O Estado de S.Paulo - 29/09/2010
Desta vez, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, diverge apenas superficialmente do ministro da Fazenda, Guido Mantega.
Não temos uma guerra cambial no mundo, como Mantega sustentara na véspera, mas temos sério problema de câmbio no Brasil, avisou ele ontem. E completou: "O aumento do IOF na entrada de capitais está em aberto."
São declarações que aparentemente dão como inevitável uma elevação do IOF com o objetivo de desestimular a chamada arbitragem com juros. Trata-se de tomada de empréstimos no exterior a juros no chão para trazer os recursos para o Brasil, trocá-los por reais e tirar proveito de juros substancialmente mais altos no mercado interno.
De janeiro a agosto deste ano, haviam afluído US$ 19,9 bilhões em recursos de estrangeiros para investimento em renda fixa, ou 670% a mais do que no mesmo período de 2009 (veja o Confira).
O IOF cobrado na entrada desses capitais é hoje de 2%. Se Meirelles admite aumentá-lo, pressupõe-se que possa ir para 3% ou 4%. Não está claro se esse aperto vai alcançar também as aplicações em ações. O reforço da entrada de capitais para essa finalidade (até agosto) foi irrelevante. Em princípio, aplicações em ações não devem ser desestimuladas porque ajudam a capitalizar a empresa brasileira.
Boa pergunta consiste em saber até que ponto uma paulada com IOF será decisiva para segurar o tombo do dólar no câmbio interno. Em geral, os investidores encontram mecanismos para burlar esse novo imposto. Se os 2% não foram suficientes para conter a valorização do real, o aumento da dose provavelmente também não será. Afora isso, não é apenas o dinheiro que entra no País que faz arbitragem com juros. O que deixa de sair também faz. E sobre esses capitais, que ficam porque os juros estão altos aqui dentro, não incide IOF. Uma filial de empresa estrangeira, por exemplo, pode deixar de remeter lucros e dividendos para sua matriz no exterior para girar esses recursos no mercado brasileiro a fim de aproveitar os juros. De todo modo, algum impacto imediato sobre a entrada desses capitais essa elevação do IOF acabará produzindo.
O mundo está inundado de liquidez. Apenas parte dela é consequência de emissões de moeda (pelos bancos centrais) ou emissões de títulos (aumento de dívida pelos tesouros). Ela provém do excesso de poupança de um punhado de países asiáticos (Japão, China, Coreia do Sul, Taiwan), dos grandes exportadores de petróleo (Arábia Saudita) e, também, da Alemanha. Em contrapartida, os países de alta renda, especialmente os Estados Unidos, vivem um momento de poupança perto de zero. Pode ser vista, também, como o resultado dos enormes desequilíbrios financeiros globais.
Neste momento em que exibe certificado de grau de investimento, e é um dos poucos países que terão forte crescimento em 2010, é natural que o Brasil atraia capitais ciganos. Essa avalanche contribui para valorizar o real, na contramão do que está acontecendo em outros países, que conduzem a política cambial para produzir efeito oposto, ou seja, para desvalorizar sua própria moeda.
Mas ninguém se iluda. O movimento principal não é de valorização do real, mas de aumento do consumo, que estica o rombo das contas externas (déficit em conta corrente) para perto dos 3% do PIB. Não basta tascar IOF. Será preciso conter o consumo com redução das despesas públicas para desacelerar as importações.
Entrevista:O Estado inteligente
- Índice atual:www.indicedeartigosetc.blogspot.com.br/
- INDICE ANTERIOR a Setembro 28, 2008
Arquivo do blog
-
▼
2010
(1998)
-
▼
setembro
(283)
- Lulambança CARLOS ALBERTO SARDENBERG
- No foco, o câmbio Celso Ming
- De Pomona a Marte Demétrio Magnoli
- O último debate Miriam Leitão
- Do alto do salto Dora Kramer
- Diferenças e tendências Merval Pereira
- De Severino a Tiririca DORA KRAMER
- Mudança de vento Merval Pereira
- O tom do recado Míriam Leitão
- Marolinha vermelha Marco Antonio Villa
- Últimas semanas:: Wilson Figueiredo
- A via sindical para o poder Leôncio Martins Rodrigues
- Por que os escândalos não tiram Dilma do topo José...
- Mais controle de capitais Celso Ming
- A derrota de Chávez EDITORIAL O Estado de S. Paulo
- O papel do STF Luiz Garcia
- O Brasil em primeiro lugar Rubens Barbosa
- Guerra cambial Celso Ming
- O corte inglês Miriam Leitão
- Os mundos e fundos do BNDES Vinicius Torres Freire
- As boquinhas fechadas Arnaldo Jabor
- Sinais de fumaça e planos para segunda-feira:: Ray...
- Faroeste :: Eliane Cantanhêde
- Mais indecisos e "marola verde" :: Fernando de Bar...
