petróleo for gasta em consumo, como sugere o presidente Lula (por meio do aumento das despesas com educação), teremos problemas.
E, no artigo publicado ontem no Estado, Goldfajn também advertiu que as descobertas de petróleo nas áreas pré-sal estão sendo vistas como bilhete premiado para ser torrado em fartura e consumo, esquecendo-se do investimento que, nas contas que ele toma emprestado do União de Bancos Suíços (UBS), deverá alcançar US$ 600 bilhões para produzir 50 bilhões de barris de petróleo. E US$ 600 bilhões correspondem a três anos de exportações do Brasil.
Sempre que um país gasta no exterior mais do que fatura (déficit em conta corrente), está consumindo mais do que poupa e precisa importar poupança (capitais externos) para se reequilibrar. Quando o déficit em conta corrente se aprofunda e se torna crônico, sua economia fica excessivamente dependente de recursos externos (e vulnerável), filme já rodado demais por aqui.
A principal advertência de Coutinho é a de que, ao contrário do que acontece agora, o consumo tem de crescer menos do que o PIB, o que exige aumento da poupança nacional do governo e do setor privado.
O risco de doença holandesa é outro jeito de ver a mesma ameaça. Foi o que ocorreu à Holanda nos anos 70, quando descobriu gás no seu pedaço do Mar do Norte. As receitas em dólares com as exportações de gás foram avidamente trocadas por florins (a moeda de então) para a cobertura de despesas internas, o florim se valorizou ante o dólar e o país não conseguiu mais exportar porque seu produto em dólares ficara caro demais no exterior.
É o que pode ocorrer aqui se as receitas em moeda estrangeira com o petróleo pré-sal forem usadas para financiar não propriamente uma festa interminável, mas, simplesmente, mais consumo interno sem aumento muito maior da poupança.
Essa é a razão pela qual muitos economistas sugerem que boa parte dessas receitas não seja usada para custeio de despesas públicas, por mais louváveis que sejam elas (financiamento da educação, da saúde, da segurança e tal). Que permaneça em dólares, seja apropriada por um fundo soberano e aplicada no exterior para dar cobertura a despesas futuras. É, também, o que sugere Coutinho.
Confira
Vira essa boca - Kenneth Rogoff, ex-economista-chefe do Fundo Monetário Internacional e um dos mais respeitados do mundo, está dizendo que um grande banco americano vai quebrar nos próximos meses.
Sabe-se lá que informação especial tem ele para se dar a profecias assim. O fato é que o Fed (banco central americano) determinou em meados de março, quando repassou o Bear Stearns ao Morgan, que banco importante não quebra.
A advertência de Rogoff mostra que a crise ainda vai longe. E, se é assim, o Fed não terá saída senão continuar com sua política monetária frouxa.
Isso nada tem a ver com sermões dos dirigentes do Banco Central e não pretende buscar remédio para a inflação.
Nesta semana, dois renomados economistas brasileiros, de tendências diferentes, alertaram para os risco de que, com mais petróleo, a economia brasileira afunde no consumo e se descuide da poupança. São eles: Luciano Coutinho, presidente do BNDES, e Ilan Goldfajn, ex-diretor do Banco Central e professor da PUC carioca.
No discurso que proferiu segunda-feira ao ser homenageado como Economista do Ano pelo Conselho Regional de Economia (Corecon), Coutinho advertiu que o consumo das famílias não pode continuar a crescer ao ritmo de 6% ao ano e o do governo a outros 5% ao ano. "O déficit em conta corrente (contas externas) seguiria trajetória explosiva." Avisou, também, que, se a renda do petróleo for gasta em consumo, como sugere o presidente Lula (por meio do aumento das despesas com educação), teremos problemas.
E, no artigo publicado ontem no Estado, Goldfajn também advertiu que as descobertas de petróleo nas áreas pré-sal estão sendo vistas como bilhete premiado para ser torrado em fartura e consumo, esquecendo-se do investimento que, nas contas que ele toma emprestado do União de Bancos Suíços (UBS), deverá alcançar US$ 600 bilhões para produzir 50 bilhões de barris de petróleo. E US$ 600 bilhões correspondem a três anos de exportações do Brasil.
Sempre que um país gasta no exterior mais do que fatura (déficit em conta corrente), está consumindo mais do que poupa e precisa importar poupança (capitais externos) para se reequilibrar. Quando o déficit em conta corrente se aprofunda e se torna crônico, sua economia fica excessivamente dependente de recursos externos (e vulnerável), filme já rodado demais por aqui.
A principal advertência de Coutinho é a de que, ao contrário do que acontece agora, o consumo tem de crescer menos do que o PIB, o que exige aumento da poupança nacional do governo e do setor privado.
O risco de doença holandesa é outro jeito de ver a mesma ameaça. Foi o que ocorreu à Holanda nos anos 70, quando descobriu gás no seu pedaço do Mar do Norte. As receitas em dólares com as exportações de gás foram avidamente trocadas por florins (a moeda de então) para a cobertura de despesas internas, o florim se valorizou ante o dólar e o país não conseguiu mais exportar porque seu produto em dólares ficara caro demais no exterior.
É o que pode ocorrer aqui se as receitas em moeda estrangeira com o petróleo pré-sal forem usadas para financiar não propriamente uma festa interminável, mas, simplesmente, mais consumo interno sem aumento muito maior da poupança.
Essa é a razão pela qual muitos economistas sugerem que boa parte dessas receitas não seja usada para custeio de despesas públicas, por mais louváveis que sejam elas (financiamento da educação, da saúde, da segurança e tal). Que permaneça em dólares, seja apropriada por um fundo soberano e aplicada no exterior para dar cobertura a despesas futuras. É, também, o que sugere Coutinho.
Confira
Vira essa boca - Kenneth Rogoff, ex-economista-chefe do Fundo Monetário Internacional e um dos mais respeitados do mundo, está dizendo que um grande banco americano vai quebrar nos próximos meses.
Sabe-se lá que informação especial tem ele para se dar a profecias assim. O fato é que o Fed (banco central americano) determinou em meados de março, quando repassou o Bear Stearns ao Morgan, que banco importante não quebra.
A advertência de Rogoff mostra que a crise ainda vai longe. E, se é assim, o Fed não terá saída senão continuar com sua política monetária frouxa.