O ESTADO DE SÃO PAULO - 26/03/10
Estou começando a achar que eu dou não dou sorte. Na primeira vez, por volta de um ano atrás, que critiquei, neste Espaço Aberto, a dona Dilma Rousseff, candidata do Partido dos Trabalhadores à Presidência da República, ela, segundo as pesquisas, contava com apenas 3% da preferência popular. Também não era para menos. Se Nosso Senhor a investiu de grandes predicados - como assevera o presidente Luiz Inácio Lula da Silva -, com certeza foi mais frugal nos encantos.
Passaram-se alguns meses e eis que dona Dilma abriu mão de algumas de suas arraigadas convicções feministas - em especial, aquela que prega que os cuidados de beleza femininos representariam uma subserviente e inaceitável concessão ao machismo.
Dona Dilma é surpreendente. Eis que, num certo dia, ela literalmente se transformou. Não chegou a ficar, por assim dizer, exatamente bela, é verdade, mas aproximou-se o possível disso: emagreceu visivelmente, passou por um "extreme makeover", notadamente no rosto, trocou os pesados óculos por lentes de contato, mudou o penteado - agora com o cabelo mais curto e tingido - e se apresentou, leve e brejeira, trajando roupas mais modernas, joviais e descontraídas. Deixou de parecer a vovó irascível que ninguém gostaria de ter. Passou a aparentar mais, digamos, algo como uma tia mais velha... que todos tolerariam possuir. Mas o mais importante é que, pela primeira vez desde que apareceu na vida pública, ela finalmente se dispôs a sorrir. No início, com uma certa dificuldade - afinal, passava a acionar músculos faciais que anteriormente jamais saíam da posição de repouso. Depois tomou gosto pela coisa: hoje ela se entrega a generosas risadas, até mesmo quando recebe notícias tristes.
Dona Dilma é uma mulher que tem método, autodisciplina e obstinação. São qualidades essenciais para uma eficiente guerrilheira; são também atributos que ela entende como indispensáveis a uma pleiteante à Presidência do País.
O fato é que dona Dilma, antes sempre gelada, austera e reservada, de repente mudou. Hoje, esforçadamente, ela se mistura no meio da massa popular, troca beijos, cumprimenta várias vezes as mesmas pessoas - e há quem jure que a viu abraçar até poste...
"Tudo pelo povo, tudo para o povo - mas precisa ser tudo com o povo?", certamente há de pensar consigo mesma. "Paciência. Depois de eleita, mando cercar o palácio com um fosso de jacarés...", talvez pondere.
Pois essa é a nova dona Dilma - que, se eleita, previsivelmente há de implantar no Brasil um governo esquerdista de cunho populista e autoritário.
Para enfrentá-la já se apresentaram a verde Marina Silva, o incansável Ciro Gomes e o ex-mal-humorado José Serra.
É praticamente impossível antecipar o que acontecerá durante uma campanha política presidencial. Mal comparando, trata-se de um evento que guarda alguma semelhança com uma corrida de Fórmula 1. Os concorrentes são todos extremamente talentosos e bem preparados; suas equipes são compostas pelos melhores e mais experimentados especialistas do ramo. Recursos não faltam para incrementar o desempenho. Tudo é minuciosamente visto e revisto para que não ocorra nenhuma surpresa desagradável depois que for dada a largada. Os disputantes sabem, de antemão, que qualquer erro ou falha poderá ser fatal. E para que tal não ocorra assistem a vídeos para avaliar os acertos e erros dos demais concorrentes.
Ninguém pode falhar. Uma frase ou expressão infeliz ou mal colocada será, com certeza enfatizada e explorada pelos adversários e tem potencial, no limite, de inviabilizar uma promissora candidatura.
Quais são os prognósticos? Isso é mais difícil do que fazer previsões meteorológicas.
Com base nos resultados das eleições presidenciais anteriores, levando-se em conta a extraordinária popularidade alcançada pelo presidente Lula, computando a seu favor os programas sociais de grande apelo eleitoral - como é o caso do Bolsa-Família - e também as habilidades e limitações de cada um dos candidatos, pode-se prever - ceteris paribus - o seguinte.
