Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, julho 06, 2011

Ficou mais difícil Celso Ming

O Estado de S. Paulo - 06/07/2011
 


Mesmo sabendo que não tem muito o que fazer para domesticar a cotação do dólar, o ministro Guido Mantega insiste em que tem lá à disposição um arsenal de medidas que, a qualquer momento, poderiam ser acionadas para provocar a desvalorização do real (alta das cotações da moeda estrangeira). Mas há fatores novos agindo em direção oposta ao que pretende o ministro.

O discurso de que vem mais ação para segurar o câmbio vem se repetindo há pelo menos dois anos. O governo já tomou inúmeras providências para evitar a perda de competitividade da indústria causada pelo dólar barato demais: segue comprando moeda estrangeira, tanto no mercado à vista como no mercado futuro, a ponto de ostentar reservas superiores a US$ 330 bilhões; permitiu (ou estimulou) a exportadores e grandes empresas deixar capitais no exterior, para evitar pressões adicionais sobre o câmbio; e taxou com IOF a entrada de capitais. Mas o dólar não para de cair (veja o gráfico, no Confira).

Diferentemente do que fazia há meses, quando apontava os juros altos aqui dentro como o principal fator de atração de moeda estrangeira para o País e, portanto, de valorização do real, Mantega passou a fazer pontaria na "guerra cambial" ou, mais particularmente, na política do Federal Reserve (o banco central dos Estados Unidos) de seguir emitindo dólares e, com eles, recomprar títulos do Tesouro americano, com o objetivo de despejar liquidez para ajudar a recuperação economica. O resultado é a avalanche de moeda estrangeira sobre os mercados - inclusive sobre o câmbio do Brasil.

Num eventual reforço da política de tentar conter a valorização cambial, começam a pesar outros objetivos. Um deles é a necessidade de não prejudicar a política de controle da inflação.

Nos próximos meses, espera-se que a inflação no Brasil medida em 12 meses recue ainda mais. Contudo, passado esse período de retração, deverá retornar fortalecida. Parece iminente, por exemplo, nova recuperação dos preços das commodities. Ficou inevitável nova disparada dos preços do etanol, provavelmente ainda mais acentuada do que no início deste ano. E há o impacto do aumento da massa salarial, que está criando renda acima da capacidade de oferta da economia.

Se for bem sucedida, uma política de desvalorização do real encareceria as commodities de consumo interno (petróleo mais derivados, fertilizantes e alimentos) e os demais produtos importados, cujos preços são regidos pela cotação do dólar. Ou seja, essa política, por si só, acentuaria a inflação.

Mas ainda há outro fator para ser levado em conta: a trajetória de valorização do real empurrou o setor produtivo (especialmente a agricultura e a indústria) ao suprimento externo. Neste momento, está tremendamente dependente dos suprimentos externos - de máquinas, de matérias-primas, de componentes e de peças. Isso significa que qualquer puxada no câmbio terá impacto imediato sobre os preços relativos no mercado interno.

Ou seja, mesmo se houvesse o que fazer para conter o dólar, o governo federal (aí incluído o Banco Central) começa a ficar tolhido na execução de uma política desse tipo, na medida em que contraria a política de combate à inflação, prioritária no governo Dilma.

CONFIRA

Volta complicada

Ontem, o Financial Times, de Londres, publicou artigo em que defende a ideia de que a Grécia só poderá encontrar a salvação se sair da área do euro. Mas, se assim o fizer, a Grécia encontrará problemas possivelmente maiores do que tem como membro do bloco. Se tiver de sair do grupo, terá de voltar à dracma - fortemente desvalorizada em relação ao euro. Assim, ficaria ainda mais difícil pagar sua dívida (160% do PIB) em euros. E o calote, tido como inevitável, viria ainda mais rapidamente. A Grécia poderá se salvar. Porém como ficarão os bancos que hoje carregam a dívida?

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