O GLOBO - 22/09/10
O "fato novo" que a oposição esperava que alterasse o rumo da eleição, provocando desequilíbrio na campanha de Dilma Rousseff, acabou desequilibrando o presidente Lula, que perdeu as estribeiras. Foram os escândalos em série - quebra de sigilos, tráfico de influência - que levaram Lula a um inédito destempero. Não que seja a primeira vez que ele fala mal dos jornalistas, mas talvez nunca tenha sido tão franco e hostil: "O povo mais pobre não precisa mais de formador de opinião", ele decretou em comício, completando: "Nós somos a opinião pública." Ela é ele.
O "nós" da afirmação é um mero plural majestático. Um pouco mais modesto do que o outro Luiz, o XIV, o Rei-Sol, Sua Majestade Luiz Inácio, o nosso Rei-Estrela (vermelha), não diria hoje "o Estado sou eu", mas "somos nós". É dessa forma que ele ameaça a imprensa: "Nós não vamos derrotar apenas os nossos adversários tucanos, nós vamos derrotar alguns jornais e revistas que se comportam como se fossem um partido político." Atiçados por esse ânimo beligerante, o MST e as centrais sindicais estão organizando manifestação em SP contra "o golpismo midiático". Os organizadores acham que a "ofensiva antidemocrática precisa ser barrada". Como a "ofensiva" não são os escândalos, mas as notícias deles, o ideal seria "barrar" a imprensa, ou seja, silenciála (houve um tempo em que isso era tramado nos quartéis, não nas ruas).
Quanto a nós, jornalistas, alvos dessa fúria, a reação não deve ser movida por corporativismo. Não acho que os veículos de comunicação devam ficar imunes às críticas. Não é isso. Uma coisa, porém, é pleitear uma imprensa mais transparente em suas preferências partidárias, menos engajada na campanha eleitoral, "como se fosse um partido político". Outra é o que Lula prega: a sua "derrota", como se houvesse um inimigo e uma guerra.
Esperava-se que o presidente desmontasse as acusações e que quatro dos supostos envolvidos não precisassem se demitir reforçando as denúncias. Ou então que se declarasse vítima de traição dos que o cercam. Em vez disso, o que fez foi destilar rancor para com revistas e jornais que publicaram, não inventaram, os escândalos.
Uma análise compreensiva do episódio foi feita pelo deputado Miro Teixeira, que vê Lula num "momento de tristeza", querendo acreditar que "não existiram irregularidades e roubalheiras. E a melhor forma que encontra é atribuir esses crimes às versões e não aos fatos". O presidente faz lembrar aqueles reis que antigamente mandavam executar os emissários das más notícias - depois de recebê-las, claro.
É com certeza o que ele tem vontade de fazer com a imprensa. Talvez não apenas simbolicamente.
Entrevista:O Estado inteligente
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