Se concorrerem, Marina Silva e Ciro Gomes alcançarão, no máximo, 10% dos votos cada um. Marina tira votos que seriam destinados a Dilma Rousseff e Ciro desvia votos que seriam, preferencialmente, de José Serra.
Se haverá segundo turno ou não, isso vai depender da continuação, na disputa, desses dois candidatos citados.
José Serra terá, com certeza, votação maior que a de Dilma nos Estados de São Paulo, Paraná, Mato Grosso do Sul, Goiás e Santa Catarina. Dilma, é certo, será mais votada do que Serra em todos os Estados das Regiões Norte e Nordeste e na maior parte da Centro-Oeste.
O Rio Grande do Sul e o Rio de Janeiro deverão ficar com Dilma; Minas Gerais e Espírito Santo representam as incógnitas no processo. Se Aécio Neves não for constrangido pelo PSDB a ser candidato a vice-presidente na chapa de Serra, o mais provável é que deixe a campanha presidencial correr, em Minas, espontaneamente. Suas maiores preocupações, no momento são eleger-se senador com votação inédita e eleger o seu atual vice, Antonio Augusto Anastasia, para o governo mineiro.
Aécio mantém boas relações tanto com o tucanato como com Lula, Dilma e o PT. Aos 50 anos de idade, ainda lhe restam, teoricamente, 20 anos para poder disputar a Presidência com chances de vitória. Por que haveria de pôr todo esse cacife a perder agora? Por amor a Serra? É improvável...
É assim que se apresentam os candidatos, agora. Boa sorte para o Brasil.
Dilma, não! O que você acha da Dilma presidente
Entrevista:O Estado inteligente
- Índice atual:www.indicedeartigosetc.blogspot.com.br/
- INDICE ANTERIOR a Setembro 28, 2008
Arquivo do blog
-
▼
2010
(1998)
-
▼
março
(253)
- Celso Ming -Virada do trimestre
- ALEXANDRE SCHWARTSMAN Síndrome da China
- DORA KRAMER Falha da gerência
- MERVAL PEREIRA Palanques abalados
- MÍRIAM LEITÃO BC estatal
- JOSÉ NÊUMANNE Os maus conselhos que as pesquisas dão
- RUY CASTRO Olhos de Armando
- Celso Ming - Dilma, Eike e os irmãos PAC
- MERVAL PEREIRA A boca do jacaré
- DORA KRAMER Ainda falta o principal
- FERNANDO DE BARROS E SILVA Fora, Suplicy!
- O apagão de Lula
- Miram Leitão Peça de marketing
- Fora de controle-Ricardo Noblat
- Carlos Alberto Sardenberg -Alguém vai se decepcionar
- Denis Lerrer Rosenfield -O espírito do capitalismo
- SANDRA CAVALCANTI Gracinhas típicas de marionetes
- Fernando RodriguesO PT no Sudeste
- AUGUSTO NUNES A LIÇÃO DE UM PAÍS CIVILIZADO AO GRO...
- DANUZA LEÃO Adultério consentido
- VINICIUS TORRES FREIRE A China está soprando bol...
- MERVAL PEREIRA - O exemplo de Lula
- JOÃO UBALDO RIBEIRO Um certo cansaço
- Míriam Leitão Hora do futuro
- Dora Kramer -Um País de todos
- Celso Ming - A fragilidade do euro
- Gaudêncio Torquato Malabaristas no picadeiro
- Suely Caldas A pobreza em foco 2
- Ferreira GullarA cara do cara
- Merval Pereira Cartão de advertência
- FH: 'É inédito na História republicana'
- NELSON MOTTA Sonho de uns, pesadelo de outros
- Reinaldo Azevedo O AI-13 dos militontos
- MÍRIAM LEITÃO Felizes, separados
- Gilmar Mendes EDITORIAL da FOLHA
- Celso Ming - Curto-circuito
- Ruy Castro -Deixadas no passado
- Dora Kramer - Mudança de rumo
- Fernando Rodrigues -O "X" não aconteceu
- Serra mostra fôlego Fernando de Barros e Silva
- Mauro Chaves Duro é escapar de vizinhos
- A fraqueza do Estado Celso Ming
- Não vai dar para todo mundo:: Vinicius Torres Freire
- Horror à política:: Fernando de Barros e Silva
- JOÃO MELLÃO NETO Quem vai ser presidente?
