De alto a baixo
Um estudo da Universidade Stanford reforça
o papel da finasterida, comumente usada contra
a calvície, na prevenção ao câncer de próstata
Naiara Magalhães
Ricardo Benichio |
MAIS SEGURANÇA Depois de cinco biópsias, o aposentado Paulo Lins passou a tomar o remédio preventivamente |
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O papel da finasterida na prevenção aos tumores prostáticos começou a ser avaliado em 1993, em uma pesquisa intitulada PCPT, sigla em inglês para Prostate Cancer Prevention Trial. Durante sete anos, foram acompanhados 18 882 homens com mais de 55 anos. Ao revisarem os resultados do PCPT, os pesquisadores de Stanford corroboraram a ação preventiva do remédio. Além disso, eles concluíram que, ao reduzir o tamanho da próstata em até um quarto, o medicamento favoreceria o diagnóstico da doença. Próstatas menores são mais adequadas à coleta de tecido para biópsia e também proporcionam uma medição mais precisa das taxas de PSA, a proteína que, presente em grande quantidade no sangue, pode indicar a presença de câncer.
A finasterida age inibindo a produção pelo organismo de DHT, a forma ativa da testosterona, o hormônio masculino por excelência. A DHT é essencial para o crescimento das células da próstata, tanto as saudáveis quanto as tumorais. Como os principais efeitos colaterais da finasterida são perda de libido e ereções menos potentes, o remédio só é indicado para homens com mais de 55 anos e com histórico familiar da doença. "Ainda que essas reações adversas possam ser revertidas com a suspensão da medicação, a relação custo-benefício do uso preventivo da finasterida deve ser muito bem avaliada pelos médicos e seus pacientes", diz o urologista Celso Gromatzky, do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. Com as taxas de PSA nas alturas, o aposentado Paulo Lins, de 74 anos, foi submetido a cinco biópsias nos últimos dez anos. Nenhuma delas indicou a presença de um tumor, mas ele achou por bem aceitar a sugestão do médico e tomar finasterida. "Agora me sinto mais protegido", diz Lins.
Lançada em 1992, sob o nome comercial de Proscar, a finasterida era indicada inicialmente apenas para o tratamento dos homens vítimas das complicações decorrentes do aumento benigno da próstata, sobretudo dificuldade em urinar. Depois que o medicamento começou a ser utilizado, os pesquisadores perceberam não só que os pacientes calvos que tomavam o remédio para a próstata paravam de perder cabelo como os fios novos nasciam mais resistentes. Em 1998, a finasterida chegou ao mercado batizada de Propecia. No ano passado, no Brasil, foi comercializado cerca de 1,7 milhão de caixas de finasterida. A dosagem prescrita para combater a perda de cabelo – 1 miligrama por dia – é bem mais baixa do que a utilizada para evitar o câncer de próstata: 5 miligramas diários.