Como o futebol, a política (e a história) é uma caixinha de surpresas.
Há alguns anos, o então presidente de honra do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, apresentava-se como combatente contra o neocapitalismo e suas manifestações. A Bovespa, então, não passava para ele de cassino, reduto de especuladores movidos a ganância e suor de gente pobre.
Mas, hoje, o presidente Lula festejava no pregão da Bolsa a maior operação de capitalização de uma empresa em todos os tempos. Terça-feira, em cerimônia de inauguração de um trecho da Ferrovia Norte-Sul, Lula já reconhecia de peito estufado: “Eu, que passei minha vida política dizendo que era socialista, vou fazer a maior capitalização que o mundo capitalista já fez.”
Embora o governo não tenha conseguido vender todas as ações pretendidas e apesar das já analisadas barbeiragens de percurso, a operação foi bem-sucedida. E esse sucesso foi possível graças a um punhado de fatores favoráveis. Aqui vão alguns: os mercados estão inundados de liquidez; não há, no momento, grandes opções relativamente confiáveis para aplicação de dólares; apesar das questões levantadas pelos ambientalistas, petróleo hoje é fator escasso e deverá ser ainda mais raro dentro de alguns anos; e enquanto as economias do mundo rico estão se esfacelando, as dos emergentes exibem surpreendente solidez; os fundos de investimento da Ásia estão ávidos à procura de oportunidades na área de commodities…
Mas não dá para ignorar os riscos. A Petrobrás não conseguirá manter o atual ritmo de remuneração do capital porque os investimentos a serem cobertos com os recursos dessa capitalização levarão cerca de cinco anos para maturar. Além disso, precisará de mais capital para garantir seu programa de investimentos. O atual reforço foi de US$ 70 bilhões e, apenas para os próximos cinco anos, a Petrobrás precisará de US$ 224 bilhões.
Mais importante ainda, agora que se tornou a segunda maior do setor no mundo, a Petrobrás está ameaçada de gigantismo. É preciso ver até que ponto será possível garantir eficiência a uma empresa tão grande administrada pelo governo, onde há cabide de emprego e os políticos estão sempre metendo o bedelho.
O tempo dirá que efeitos essa megaoferta de ações produzirá. Em termos imediatos, dá para dizer que o Brasil está sendo mais uma vez foco das atenções no mundo das finanças. Nessas condições, atrairá ainda mais recursos. Outras empresas, nacionais e estrangeiras, acionarão operações de oferta de ações para o resto do mundo a partir do Brasil. A espanhola Repsol, petroleira global que detém um pedaço de pré-sal a explorar, já avisou que logo acionará o mercado brasileiro.
O fortalecimento do mercado de capitais do País poderá exigir um fluxo ainda mais aberto de ativos financeiros do exterior e para o exterior, sabe-se lá com que impacto sobre o câmbio. E isso, por sua vez, poderá apressar o processo de redução dos juros no Brasil, porque será preciso diminuir as oportunidades de especulação com juros (arbitragem).
A União precisa desesperadamente de recursos para fortalecer suas empresas estatais. O sucesso dessa oferta de ações parece ter criado nova percepção. A de que a capitalização das empresas estatais pode ser feita por meio de democratização do capital social sem risco de que essa operação seja depois considerada privataria. E isso pode ter consequência.
Entrevista:O Estado inteligente
- Índice atual:www.indicedeartigosetc.blogspot.com.br/
- INDICE ANTERIOR a Setembro 28, 2008
domingo, setembro 26, 2010
Arquivo do blog
-
▼
2010
(1998)
-
▼
setembro
(283)
- Lulambança CARLOS ALBERTO SARDENBERG
- No foco, o câmbio Celso Ming
- De Pomona a Marte Demétrio Magnoli
- O último debate Miriam Leitão
- Do alto do salto Dora Kramer
- Diferenças e tendências Merval Pereira
- De Severino a Tiririca DORA KRAMER
- Mudança de vento Merval Pereira
- O tom do recado Míriam Leitão
- Marolinha vermelha Marco Antonio Villa
- Últimas semanas:: Wilson Figueiredo
- A via sindical para o poder Leôncio Martins Rodrigues
- Por que os escândalos não tiram Dilma do topo José...
- Mais controle de capitais Celso Ming
- A derrota de Chávez EDITORIAL O Estado de S. Paulo
- O papel do STF Luiz Garcia
- O Brasil em primeiro lugar Rubens Barbosa
- Guerra cambial Celso Ming
- O corte inglês Miriam Leitão
- Os mundos e fundos do BNDES Vinicius Torres Freire
- As boquinhas fechadas Arnaldo Jabor
- Sinais de fumaça e planos para segunda-feira:: Ray...
- Faroeste :: Eliane Cantanhêde
- Mais indecisos e "marola verde" :: Fernando de Bar...