- Em marcha à ré :: Dora Kramer
- Marina contra Dilma:: Merval Pereira
- Fabricando fantasmas Paulo Guedes
- Qual oposição? DENIS LERRER ROSENFIELD
- Capitalização e política O Estado de S. Paulo Edit...
- O eleitorado traído Autor(es): Carlos Alberto Sard...
- Como foi mesmo esse maior negócio do mundo? Marco...
- Mary Zaidan - caras-de-pau
- OS SEGREDOS DO LOBISTA DIEGO ESCOSTEGUY E RODRIGO ...
- E agora, Petrobrás? -Celso Ming
- Alerta contra a anestesia crítica:: Carlos Guilher...
- Em passo de ganso e à margem da lei :: Wilson Figu...
- Às vésperas do pleito:: Ferreira Gullar
- A Previdência e os candidatos Suely Caldas
- Todo poder tem limite EDITORIAL FOLHA DE SÃO PAULO
- Forças e fraquezas Miriam Leitão
- Metamorfoses Merval Pereira
- A CONSPIRAÇÃO DA IMPRENSA João Ubaldo Ribeiro
- A posse das coisas DANUZA LEÃO
- A semente da resistência REVISTA VEJA
- LYA LUFT Liberdade e honra
- O gosto da surpresa BETTY MILAN
- Dora Kramer - Lógica de palanque
- Gaudêncio Torquato -O voto, dever ou direito?
- Que esquerda é esta? Luiz Sérgio Henriques
- O mal a evitar-Editorial O Estado de S Paulo
- MARIANO GRONDONA Urge descifrar el insólito ADN de...
- JOAQUÍN MORALES SOLÁ El último recurso de los Kirc...
- A musculatura do PT Ruy Fabiano
- Miriam Leitão Vantagens e limites
- Merval Pereira: "Lula poderá ser um poder paralelo''
- A política em estado de sofrimento :: Marco Auréli...
- ANTES QUE SEJA TARDE MAURO CHAVES
- A imprensa no pós-Lula EDITORIAL O ESTADO DE SÃO P...
- Limites Merval Pereira
- Os segredos do lobista-VEJA
- A concentração anormal-Maria Helena Rubinato
- Sandro Vaia - O juiz da imprensa
- Contas vermelhas Miriam Leitão
- Porões e salões :: Luiz Garcia
- FÁBULA DA FEIJOADA FERNANDO DE BARROS E SILVA
- Margem de incerteza EDITORIAL FOLHA DE SÃO PAULO
- Razões Merval Pereira
- E o câmbio continua matando! Luiz Aubert Neto
- Um passo além do peleguismo O Estado de S. Paulo E...
- As dúvidas acerca do uso do FSB se acumulam- O Est...
- Anatomia de um aparelho lulopetista Editorial O Globo
- Lógica de palanque- Dora Kramer
- Inconsistências no câmbio - Celso Ming
- O resultado da capitalização da Petrobrás : Adrian...
- CARLOS ALBERTO SARDENBERG A falta que nos faz o li...
- Liberdade até para os estúpidos-Ronald de Carvalho
- MÍRIAM LEITÃO Câmbio errado
- O efeito Erenice :: Eliane Cantanhêde
- Tempos petistas:Merval Pereira
- O sucesso do modelo da telefonia O Globo Editorial
- O desmanche da democracia O Estado de S. Paulo Edi...
- Ato insensato - Dora Kramer
- Afrouxar ou não afrouxar- Celso Ming
- A decadência dos EUA - Alberto Tamer
- A cara do cara:: Marco Antonio Villa
- Entrevista:: Fernando Henrique Cardoso.
- Peso da corrupção Miriam Leitão
- Uma eleição sem regras ROBERTO DaMATTA
- Perdendo as estribeiras Zuenir Ventura
- FERNANDO DE BARROS E SILVA A boa palavra de FHC
- MERVAL PEREIRA Prenúncios
- O Fundo Soberano e o dólar O Estado de S. Paulo Ed...
- As contas externas serão o maior problema em 2011 ...
- E no câmbio, quem manda?- Celso Ming
- Autocombustão - Dora Kramer
- Traços em relevo Miriam Leitão
- MERVAL PEREIRA A democracia de Lula
- A ELITE QUE LULA NÃO SUPORTA EDITORIAL O ESTADO DE...
- ELIANE CANTANHÊDE Paulada na imprensa
- ARNALDO JABOR Lula é um fenômeno religioso
-
▼
setembro
(283)
- Blog do Lampreia
- Caio Blinder
- Adriano Pires
- Democracia Politica e novo reformismo
- Blog do VILLA
- Augusto Nunes
- Reinaldo Azevedo
- Conteudo Livre
- Indice anterior a 4 dezembro de 2005
- Google News
- INDICE ATUALIZADO
- INDICE ATE4 DEZEMBRO 2005
- Blog Noblat
- e-agora
- CLIPPING DE NOTICIAS
- truthout
- BLOG JOSIAS DE SOUZA