Renato Andrade, Brasília
O ESTADO DE S. PAULO
Não é uma pessoa ou governo que fazem Nação, diz Da tribuna do Senado, adotando um discurso diplomático, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso cobrou ontem dos políticos "mais decência, frugalidade e simplicidade". O ex-presidente, no entanto, evitou comentar a atual crise do Congresso, ao afirmar que "em casa de enforcado, não se fala em corda." Numa referência ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, FHC afirmou que "não são uma pessoa e um governo" que constroem uma nação. Acrescentou que as nações são construídas com memória, história e, "fundamentalmente, com instituições." As frases de FHC se contrapuseram à expressão "nunca antes neste País", usada por Lula, para falar das políticas do seu governo. FHC contou a história do Plano Real e atribuiu o trabalho à "democracia", que teve na construção a "tolerância (de Sarney) no Congresso e no Planalto". Sem citar nominalmente o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), FHC disse que a discussão de "detalhes constrangedores" tomou o lugar do debate de ideias dentro do Parlamento brasileiro. "O Congresso ficou menos ativo e quando fica menos ativo as questões que não deveriam ser as mais importantes se tornam mais importantes", disse FHC, após participar de comemoração aos 15 anos do Plano Real. Logo ao chegar ao Congresso, Fernando Henrique disse que não faria comentários sobre a crise que envolve diretamente Sarney, acusado de patrocinar uma série de atos secretos e o emprego de parentes em diferentes cargos dentro do Senado. "Em casa de enforcado, não se fala em corda", afirmou, então, o ex-presidente, antes de ser recebido por Sarney no gabinete da presidência do Senado. Sarney, que esteve durante toda a solenidade ao lado de Fernando Henrique, não fez comentários, limitando-se apenas a parabenizar os idealizadores e condutores políticos da implementação do plano econômico que encerrou um longo período de inflação no País a partir de 1994. As críticas de FHC sobre a falta de atividade dentro do Congresso não se limitaram aos parlamentares. Para o ex-presidente, boa parte do problema decorre da falta de uma agenda por parte do Poder Executivo. "Num sistema presidencialista, o Congresso funciona quando o Executivo tem uma agenda. Quando o Executivo não tem uma agenda, não quer reformas, o Congresso fica menos ativo", disse. No fim de semana, em entrevista à revista Veja, o senador Tião Viana (PT-AC) já havia tratado do desgaste que o governo do presidente Lula impõe ao Legislativo. Depois de admitir que o governo se relaciona com a Câmara à base do "fisiologismo", Viana acrescentou que "Lula nada fez para evitar a desconstrução e a perda de autoridade moral do Congresso". "Os partidos estão mais fracos e deteriorados do que antes da sua posse. E é papel do chefe de Estado fazer com que as instituições como o Parlamento sejam vigorosas", afirmou o parlamentar.
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