- Em marcha à ré :: Dora Kramer
- Marina contra Dilma:: Merval Pereira
- Fabricando fantasmas Paulo Guedes
- Qual oposição? DENIS LERRER ROSENFIELD
- Capitalização e política O Estado de S. Paulo Edit...
- O eleitorado traído Autor(es): Carlos Alberto Sard...
- Como foi mesmo esse maior negócio do mundo? Marco...
- Mary Zaidan - caras-de-pau
- OS SEGREDOS DO LOBISTA DIEGO ESCOSTEGUY E RODRIGO ...
- E agora, Petrobrás? -Celso Ming
- Alerta contra a anestesia crítica:: Carlos Guilher...
- Em passo de ganso e à margem da lei :: Wilson Figu...
- Às vésperas do pleito:: Ferreira Gullar
- A Previdência e os candidatos Suely Caldas
- Todo poder tem limite EDITORIAL FOLHA DE SÃO PAULO
- Forças e fraquezas Miriam Leitão
- Metamorfoses Merval Pereira
- A CONSPIRAÇÃO DA IMPRENSA João Ubaldo Ribeiro
- A posse das coisas DANUZA LEÃO
- A semente da resistência REVISTA VEJA
- LYA LUFT Liberdade e honra
- O gosto da surpresa BETTY MILAN
- Dora Kramer - Lógica de palanque
- Gaudêncio Torquato -O voto, dever ou direito?
- Que esquerda é esta? Luiz Sérgio Henriques
- O mal a evitar-Editorial O Estado de S Paulo
- MARIANO GRONDONA Urge descifrar el insólito ADN de...
- JOAQUÍN MORALES SOLÁ El último recurso de los Kirc...
- A musculatura do PT Ruy Fabiano
- Miriam Leitão Vantagens e limites
- Merval Pereira: "Lula poderá ser um poder paralelo''
- A política em estado de sofrimento :: Marco Auréli...
- ANTES QUE SEJA TARDE MAURO CHAVES
- A imprensa no pós-Lula EDITORIAL O ESTADO DE SÃO P...
- Limites Merval Pereira
- Os segredos do lobista-VEJA
- A concentração anormal-Maria Helena Rubinato
- Sandro Vaia - O juiz da imprensa
- Contas vermelhas Miriam Leitão
- Porões e salões :: Luiz Garcia
- FÁBULA DA FEIJOADA FERNANDO DE BARROS E SILVA
- Margem de incerteza EDITORIAL FOLHA DE SÃO PAULO
- Razões Merval Pereira
- E o câmbio continua matando! Luiz Aubert Neto
- Um passo além do peleguismo O Estado de S. Paulo E...
- As dúvidas acerca do uso do FSB se acumulam- O Est...
- Anatomia de um aparelho lulopetista Editorial O Globo
- Lógica de palanque- Dora Kramer
- Inconsistências no câmbio - Celso Ming
- O resultado da capitalização da Petrobrás : Adrian...
- CARLOS ALBERTO SARDENBERG A falta que nos faz o li...
- Liberdade até para os estúpidos-Ronald de Carvalho
- MÍRIAM LEITÃO Câmbio errado
- O efeito Erenice :: Eliane Cantanhêde
- Tempos petistas:Merval Pereira
- O sucesso do modelo da telefonia O Globo Editorial
- O desmanche da democracia O Estado de S. Paulo Edi...
- Ato insensato - Dora Kramer
- Afrouxar ou não afrouxar- Celso Ming
- A decadência dos EUA - Alberto Tamer
- A cara do cara:: Marco Antonio Villa
- Entrevista:: Fernando Henrique Cardoso.
- Peso da corrupção Miriam Leitão
- Uma eleição sem regras ROBERTO DaMATTA
- Perdendo as estribeiras Zuenir Ventura
- FERNANDO DE BARROS E SILVA A boa palavra de FHC
- MERVAL PEREIRA Prenúncios
- O Fundo Soberano e o dólar O Estado de S. Paulo Ed...
- As contas externas serão o maior problema em 2011 ...
- E no câmbio, quem manda?- Celso Ming
- Autocombustão - Dora Kramer
- Traços em relevo Miriam Leitão
- MERVAL PEREIRA A democracia de Lula
- A ELITE QUE LULA NÃO SUPORTA EDITORIAL O ESTADO DE...
- ELIANE CANTANHÊDE Paulada na imprensa
- ARNALDO JABOR Lula é um fenômeno religioso
-
▼
setembro
(283)
- Blog do Lampreia
- Caio Blinder
- Adriano Pires
- Democracia Politica e novo reformismo
- Blog do VILLA
- Augusto Nunes
- Reinaldo Azevedo
- Conteudo Livre
- Indice anterior a 4 dezembro de 2005
- Google News
- INDICE ATUALIZADO
- INDICE ATE4 DEZEMBRO 2005
- Blog Noblat
- e-agora
- CLIPPING DE NOTICIAS
- truthout
- BLOG JOSIAS DE SOUZA