14/09/2010
Aliados do PMDB são obrigados a pagar um preço. Em época de campanha, esse preço pode dobrar, sem correspondência com um aumento de número de votos. A estreita ligação entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), era potencialmente explosiva. Tinha grandes chances de inflacionar o custo-benefício do apoio do velho coronel ao governo. Acabou inflacionando.
Por lealdade pessoal, devido aos serviços prestados por Sarney no ano negro do Mensalão, 2005, ou por mero cálculo político, o presidente Lula e sua candidata, Dilma Rousseff, não tiveram o mínimo problema em passar como tratores sobre os PTs do Maranhão e do Amapá, os dois redutos eleitorais da família Sarney - o Maranhão, o tradicional; o Amapá, um expediente conveniente para manter o mandato de Sarney sem tirar votos da família e de aliados no seu Estado de origem.
No Maranhão, a filha de Sarney, Roseana (PMDB), circula ostentando o nome de Lula por todo Estado, na sua candidatura à reeleição ao governo, e prepara mais um massacre eleitoral contra os seus adversários tradicionais, o PDT e o PCdoB, partidos nacionalmente aliados ao PT, além do próprio PT maranhense. No Amapá, Lula e Dilma gravaram programas de apoio à candidatura ao Senado do ex-governador Waldez Góes (PDT) e ao governador e candidato à reeleição Pedro Paulo Dias (PP), ambos do grupo de Sarney. Os dois foram presos na sexta-feira pela Polícia Federal (PF), na chamada Operação Mãos Limpas, que levou para a cadeia os dois e mais 16 empresários, servidores públicos e políticos. A PF também obteve autorização judicial para conduzir para depoimento, à força, o presidente da Assembleia Legislativa, Jorge Amanajás (PSDB), o prefeito de Macapá, Roberto Góes, primo do ex-governador, e 85 suspeitos de corrupção, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. No final, Góes acabou sendo preso e libertado sob fiança, por porte ilegal de armas. Todos eles são aliados de Sarney no Estado. O grupo do presidente do Senado reúne todos os partidos, exceto o PT e o PSB, que apoiam o candidato ao governo Camilo Capiberibe (PSB), e o PSTU, que apresentou um candidato avulso.
Lula apareceu mais de uma vez no horário eleitoral gratuito do Estado pedindo votos para os políticos que foram presos na semana passada. Ao longo do período de horário eleitoral, também apoiou publicamente o senador Gilvam Borges (PMDB), candidato à reeleição. Isso provocou mal-estar no PT do Amapá, que enviou uma carta à direção nacional protestando. "(...) A gravação do companheiro Lula, pedindo voto para o ex-governador e candidato ao Senado pelo PDT, Waldez Góes, nos causou um profundo constrangimento, ridicularizando assim o PT do Amapá, seus dirigentes e seus filiados, menosprezando a deliberação tomada pelo conjunto dos filiados do PT", diz a carta.
O Amapá é o Estado onde a elite política se sentiu mais à vontade para literalmente ocupar o aparelho de Estado. Com forte influência sobre a Justiça estadual e a boa vontade da Justiça federal, o grupo de Sarney também usa o recurso de cassar mandatos de adversários que porventura se elejam. Foi o caso de João Capiberibe que, eleito senador há oito anos, foi cassado por compra de votos pelo TRE do Amapá num processo em que as duas principais testemunhas confessaram que mentiram. A decisão confirmada pelo TSE favoreceu o senador Gilvam Borges, do grupo de Sarney. O prefeito de Macapá, Roberto Góes (PDT), aliado de Sarney, cassado pela mesma razão, governa beneficiado por liminares.
No Amapá, onde a Lei Ficha Limpa pode ter o poder de tirar adversários políticos da disputa pelos donos do poder, a Polícia Federal usou a Operação Mãos Limpas para expor as ilicitudes do grupo. Até o presidente do Tribunal de Contas do Estado está sob a mira. O poder amapaense ocupa hoje a carceragem da PF e celas no Presídio da Papuda, no Distrito Federal. Ocupa também a presidência do Senado, na figura do senador Sarney, que consegue o apoio do presidente Lula para os seus, contra os aliados tradicionais do PT no Estado.
A favor de Lula, há o fato de que a PF não poupou seus aliados. O presidente usou isso em discurso, ontem. "Vocês viram o que aconteceu agora no Amapá. Só tem um jeito de bandido não ser preso nesse País: é não ser bandido", disse. Contra ele, tem a lealdade a Sarney, muito maior do que a dedicada à oposição no Estado que, a duras penas, peleja contra os que moram provisoriamente na Papuda.
Entrevista:O Estado inteligente
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