O Estado de S. Paulo - 18/03/2010
A principal conclusão que se pode tirar da decisão do Copom, que manteve ontem a temporada de pausa na sua política de juros, é a de que o Banco Central está rachado tanto no diagnóstico da inflação como no que teria de ser feito para atacá-la.
A votação por 5 votos a 3 está dizendo que bastaria a mudança de voto de apenas um diretor do Copom para que a contagem terminasse empatada.
De todo o modo, prevaleceu o ponto de vista de que ainda não dá para avaliar a natureza da inflação que voltou a decolar. Há boas razões para apostar em que se trata de uma estocada episódica dos preços, devido a fatores sazonais, como reajustes na virada do ano ou do encarecimento de produtos agrícolas em consequência do excesso das chuvas deste verão e não de uma inflação provocada por uma demanda aquecida sem que a oferta da economia tenha condições de atendê-la.
O Banco Central está dizendo também que é preciso esperar até abril para mudar a política, se for o caso de mudá-la. O principal resultado desse adiamento é a de que um eventual combate à inflação terá de se concentrar no período pré-eleitoral e, ainda assim, o Banco Central pode enfrentar o risco de chegar às vésperas das eleições sem ter o serviço concluído.
Também ficará para abril a decisão final sobre a dosagem desse reforço. Os três votos dissidentes queriam para já uma estocada de meio ponto porcentual. Isso parece indicar que não há a opção pelo tratamento gradativo. Se a decisão for a de agir, ficou mais provável que a alta dos juros básicos (Selic) será de meio ponto porcentual. Ainda assim, ficará de pé o inconveniente de ter de prolongar demais o tratamento, o que não deixaria de ser fator de desconforto para um governo empenhado em eleger seus candidatos.
Pode parecer estranho que elementos do jogo político sejam evocados na análise da definição do patamar dos juros básicos. É possível que nenhuma consideração política propriamente dita tenha sido feita nessa hora pelos membros do Copom. Mas, ainda que esse passo seja decidido apenas por critérios técnicos, será inevitável levar em conta suas consequências políticas.
Até quem é contra o sistema de metas ou contra a maneira como tem sido aplicado no Brasil concorda em que a alta dos juros funciona. É como antigamente se dizia: o que arde cura. Dói, leva certo tempo para produzir efeitos (de seis a nove meses), mas contém a disparada dos preços. Em todo o caso, tanto a dor como a cura ficam para depois.
O crescimento econômico deste ano, projetado em alguma coisa em torno dos 6%, não será prejudicado. Mesmo se vier um aperto mais forte em abril, não há por que temer por certo impacto no emprego.
Provavelmente, no exterior, a manutenção dos juros será entendida como indicação de que um importante país emergente continuará a importar no ritmo em que importou até agora e, nessas condições, não deixará de contribuir para a retomada da atividade, numa economia mundial ainda convalescente.
No mais, nova alta dos juros não precisaria acontecer nem em abril se o governo Lula tivesse mantido a disciplina fiscal nos torniquetes de antes. Como soltou as despesas correntes (que crescem a 17% neste ano) sobrou para o Banco Central a tarefa ingrata de arrumar a casa.
CONFIRA
Comemoração - O ministro do Trabalho, Carlos Lupi, está festejando o recorde do aumento dos postos de trabalho em fevereiro, que foi de 209,4 mil vagas. E já anunciou que este vai ser o melhor março da história, também em aumento do emprego com registro em carteira.
Nada a contestar. O ministro tem toda a razão para comemorar. No entanto, esse ritmo do aumento do emprego não é sustentável. É apenas o resultado da disparada das despesas correntes do governo federal, ao ritmo de 17% ao ano, que não pode se repetir impunemente.
Entrevista:O Estado inteligente
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