Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, setembro 24, 2010

Margem de incerteza EDITORIAL FOLHA DE SÃO PAULO

24/09/10


Ao apontar queda nas intenções de voto em Dilma e crescimento de Marina, pesquisa Datafolha estimula aprofundamento do debate

Uma alteração sensível, ainda que limitada, registra-se na última pesquisa do Datafolha sobre a sucessão presidencial.
Diminuiu de 14 para 8 pontos percentuais a vantagem, em votos válidos, da candidata Dilma Rousseff sobre os demais concorrentes. Se, desse modo, permanecem nítidas as chances de sua vitória no primeiro turno, esta é a primeira vez, desde julho, em que a petista vê diminuírem seus índices de preferência no eleitorado.
Não foi o tucano José Serra, entretanto, o maior beneficiado pelas oscilações da última pesquisa. Depois de manter-se longamente em torno dos 10%, a candidata Marina Silva, do PV, obtém agora 13% das preferências, chegando a ultrapassar Serra no Distrito Federal e na cidade do Rio de Janeiro.
Os resultados refletem o impacto das revelações sobre tráfico de influência na Casa Civil, que resultaram na saída de Erenice Guerra, braço direito de Dilma e sua sucessora no cargo. Custa a crer que a candidata de Lula não soubesse da infiltração de interesses particulares na área do governo sob sua ascendência mais direta.
Há razões claras, portanto, para o relativo desgaste da campanha dilmista. Menos evidentes, talvez, são os prognósticos quanto aos passos a serem tomados pelas candidaturas oposicionistas até a eleição. O comportamento errático da campanha de Serra, hesitando por vezes em assumir plenamente o confronto com a herança do lulismo, e entregue ao jogo interminável das incompatibilidades e intrigas de bastidor, não contribuiu para que se fixasse uma base eleitoral sólida em torno de seu nome.
Marina, por sua vez, manteve-se ligada, ao longo da disputa, a uma parcela minoritária do eleitorado para a qual as preocupações ambientais assumem importância maior do que os assuntos que dividem e enfurecem defensores e adversários do lulismo.
Mantêm-se, de todo modo, as dificuldades estruturais de qualquer campanha oposicionista num país com bons índices de crescimento econômico e baixas taxas de inflação. A conjuntura favorável atenua, na percepção do eleitorado, as graves e seguidas evidências de abuso na máquina pública, de loteamento fisiológico dos cargos estatais, de aliança com o que há de politicamente mais atrasado e antidemocrático no plano regional e no âmbito da política externa.
A eventualidade de um segundo turno, mais plausível a partir dos dados da última pesquisa, possibilita que não apenas esses temas críticos, mas também as propostas programáticas mais amplas dos candidatos, passem a ser debatidos com uma profundidade que até agora tem faltado à campanha sucessória.
Resta saber se, no campo da oposição, existem reais condições, políticas e subjetivas, para que os candidatos se qualifiquem a um papel que nem sempre se mostraram dispostos a exercer.

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