- MERVAL PEREIRA Fio tênue
- DORA KRAMER Propaganda enganosa
- RUY CASTRO Rio estilo Projac
- MÍRIAM LEITÃO Ata dos derrotados
- CARLOS ALBERTO SARDENBERG Os dilemas do clima
- Devaneio autocrático
- MIRIAM LEITÃO - Gregos e portugueses
- As greves contra Serra
- Celso Ming Portugal segue a Grécia
- MERVAL PEREIRA Mineiridades
- DORA KRAMER Elogio ao delito
- Adriano Pires-O que Começa Errado Acaba mais Errado
- PAULO RABELLO DE CASTRO O Rio vai à guerra pelo ...
- VINICIUS TORRES FREIRE O índice luliano de alegria
- Demóstenes Torres - O Brasil precisa dizer não
- Partido de programa Fernando de Barros e Silva
- MERVAL PEREIRA O petróleo na política
- DORA KRAMER Politiquinha
- MÔNICA BERGAMO Alberto Goldman, senhor governador
- Celso MingCompre já, pague depois
- Miram Leitão No silêncio da lei
- A internacionalização da economia brasileira
- Rubens Barbosa - Parceria Trans-Pacífico
- DORA KRAMER Conflito de interesses
- MERVAL PEREIRA A mudança chegou
- Vinicius Torres Freire A "herança maldita" de Lula
- Celso Ming Aumenta o rombo
- Míriam Leitão Novo fôlego
- :Lições das Damas de Branco-Mary Zaidan
- Patuscada Internacional Roberto Freire
- Os nanicos Fernando Rodrigues
- Um quixote no PT Fernando de Barros e Silva
- Enquanto é tempo Alon Feuerwerker
- CARLOS ALBERTO SARDENBERG AS TAREFAS DE LULA
- KÁTIA ABREU Verdade ambientalista versus fundamen...
- CARLOS ALBERTO DI FRANCO Máquina de corrupção
- CELSO MING - A alcachofra
- EDITORIAL - O GLOBO Corrida na internet
- JOÃO UBALDO RIBEIRO Aperfeiçoando a Receita
- FERREIRA GULLAR A pouca realidade 2
- MARIANO GRONDONA ¿Cómo evitar la anarquía sin reca...
- JOAQUÍN MORALES SOLÁ ¿Un gobierno en manos de la ...
- GAUDÊNCIO TORQUATO Fechando as cortinas do palco
- DANUZA LEÃO Passeata chocha
- MERVAL PEREIRA Crise no FMI
- DORA KRAMER Bicos calados
- SUELY CALDAS A pobreza em foco
- Celso Ming -Tempo para conserto
- DORA KRAMER Para o que der e vier
- MERVAL PEREIRA O preço político
- Miriam Leitão Juros do dilema
- A ''verdade coletiva'' de Lula: Roberto Romano
- FHC exalta democracia de Nabuco
- O blefe de Lula:: Villas-Bôas Corrêa
- Viagem à Petra-Maria Helena Rubinato
-
▼
março
(253)
- Blog do Lampreia
- Caio Blinder
- Adriano Pires
- Democracia Politica e novo reformismo
- Blog do VILLA
- Augusto Nunes
- Reinaldo Azevedo
- Conteudo Livre
- Indice anterior a 4 dezembro de 2005
- Google News
- INDICE ATUALIZADO
- INDICE ATE4 DEZEMBRO 2005
- Blog Noblat
- e-agora
- CLIPPING DE NOTICIAS
- truthout
- BLOG JOSIAS DE SOUZA