23 de março de 2010 | 0h 00
O Estadao de S.Paulo
Os EUA e a China entraram em período de crescentes atritos econômicos, políticos e diplomáticos, antecipando uma rivalidade que, mais para a frente, poderá trazer de volta a bipolaridade nas relações internacionais. A relação com a China passou a ser um dos maiores desafios da política externa norte-americana.
A tensão entre as duas maiores economias globais - neste ano a China vai ultrapassar o Japão - é resultado da percepção de que os dois países cada vez mais terão de tomar a dianteira no equacionamento das questões globais. Daí uma atitude mais crítica da China em relação aos EUA e, da parte destes, um visível endurecimento. A venda de armas a Taiwan, o encontro de Barack Obama com o Dalai Lama, o apoio dado à Google contra a censura na internet, as medidas restritivas contra produtos chineses de exportação (aço, pneus) são exemplos recentes de atitudes norte-americanas. A China criticou duramente os EUA pela crise econômica e tem-se colocado contra as sanções ao Irã no Conselho de Segurança da ONU, além de ter suspendido a cooperação no campo militar e ter feito ameaças de retaliação contra empresas norte-americanas. Adicionalmente poderiam ser lembradas as divergências nas negociações comerciais da Rodada Doha e nas questões relacionadas com a cúpula de Copenhague, a ameaça de venda de títulos do Tesouro americano e as pressões do Congresso americano para a China ser classificada como país que manipula o câmbio, abrindo a porta para sanções comerciais pelos EUA.
A mudança de atitude norte-americana para com a China pode estar relacionada à frustração quanto aos rumos políticos na sociedade chinesa. O governo de Washington saudou a emergência da China como potência econômica global na expectativa, alimentada nos governo Clinton e Bush, de que o desenvolvimento econômico levaria necessariamente a uma abertura política. Para surpresa dos formuladores da política externa norte-americana, não é isso que está ocorrendo. Ao contrário, o regime está hoje mais fechado e mais intolerante.
Até aqui tem prevalecido o interesse recíproco que permite à China ampliar anualmente suas exportações para o mercado americano, sem restrições às violações de direitos humanos e ambientais praticadas por Pequim, e, de outro lado, aos EUA colocar seus títulos do Tesouro nas reservas chineses em níveis perigosamente elevados (pouco menos de US$ 1 trilhão).
Essa situação gera um desequilíbrio pouco saudável para a economia mundial. Seria importante que os EUA poupassem mais, gastassem menos e reduzissem a dívida de longo prazo. A China, por outro lado, deveria fazer ajustes num amplo elenco de políticas para reequilibrar sua economia e estimular a demanda doméstica.
De maneira pouco sutil, a China já fez saber que, se as tensões persistirem, poderão prejudicar o equilíbrio econômico entre os dois países. Os EUA ensaiam atitudes muito mais firmes, em especial na área comercial.
Não parece, no entanto, que, no atual momento, a situação esteja fugindo do controle e desembocando numa crise de graves proporções. Os atritos mais sérios, envolvendo questões políticas, econômicas e mesmo militares, ficarão para as próximas décadas, quando diminuir ou desaparecer a distância que ainda separa hoje, sob qualquer aspecto, as duas principais potências globais.
Enquanto esse cenário de fricções se descortina, o governo norte-americano procura acompanhar as grandes mudanças econômicas que estão ocorrendo na Ásia. China e Japão alteraram suas respectivas políticas contrárias à negociação de acordos de livre-comércio e já estão em processo de negociação de uma série de acordos com seus vizinhos asiáticos, que discriminarão contra as exportações via preferências tarifárias de empresas norte-americanas.
Como reconheceram o presidente Obama e, mais recentemente, o USTR, Ron Kirk, a mudança do eixo dos temas econômicos e comerciais do Atlântico para o Pacífico é uma das transformações globais mais importantes nas relações comerciais e internacionais.
A China, que ultrapassou a Alemanha em 2009, tornou-se o segundo país em termos de trocas comerciais. Na nova divisão de trabalho internacional, a China está se transformando no grande produtor mundial de bens industriais e no grande consumidor de produtos agrícolas, minerais e de metais.
Na celebração dos 20 anos da organização, durante a reunião da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (Apec), o governo norte-americano, apesar das diferenças político-diplomáticas, anunciou que iniciará negociações para o estabelecimento da Parceria Trans-Pacífico (PTP). O presidente Obama, nessa oportunidade, deixou dito que os EUA são um poder do Pacífico e que ele é o primeiro presidente norte-americano do Pacífico.
O representante comercial norte-americano, em dezembro, lançou negociações para um acordo de livre-comércio que ampliaria os mecanismos já existentes entre Nova Zelândia, Chile, Cingapura e Brunei (o chamado P-5) para incluir EUA, Austrália, Peru e Vietnã. Esse acordo, modelado a partir do Nafta (acordo comercial mantido com o Canadá e México), poderia ser gradualmente ampliado para incluir outros países asiáticos, formando o PTP.
Levando em conta a tendência restritiva do Congresso norte-americano em relação ao livre-comércio, não será fácil para o governo Obama conseguir a autorização para negociar um acordo que potencialmente poderia incluir países como Japão, China e Coreia.
A visão estratégica de médio e de longo prazos dos formuladores da política comercial externa norte-americana transcende considerações políticas e diplomáticas conjunturais e é um bom exemplo da conveniência de despolitizar as decisões de natureza comercial na defesa do melhor interesse do país.
PRESIDENTE DO CONSELHO DE COMÉRCIO EXTERIOR DA FIESP
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