FOLHA DE S. PAULO
Será um trabalho de Hércules transformar Dilma em candidata popular. Mesmo assim, a oposição vai ter muitas dificuldades
A oposição vai ter uma difícil tarefa. Não será nada fácil vencer a eleição de outubro. A aliança política que dará sustentação à candidatura oficial vai de Paulo Maluf a José Rainha.
O grande capital vai se somar às centrais sindicais. Os especuladores estrangeiros estarão de mãos dadas com os dirigentes dos "movimentos sociais". O presidente Lula usará -como já está usando- a máquina oficial. Para ele, não será uma simples eleição: joga o seu futuro político. Se a sua preposta perder, ele dificilmente terá chances de voltar à Presidência em 2014.
É sabido que a ministra Dilma Rousseff é uma candidata politicamente pesada, sem jogo de cintura, com dificuldade de comunicação e inexperiente em campanhas eleitorais. Foi uma jogada arriscada de Lula. Ele tinha outras alternativas dentro do PT. A opção por Dilma foi para ter controle absoluto da campanha e de uma eventual Presidência.
A candidata é neófita no PT, não tem história no partido. Nos sete anos como ministra, não estabeleceu relações mais estreitas com o Congresso Nacional, muito menos com as principais lideranças partidárias. Basta consultar sua agenda em 2009.
Em Brasília, recebeu somente sete governadores e dois senadores. Até os ministros foram esquecidos. Em um ano, atendeu 19 dos 36 ministros, a maioria deles somente uma vez. As exceções foram Guido Mantega e principalmente Alfredo Nascimento, Márcio Fortes e Edison Lobão.
Será um trabalho de Hércules transformá-la em candidata popular. Um exemplo: a tentativa de fazer uma omelete no programa "Superpop" foi um desastre (aliás, vale destacar que o vídeo, em oito partes, com um total de mais de uma hora, está disponível no site da Casa Civil sem que possamos saber qual a relação da entrevista com a ação administrativa da ministra).
O discurso na convenção do PT desanimou até os mais entusiastas apoiadores da ministra.
Foi burocrático, modorrento, lido ao estilo dos dirigentes dos antigos PCs da Europa oriental, mesmo tendo uma plateia que desejava, a todo custo, aplaudir a candidata. Depois da convenção, entre os dirigentes do PT, ficou reforçada ainda mais a ideia de que a candidatura Ciro Gomes é um perigo, pois poderá suplantar Dilma rapidamente, após o início efetivo da campanha eleitoral, quando ela não poderá simplesmente ser a candidata de Lula.
Mesmo assim, a oposição vai ter muitas dificuldades. Terá de enfrentar -ainda que não diretamente- Lula, que é o presidente que melhor conseguiu se comunicar com o povo.
Nesse quesito Lula é um craque.
Adora cerimônias públicas e detesta o trabalho administrativo. Criou uma nova forma de a Presidência se relacionar com o país. E agradou os eleitores e os jornalistas (facilitando as manchetes do dia seguinte). Pela primeira vez (expressão tão ao seu gosto) vai ter de assistir, mas sem participar, de uma campanha eleitoral. Veremos se conseguirá.
A oposição deve estabelecer um programa político que aponte para as tarefas que o país terá de enfrentar na segunda década do século 21. Terá de dizer o que vai fazer com os programas assistenciais, como o Bolsa Família. Se é certo que o embrião do programa vem do governo anterior, foi o atual que expandiu o benefício. A candidata oficial certamente afirmará que a oposição quer extinguir o programa, que hoje tem entre seus beneficiários 13 milhões de famílias, representando quase 50 milhões de eleitores, cerca de 40% do eleitorado.
E que tipo de Estado deseja a oposição? O da revolução de 1930 ou outro que consiga dar conta dos desafios do século 21? Para o Nordeste, vai manter a transposição das águas do São Francisco, projeto que não enfrenta os problemas da região e só serve para favorecer as empreiteiras? Terá algum programa para a região, longe dos paradigmas do século 20, como foi a absurda recriação da Sudene? E para a Amazônia, o que propõe? Falará da defesa nacional? Vai apoiar a compra dos caríssimos aviões franceses? Concordará com a aquisição dos submarinos que não conseguem submergir? E os problemas das grandes cidades, a política econômica, a saúde, a segurança pública?
Não faltam problemas e críticas ao atual governo, mas o que a oposição precisa é mostrar para o eleitor que pode governar melhor que o PT. Deve explorar as contradições do bloco governamental, mostrar a fragilidade da candidata oficial, que está encoberta, momentaneamente, sob a proteção de Lula. Em suma: a oposição terá de ir para o enfrentamento, fazer política, sob o risco de desaparecer.
Entrevista:O Estado inteligente
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