A presidente Dilma Rousseff completou seis meses de gestão sem
apresentar ao País um programa de governo e sem definir diretrizes que
ajudem a orientar ações e decisões de agentes públicos e privados rumo
ao progresso. Ela pode argumentar que seu governo é de continuidade,
portanto as diretrizes já são conhecidas. Não é bem assim. Também Lula
não tinha programa e, depois que desistiu das reformas, passou a agir
sobre o presente, ignorou o futuro.
Além disso, nesses meses os brasileiros conheceram uma presidente
muito diferente de seu antecessor. Em estilo e, também, em conteúdo. A
decisão de privatizar aeroportos e 45 portos, a carta carinhosa a FHC
pelo aniversário de 80 anos, o reconhecimento de seu governo ao legado
do ex-ministro tucano Paulo Renato na educação e sua aversão ao ódio,
ao preconceito e ao deboche contra a oposição - que Lula tanto
cultivava - são atitudes que os brasileiros percebem em Dilma como
positivas, esperança de um ambiente político mais construtivo e que
dizem mais que uma simples diferença de personalidades.
Nesses seis meses Dilma mudou radicalmente a relação com o Congresso.
Sua atitude dura de não ceder ao condenável troca-troca de Lula lhe
rendeu vitórias e derrotas. A vitória na votação do salário mínimo, em
fevereiro, a animou a resistir à ocupação de cargos por espertos
despreparados. E a perda do ministro escalado para tratar com os
partidos a levou a assumir o comando da gestão com a base aliada -
papel que lhe causa desconforto e insegurança; não gosta. A derrota na
votação do Código Florestal mostrou que seu embate com o clientelismo,
o fisiologismo, o oportunismo e tudo o mais que brota dos partidos
aliados será mais difícil e longo do que ela imaginou. Na quinta-feira
ela cedeu e prorrogou por mais três meses o prazo para pagar as
emendas aos parlamentares. Mas já avisou que só vai liberar metade dos
R$ 4,6 bilhões programados.
No Brasil, a relação entre Executivo e Legislativo é errada, porque
mira interesses mesquinhos dos partidos e ignora os do País, e
viciada, porque se baseia na chantagem política rasteira. Perdem-se
semanas, meses negociando cargos e verbas para aprovar uma única
matéria, no fim comemorada com triunfo - o que deveria ser ágil e
corriqueiro na vida do Legislativo. Dilma parece querer mudar isso
para poder governar. A ver.
Na esfera econômica, a presidente vai transferir ao setor privado a
construção e gestão de 3 aeroportos e de 45 portos marítimos,
ignorando o estúpido preconceito político alimentado pelo PT e por
Lula em campanhas eleitorais. Pragmática, Dilma não emperra o
progresso: se o Estado não tem dinheiro nem competência para construir
portos, que o faça o setor privado. O ministro das Comunicações, Paulo
Bernardo, finalmente concluiu negociação com empresas privadas de
telefonia para oferecer banda larga a preços populares, encerrando o
que a gestão Lula arrastou por mais de um ano e não resolveu. Na área
social ela lançou o Plano Brasil sem Miséria, com metas definidas para
acabar com a extrema pobreza. A ver.
Após seis meses é o que se conhece das intenções do governo. O País
precisa de muito mais: de um rumo que defina programas, prioridades e
metas na educação e na saúde. E, na área econômica, definir com o
setor privado regras para investimentos em infraestrutura e eliminar
gargalos que impedem o País de crescer sem o fantasma da inflação.
Escola. O caso Pão de Açúcar-Casino-Carrefour-BNDES tem tudo para
fazer escola e atrair seguidores. A receita é simples: se a empresa
passa por dificuldade financeira, o empresário brasileiro vende parte
de seu empreendimento a um investidor estrangeiro e com ele assina um
acordo de acionistas concordando em transferir-lhe o controle
acionário no futuro, com prazo definido. Ao se aproximar esse prazo, o
empresário corre ao BNDES e alerta para a iminência da
desnacionalização da empresa. Como o banco tem horror à
desnacionalização, despeja dinheiro público para evitar a tragédia.
Falta dinheiro na saúde? Falta. Varejo é setor estratégico? Não. Ainda
assim, o BNDES faz a operação.