Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, março 17, 2010

À beira do ridículo EDITORIAL de O GLOBO

17/03/10

A busca por maior protagonismo externo, seja por um projeto eleitoral e/ou personalista, tem exposto o presidente Lula a constrangimentos em suas viagens internacionais.

Isto se dá em função do apoio de seu governo a regimes de exceção.

E ainda ao fato de Lula dar chances ao azar, como agora, quando suas visitas coincidiram com momentos de grande tensão em Cuba e em Israel.

No primeiro caso, a chegada do presidente brasileiro a Havana coincidiu com a morte de um dos dissidentes em greve de fome. Como o regime cubano é compañero, Lula não só perdeu mais uma chance de advogar sua abertura como apoiou a ditadura castrista, comparando os dissidentes políticos, presos de consciência, a criminosos comuns, uma excrescência para quem de fato se bate pelos reais direitos humanos. A visita do presidente brasileiro a Israel e Palestina, em curso, ocorre em meio à maior crise em muito tempo entre o Estado judeu e seu maior aliado, os Estados Unidos. A causa foi Israel ter anunciado a construção de mais 1.600 casas para colonos em territórios ocupados, durante a visita ao país do vice-presidente americano, Joe Biden, o que fez abortar o reinício das conversações de paz com os palestinos, depois de enorme esforço diplomático dos EUA. O fato eliminou a possibilidade de Lula faturar qualquer distensão entre os dois lados.

O atual governo brasileiro é um dos poucos entre os de países de maior peso a ir contra a imposição de novas sanções da ONU ao Irã, a serem adotadas em função do caráter ambíguo do seu programa nuclear, que ameaça a estabilidade do Oriente Médio e do mundo. Foi nesse contexto que Lula chegou a Israel, com um discurso cheio de boas intenções em relação a mediar a paz com os palestinos. Mas começou mal, recusando um convite para depositar flores no túmulo do fundador do sionismo, Theodor Herzl, quando estava previsto que o fizesse no túmulo de Yasser Arafat — pesos e medidas diferentes. Isto motivou um boicote do chanceler israelense, Avigdor Lieberman, a toda a programação do presidente brasileiro. Na sessão do Knesset (parlamento), Lula sofreu um bombardeio do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, do presidente da Casa, Reuven Rivlin, e da líder da oposição, Tzipi Livni, por seu apoio ao Irã. Outra lição à comitiva brasileira: quem diz o que quer, ouve o que não quer. Da desastrada viagem resta a confirmação do erro de avaliação do governo do seu real peso para interferir em um jogo pesado, que se trava longe do seu alcance.

Assim, a diplomacia vira um gestual vazio, à beira do ridículo

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